Editorial ed. 384
Brasil de Fato
Ano de Copa do Mundo é também ano de eleições em nosso país. São disputas que mobilizam o povo, carregam expectativas e sonhos, porque tocam a vida dos milhões de brasileiros. No campeonato de seleções de futebol, os brasileiros fazem verdadeiro mutirão passivo para torcer pelo Brasil. Já as eleições, normalmente ensejam engajamento, mobilização e uma tomada de posição ativa. Enquanto o resultado da primeira pode nos alegrar ou entristecer, as eleições podem mudar a vida da população para melhor ou para pior. Além disso, desde a redemocratização, é a primeira vez que Luiz Inácio Lula da Silva não será candidato. A partir de 1989, a eleição de Lula foi fator de unidade da esquerda, sobretudo antes de 2002.
Unidade da direta
Boas análises de setores populares sobre as forças da esquerda podem deixar de lado a conjuntura do campo inimigo, das forças anti-populares, do grande capital e do imperialismo. Por exemplo, a direita está unificada na candidatura do tucano José Serra e se prepara para as eleições. A ação de Aécio Neves, que criou uma fissura com Serra, aponta que o mineiro almeja o Planalto para 2014 e constrói a sua caminhada.
A candidatura de Serra ruma com passos tortuosos e atrapalhados e, apesar disso, a direita neoliberal, alinhada ao imperialismo capitaneado pelos Estados Unidos, quer voltar ao Planalto. Por isso, vão lutar até o fim e lançarão mão do que existe de pior na política brasileira. O orçamento “oficial” é assustador: R$ 180 milhões.
Fragmentação da esquerda
Embora em um momento delicado – em que os setores populares não só apresentam diversas candidaturas – não resta dúvidas quanto ao necessário enfrentamento ao que representa a campanha tucana. Por mais que as três candidaturas mais bem posicionadas nas pesquisas, Dilma, Serra e Marina, sejam semelhantes na medida em que não enfrentam os problemas estruturais do país com medidas que coloquem limites ao avanço do grande capital, não há que se duvidar do grau de retrocesso que representa a vitória do PSDB.
Copa do Mundo
A Copa do Mundo 2010 acaba para o Brasil. A seleção brasileira comandada pelo Dunga se despediu da África do Sul ao ser derrotada pela Holanda. É verdade que muitas são as lições a serem tiradas dessa eliminação e de todo o processo dos que comandam o futebol brasileiro. Na derrota, cabe, inclusive, uma boa análise de todo esse ufanismo da chamada grande mídia e das grandes empresas nacionais e transnacionais que lucram com esse evento, considerado o maior espetáculo mundial do futebol. Assim, durante quase um mês, o Brasil viveu apenas do “planeta bola”.
Na derrota brasileira, somada com aos fiascos de França, Itália e Inglaterra, seria maravilhoso se a opinião pública mundial atentasse para o poder onipotente das federações nacionais de futebol e da própria Federação Internacional de Futebol (Fifa), uma verdadeira máfia que impõe exigências aos governos nacionais e não se submete a nenhum mecanismo democrático de fiscalização e controle público.
Em 2014, o próximo Mundial da Fifa será realizado no Brasil. Essa máfia está preparada, em conluio com a máfia nacional (leia-se CBF), para sugar daqui uma gigantesca soma de riqueza produzida pelo povo brasileiro. Como condição, imporão a necessidade de construir novos estádios e uma infraestrutura de transportes e hospedagens desassociadas das necessidades da população – criandodores, aumentando os lucros das transnacionais, às custos do povo brasileiro. Ambiente propício para proliferar a corrupção.
O fato é que, agora, esperamos que o país se volte para sua realidade, que está muito além apenas do futebol e da Copa do Mundo. Ou seja, passada a Copa, é hora do país encarar seus graves problemas.
Em 2010, além da Copa, é o ano das eleições para cargos importantíssimos em nosso país, como o de presidente da República, o Congresso Nacional, governos estaduais e Assembleias Legislativas. Sinalizamos, com essas eleições, o percurso que queremos percorrer para construir o futuro do nosso país. As eleições são importantes. Mas não são determinantes. Nenhum eleitor estará dando um cheque em branco ao seu candidato. Ao contrário, caberá ao eleitor exigir dos seus representantes eleitos o cumprimento das promessas feitas nos
períodos eleitorais. Isso somente será possível com um maior nível de conscientização política, organização e lutas populares. Caso contrário, prevalecerá, sempre, o poder do capital.
Desafios
Precisamos estar atentos à este processo eleitoral. Mesmo que no atual processo eleitoral não exista realmente disputa de projetos e que os verdadeiros problemas do povo não entrem na pauta dos principais candidatos. A ausência desses debates se deve, em grande parte, à da mídia burguesa que é partidária e esforça-se para escamotear as causas dos problemas que afetam o povo brasileiro. Mais do que isso, buscam criminalizar as organizações populares, os movimentos sociais e todos os que se contrapõem aos seus interesses e objetivos.
Há, nesse país, desde a eleição de Lula, em 2002, uma complexidade política ainda indecifrável para as forças de esquerda e progressistas. A evidência maior dessa realidade é exatamente a fragmentação com que a esquerda enfrentará próxima eleição. Isso, somente será superado num próximo ascenso das lutas sociais. Portanto, caberá aos movimentos sociais continuar trabalhando na formação política, na organização de base e na mobilização popular. Somente assim, asseguraremos conquistas significativas e duradouras ao povo brasileiro.