Dez anos de Seattle e dez anos do primeiro Fórum Social Mundial. Como fazer um balanço dessa década? Não tem sentido fazer um balanço do FSM. Ele nasceu para a luta de resistência ao neoliberalismo e pela construção de um outro mundo possível, um mundo antineoliberal. O FSM tem sua história interna, mas o seu sentido tem que se referir ao objetivo para o qual ele foi criado: a superação do neoliberalismo.
Quando começamos a organizar o primeiro FSM, a hegemonia neoliberal parecia consolidada. A passagem da dupla de mandatários que tinham personificado inicialmente esse modelo – Regan/Tatcher, para seus sucessores – Clinton/Blair – parecia confirmar a solidez do Consenso de Washington. Mudavam as forças políticas, o modelo se mantinha. Na América Latina também, apenas Hugo Chávez e Cuba destoavam. O neoliberalismo agregava presidentes aparentemente distintos, como Fujimori, FHC, Carlos Menem, Carlos Andrés Pérez.
A luta era de resistência, protagonizada centralmente por movimentos sociais. Mas aquele sintoma inicial – o governo de Hugo Chávez – era a ponta do iceberg que logo revelaria seu potencial pela multiplicação de governs eleitos pela rejeição do neoliberalismo. Enquanto se reproduziam os FSMs, um novo cenário político passou a caracterizar a primeira década deste século. Com o esgotamento do modelo – expresso nas crises do México de 1994, do Brasil de 1999 e da Argentina de 2001-02 -, se saiu da fase de resistência à de disputa de alternativas. Os movimentos que não se deram conta dessa mudança e mantiveram a teoria da “autonomia dos movimentos sociais”, adaptada para a resistência, praticamente desapareceram da cena política.
Foram se constituindo governos – cujos representantes estavam no FSM de Belém. O balanço é o dos avanços, dos problemas, dos desafios da construção do “outro mundo possível” e não simplesmente do FSM.