Por Sérgio Domingues – Janeiro de 2014
Algoritmo é um conjunto de instruções muito precisas para a execução de certas tarefas. Por exemplo, que passos precisam ser dados para fazer uma determinada mercadoria sair da linha de produção e chegar ao consumidor sem se perder pelo caminho, mantendo sua integridade e qualidade? A definição desses passos resulta no que se costuma chamar de algoritmo. E, acreditem, ela foi inventada por Al Khwarizami, um árabe do século 9.
Até o século 19, os algoritmos eram inofensivos. Com sua integração à produção capitalista, a coisa mudou. Como vivemos sob a ditadura da circulação das mercadorias, os algoritmos começaram a invadir a vida cotidiana. E quando foram parar dentro dos computadores e tornaram-se softwares, o estrago aumentou.
Foi aí que começaram a ter pesada influência em nossas vidas. O Google, por exemplo, pesquisa aquilo que buscamos, mas também sugere respostas que não solicitamos. Nossas compras registradas nas redes bancárias avisam os fornecedores sobre nossos gostos. Logo, passamos a receber ofertas e propagandas que seriam correspondentes a nossos gostos pessoais. Mas, na verdade, induzem a mantermos os mesmos hábitos, preferências, convicções. Logo, reforçam nossos preconceitos e condicionamentos sociais.
Um artigo interessante e assustador sobre o tema é “Abracadabra: os algoritmos estão dominando o mundo”, de Paulo Nogueira, publicado no site Rede Brasil Atual, em 21/07/2013. A leitura é mais do que recomendável por várias razões. Mas uma delas nos afeta diretamente. Trata-se da chegada dos algoritmos à imprensa. Vejam o que diz Nogueira:
“… a Narrative Science é uma empresa que, sem um único jornalista ou repórter, produz noticiários montados a partir de dados recolhidos na internet pelos algoritmos. Na revista Forbes, por exemplo, muitas matérias já são assinadas ‘by Narrative Science’. Kristian Hammond, o criador do treco, prevê: ‘Dentro de 15 anos, 90% dos textos da imprensa serão escritos por computadores’”.
Na verdade, o problema não está nos algoritmos. Está na geração da informação, que se tornou bastante previsível. Os limites da combinação entre criação semântica e gramatical são infinitos. Mas para os níveis de automação e massificação da imprensa atual, um programa de computador mais do que basta. Pudera! A vida humana automatizou-se, padronizou-se e massificou-se. Com a imprensa, não seria diferente.
É nesse momento que entram as manifestações de junho, os black-blocs, as marchas das vadias, as ocupações de terra, os “rolezinhos”, as greves e mobilizações populares em geral. São eventos que estão fora da ordem padronizada e automatizada da sociedade dominada pelo mercado. Eles podem fugir aos algoritmos e negar a ordem que os produz.
Ao mesmo tempo, os textos e outras produções que descreverem, apoiarem e forem produto da participação de seus autores nesses eventos podem garantir a sobrevivência da comunicação humana como criação, não como metabolismo cibernético. É a comunicação contra-hegemônica contra a ditadura dos algoritmos!