[Por Sérgio Domingues] Está disponível na Netflix “Cabeça Quente”. Produzida na Turquia, a minissérie retrata um mundo em que uma doença altamente contagiosa transforma-se em uma pandemia que leva a sociedade ao caos.
Diante disso, é criado um órgão de controle sanitário que estabelece zonas de quarentena, além de impor uma lei marcial para diminuir os contágios. Mas as preocupações com a saúde pública logo se tornam pretexto para instalar uma ditadura. Desse modo, neutralizar ou erradicar a doença deixa de interessar aos ocupantes do poder.
O personagem Murat Siyavus, interpretado por Osman Sonant, é a única pessoa imune ao distúrbio. Portanto, interessa ao regime ditatorial impedir que o estudo de seu organismo possibilite encontrar a cura para a doença. Enquanto isso, uma organização de resistência à ditadura quer convencer Siyavus a colaborar na fabricação de uma vacina.
Mas o mais interessante na trama é a forma como a doença se manifesta. As pessoas infectadas passam a repetir coisas sem sentido, ficando incapacitadas de se comunicar. O contágio ocorre pela fala. Desse modo, o uso de tampões de ouvidos torna-se medida fundamental para evitar mais contágios.
Siyavus é um linguista e não deixa de ser irônico que um estudioso da comunicação humana seja exposto ao besteirol dominante, sem sofrer maiores consequências do que um forte aumento na temperatura de sua caixa craniana. É dele a cabeça quente que dá título à série.
Trata-se de uma distopia da indústria de entretenimento. Mas parece a vida real, em que uma praga de opiniões e informações delirantes nos faz ferver a cabeça há algum tempo. E não há tampão que dê jeito!