6 e Meia do NPC: trocando ideias sobre a Comunicação Sindical
O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 06 de maio de 2021.
Uma luta em defesa da vida
[Por Fabiana Batista*] O trabalho dos petroleiros é, em boa parte, embarcado em plataformas no período máximo, segundo a Lei nº 5.811/72, de quinze dias. Entretanto, durante a pandemia, esta não é a realidade. Segundo Fernanda Viseu, jornalista do Sindipetro-Norte Fluminense (RJ), os trabalhadores excedem este tempo e não estão sendo testados antes de embarcar. Diante disso, já são mais de sete mil contaminados, e destes, “a Petrobras omite dados sobre os terceirizados, que são os mais expostos”, explica a jornalista.
Além de Fernanda, Alessandra Murteira, jornalista da Federação Única dos Petroleiros [FUP] e Manuela Moraes, do sindicato dos Petroleiros de São José dos Campos (SP) participaram do nono programa, a Comunicação Sindical no Setor do Petróleo, do Seis e Meia no NPC e nos contam um pouco o que cada equipe de comunicação tem feito para, além de se comunicar com a base petroleira em meio a pandemia, denunciar os desmontes e tentativas de privatização da Petrobras, que, segundo elas, vai prejudicar, ainda mais, a vida do trabalhador, seja ele petroleiro ou o brasileiro que tem vivido a alta nos preços.
Comunicação da FUP
Quando Alessandra começou a trabalhar como jornalista sindical, as mídias online não existiam e o e-mail era uma ferramenta muito rara. Em 2000 Fax era o mais utilizado, onde, inclusive, os boletins da FUP eram distribuídos. Hoje os desafios são outros: “Agora eu me vejo tendo que estudar, além dos conteúdos necessários para me engajar, as novas linguagens de comunicação”.
O site é o principal veículo de comunicação da FUP, que na pandemia se fortaleceu ainda mais. É lá que as matérias sobre as lutas dos petroleiros e as principais notícias da categoria são divulgadas. Durante a pandemia, Alessandra explica que outros meios de comunicação também são explorados. O WhatsApp, por exemplo, torna o diálogo entre sindicato e base mais estreito. Já as lives, como um programa de quinta-feira às 10h, um espaço ao qual o apresentador Paulo Cezar, diretor da FUP, e convidados batem um papo sobre previdência, são formas de interagir sobre assuntos mais longos.
Para Alessandra, essa nova forma de fazer comunicação veio para ficar: “A pandemia impactou tanto a nós como aos outros setores dos sindicatos, pois eles perderam o contato no dia a dia do trabalhador”.
Petroleiros de São José dos Campos [SP]
“Sempre quis fazer uma comunicação engajada. Ter conhecido, ainda na faculdade, o trabalho do Vito [Giannotti] foi essencial. Aquele livrinho sobre imprensa operária e sindical me ajudou a decidir o que eu realmente queria”, explica Manuela. A jornalista conheceu São José dos Campos [SP] durante a desocupação de Pinheirinhos, na época universitária de Bauru. Depois de passar pelo sindicato dos Metalúrgicos, já na cidade, também como jornalista, atualmente trabalha, cheia de compromissos com a classe e sua causa, com os petroleiros.
A pandemia, assim como em outros sindicatos, impactou a equipe de Manuela, que precisou transformar o jornal impresso “Tocha” em um PDF para distribuição on-line. Além disso, o número de acessos do site aumentou e ela viu necessário mudar seu formato. Matérias com textos mais aprofundados e que relembravam notícias anteriores, se adaptou a conteúdos mais rápidos e textos curtos. “Eu sou defensora dos textos curtos, e para não perdermos conteúdo trabalhamos com hiperlinks e cruzamento de informações em outras plataformas”.
Sendo assim, além do jornal, das redes sociais e do site, o sindicato também abriu alguns grupos de WhatsApp e tem um Podcast. Diferentemente de outros usos do WhatsApp, a equipe de Manuela criou salas nas quais apenas os administradores podem enviar conteúdos. “Essa é uma forma rápida de divulgar as notícias. Por exemplo, depois de uma reunião, o sindicato pode enviar um áudio com as resoluções para que toda a categoria distribua em sua lista de contatos”.
Petroleiros do Norte-Fluminense [RJ]
Engajada, Fernanda se envolveu com a militância na universidade quando participou do movimento estudantil e se aproximou do sindicato dos jornalistas. “Com o tempo percebi que queria fazer uma comunicação para a classe trabalhadora”. A jornalista saiu da faculdade e seu primeiro trabalho foi na Associação dos Servidores do PRODERJ, onde trabalhou durante oito anos.
Depois de passar pelo sindicato dos metalúrgicos, bancários entre outros, em 1997, apaixonada pela luta dos petroleiros, fez um concurso e começou a trabalhar onde está há 23 anos. Para ela, a comunicação sindical é, assim como a empresarial ou esportiva, uma área especializada do jornalismo, que tem linguagem e necessidades próprias.
Em relação a pandemia, segundo a jornalista o que mais impactou a comunicação do sindicato foram os jornais. O jornal “Nascente” parou de circular impresso, em 2020, e passou a ser virtual, mas atualmente sua impressão é enviada, via correios, para a casa dos trabalhadores. Assim como no caso das colegas, o site ganhou uma crescente nos acessos e apostou-se na comunicação via lives. Além do Whatsapp, o Telegram é outro meio direto de comunicação com a categoria.
Comunicação e a privatização da Petrobras
A comunicação interna é muito importante, mas devido às ameaças de privatização da Petrobras, é cada vez mais fundamental que as equipes voltem seu trabalho para uma comunicação com a sociedade em geral. Segundo Alessandra, por exemplo, a FUP vem mobilizando, não apenas a base como foi feito durante a greve de fevereiro de 2020, mas também a sociedade. Buscam, com isso, fazer um contraponto ao que dizem outras imprensas e dar visibilidade às ações dos petroleiros.
“Desde 2019 a FUP e outros sindicatos vem fazendo ações em defesa da Petrobras e contra as privatizações. Uma delas é subsidiar os preços dos combustíveis. Com isso queremos mostrar que há a possibilidade da Petrobras abastecer nacionalmente e garantir a soberania energética do país com preços acessíveis”, explica a jornalista.
Em São José dos Campos não é diferente, Manuela conta que as estratégias de luta estão sempre vinculadas com a população da cidade. No dia 1 de Maio, dia do trabalhador, por exemplo, o sindicato doou botijão de gás em algumas comunidades. E, conjunto a isso, distribuiu panfletos, adesivos, colou folders e fez uma campanha de redes sociais maciça.
Fernanda relembra da campanha “Petrobras fica”: “Há produção de outdoors, assessoria de imprensa, programas associados à revista Fórum, Brasil de Fato entre outras mídias progressistas para denunciar a privatização, e suas problemáticas, da Petrobras”.
Segundo as jornalistas, a comunicação em redes, ou seja, aquela que une força entre as equipes e assessoria de diferentes sindicatos do país, pode ajudar ainda mais que a disputa de narrativas contra a mídia tradicional seja menos desigual, e assim mais pessoas estejam a par da luta e pautas não só dos petroleiros, mas de sindicatos de todas as categorias.
- Fabiana Batista é jornalista
- Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em Antropologia.