Reuters. O cineasta Spike Lee vai a Nova Orleans para rodar um documentário sobre o choque entre raça e política após a passagem do furacão Katrina pela região. O diretor diz que vai usar “jornalismo factual, e não narrativa ficcional” no olhar que pretende lançar sobre o Katrina e Nova Orleans, transformada em ponto de união de ativistas políticos negros e teóricos da conspiração. Em meio a críticas de que o governo do presidente norte-americano, George W. Bush, demorou a reagir ao furacão (deixando milhares de negros e pobres ilhados em meio à violência, numa situação em que não havia lei nem ordem), o líder da Nação do Islã, Louis Farrakhan, sugeriu que os diques de Nova Orleans teriam sido rompidos como meio “de livrar-se dos pobres.”

O ativista Jesse Jackson comparou o centro de convenções de Nova Orleans, onde se reuniram pessoas que fugiram da inundação, ao “porão de um navio negreiro”. Em entrevista à Reuters, Spike Lee comentou: “Quando se trata do governo dos EUA e as pessoas de cor, não excluo nenhuma possibilidade. Há história demais… que vêm desde o incidente em que o Exército norte-americano deu a indígenas cobertores contaminados com varíola”.

Spike Lee comparou a situação de Nova Orleans com o filme “Chinatown”, de 1974, que começa como uma simples história policial ambientada em Los Angeles em 1933, mas acaba se transformando numa história sobre corrupção e cobiça em altos escalões. “Pensei automaticamente em Chinatown, esse grande filme de Roman Polanski. A subtrama do filme gira em torno do fornecimento de água no sul da Califórnia, como ela não era fornecida às pessoas que precisavam dela.”

O documentário de Spike Lee será produzido pelo canal a cabo HBO, da Time Warner, e ele quer que o filme fique pronto para o primeiro aniversário da passagem do Katrina. Realizador de 18 filmes em mais de duas décadas, Lee sempre tratou de temas polêmicos como brutalidade policial, racismo, nacionalismo, negro e sexo entre pessoas de raças diferentes.