Quando era pequeno, meu pai costumava dizer: quando ouço Bach, me sinto mais próximo a Deus. Eu, por ser muito pequeno, apenas ria e achava graça da afirmação contraditória.
Cresci. Também ouço Bach e também me sinto próximo a Deus, apesar de ser ateu. Em três dias nunca estive tão longe e tão próximo de Deus. Momentos após o terremoto, uma das coisas que mais desejei foi um geólogo ou qualquer um que pudesse me tranquilizar dizendo que aquele tremor havia sido o mais forte. No momento em que escrevo este texto, no entanto, nunca me senti tão próximo a Deus. Os cânticos das senhoras na porta de nossa casa me arrepiam até os ossos. É difícil entender porque agradecer diante de tanta destruição, mas não é difícil perceber que estas cantorias fazem parte da solidariedade e da cooperação dos haitianos, que transformam qualquer ajuda internacional, ainda inexistente, em mera figurante. Que povo impressionante. Otávio Calegari Blog produzido por alunos da Unicamp que estão no Haiti.
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