30/07/2010 |
Sérgio Nobre
Portal da CUT

A exemplo de 1° de janeiro de 2003, quando de forma pioneira um operário
assumiu a Presidência da República, 6 de agosto de 2010 entrará para a
história da classe trabalhadora com a estreia da primeira emissora de
televisão dos trabalhadores, a TVT.

A conquista foi suada e repleta de percalços. Foram necessárias mais de duas
décadas de luta contra interesses políticos, burocracia e muito preconceito
até que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC obtivesse essa vitória sem
precedentes, que abre um novo espaço para que outras categorias e movimentos
sociais possam se expressar.

O ponto de partida e de chegada dessa conquista tem o mesmo nome: Luiz Inácio
Lula da Silva. Em 1987, como deputados constituintes, Lula e Vicentinho
(presidente do Sindicato à época), fizeram o primeiro pedido oficial de
concessão de uma emissora de TV ao então ministro Antonio Carlos Magalhães.
Em 2005, já presidente da República, Lula assinava o decreto de outorga do
canal 46 UHF para a Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho, da
qual o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC é legalmente instituidor e
mantenedor.

Vencidas essas etapas, a TVT passa a existir e a ser, além de uma nova
alternativa de canal educativo, importante marco no urgente processo de
democratização dos meios de comunicação no Brasil. Torna-se vanguarda em um
País cuja mídia está sob o domínio histórico de meia dúzia de grupos
familiares vinculados a elites políticas, que se recusam a reconhecer a
importância dos movimentos sindicais e sociais na construção da democracia.

O momento é de comemoração, porém temos consciência de que apenas iniciamos
uma longa jornada rumo à consolidação do nosso projeto de comunicação e do
desafio de disputar a preferência da audiência no ‘País das Novelas.

A TVT começa com uma programação enxuta, mas consistente e arrojada, que
garantirá vez e voz à classe trabalhadora e aos movimentos sociais. Emissora
educativa, não exibirá novelas, seriados ou reality show. Com criatividade,
buscará o dialogo e a interlocução dos trabalhadores, por meio de linguagem e
signos que eles entendem, querem e precisam ver e ouvir.

Sabemos que muitos olhos estarão voltados à TVT. Parte deles não torcerá
pelo sucesso da emissora, como prova a avalanche de críticas, opiniões e
repercussões negativas que sucederam o anúncio do decreto da concessão, em
2009. Torcida contrária que abusou da ignorância e do preconceito e que
suscita a seguinte questão: por que os trabalhadores, representados por um
sindicato legítimo e combativo, não podem ter uma emissora de televisão?

Não seriam o sindicato e os trabalhadores tão dignos de um canal quanto o são
as poderosas e lucrativas redes Globo, Bandeirantes, Record, SBT, Rede TV?
Juntas, elas somam 927 emissoras de televisão, número que extrapola o limite
legal fixado pelo Decreto Lei nº 236/67, segundo publicações especializadas.
Escoradas em brechas e ambigüidades legais, essas redes monopolizam os meios de
comunicação no País, apesar de a Constituição Brasileira, em seu Parágrafo
5º do Artigo 220, determinar o contrário.

Os trabalhadores não têm direito a uma emissora de TV, quando é fato público
que, no Brasil, mais de duas centenas de políticos são, ilegalmente, sócios
ou diretores de 300 veículos de comunicação?
Buscamos a nossa TV de forma incansável durante 23 anos, busca potencializada e
priorizada a partir de 2008, pela atual direção do Sindicato. Participamos de
quatro concorrências de concessão de radiodifusão e fomos preteridos em
todas, apesar de o Sindicato e a Fundação terem cumprido, sem exceção, os
requisitos exigidos por lei.

O Sindicato representa 100 mil trabalhadores de uma das regiões mais produtivas
e importantes do Brasil e da América Latina. Temos, portanto, o direito
legítimo e legal a uma emissora de televisão, reivindicação histórica de
uma categoria que foi referendada em sucessivos congressos. Por isso, as
especulações e críticas políticas que se formaram por conta de o canal ter
sido concedido durante o governo de um presidente operário só escancaram o
preconceito contra a classe trabalhadora no Brasil.

Informação é cultura, é história, é educação. Informação deve combater
e derrubar preconceitos. E televisão é, também, informação. A Rede TVT
será um canal de informação, cultura, educação e história do trabalhador e
para o trabalhador, de forma realmente democrática.