6 e Meia do NPC: trocando ideias sobre a Comunicação Sindical

O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 22 de abril de 2021.

Uma luta em defesa da vida

[Por Fabiana Batista*] “A responsabilidade de fazer comunicação sindical para os professores é significativa, visto que eles vão dialogar com seus alunos da educação infantil ao ensino médio. E, muitas vezes, esse conteúdo é o único com senso crítico a que os estudantes terão acesso em seu cotidiano”.

Essa é a reflexão de Laiana Horing Nantes, jornalista no Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública (ACP-MS), no programa Seis e Meia no NPC. Além dela, Valéria Ochôa, jornalista, coordenadora de comunicação do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS) e editora do jornal do sindicato, Extra Classe, e Cláudio Antunes Correia, professor da rede pública do Distrito Federal, pedagogo e diretor do Sindicato dos professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) participaram.

Sobre este tema, Valéria nos conta que se sente responsável por trabalhar com a categoria da mesma forma que quando produz conteúdo para qualquer outro público. No Jornal Extra Classe, a comunicação do sindicato propõe-se “discutir com os professores e não apenas informar”. Isso porque, assim como na ACPMS, suas reportagens são utilizadas em sala de aula.

Um exemplo importante foi trazido por Claudio: “A comunicação sindical forma opiniões. Por exemplo, em um dos episódios da história de nosso sindicato, em 2015, produzimos uma cartilha para uma campanha salarial explicando para a comunidade escolar quais eram as situações dos professores no Estado. Esse material virou alvo do governador da época, Rodrigo Rollemberg (PSB), com a justificativa de que não era permitido distribuí-lo em sala. E — para deixar claro — nós não entregamos, ele era uma cartilha de apoio aos professores”.

De acordo com o sindicalista, isso se deu porque a comunicação sindical disputa narrativas com o governo local. “Temos a responsabilidade de fazer uma comunicação corporativa da categoria, mas também trazer debates para a comunidade escolar sobre os grandes temas que a capital federal promove em nosso dia a dia”.

“Temos uma comunicação ligada diretamente com a formação da categoria”

Laiana está na ACP-MS há 12 anos, mas começou a trabalhar em comunicação quando fez estágio na Associação do Ministério Público no Mato Grosso do Sul. Conta que trabalhar com profissionais da educação é um desafio muito grande, pois a categoria é exigente. “É o sindicato mais antigo entre os da educação aqui no Estado e sua filiação é de pelo menos 40% da categoria”. Para ela, a história de 60 anos é um fator determinante que a faz ter orgulho de participar da comunicação do sindicato.

“Temos uma comunicação ligada diretamente com a formação da categoria e atuamos em conjunto com a organização das lutas. O sindicato é um produtor de fatos e sua comunicação tem um papel fundamental para divulgá-los”. A equipe de comunicação lida com todos os veículos, digital e off-line. E, segundo a jornalista, a pandemia, em 2020, acelerou o processo de digitalização. 

Para se comunicar com a categoria para além das redes sociais, o sindicato conta com representantes sindicais dentro de todas as escolas de Campo Grande, que, para Laiana, são fundamentais para atuar como multiplicadores dos conteúdos produzidos. “E temos os materiais impressos, a revista Expressão e o jornal Expressinho, que mesmo na pandemia não foram abandonados”. Estes materiais também estão atualmente disponíveis on-line.

Com o necessário isolamento social, as redes sociais foram ainda mais fortalecidas e, em trabalho com a secretaria do sindicato, a comunicação envia o informativo por e-mail e WhatsApp. Para a jornalista, uma das campanhas mais significativas, e que mostrou a força do meio virtual, foi a mobilização realizada pelo Twitter em defesa do FUNDEB, que chegou a ser destaque na rede no momento de sua votação.

Na pandemia: “Se não tivermos uma comunicação efetiva na cidade podemos perder o vínculo com a comunidade escolar”

Diferentemente das colegas, Cláudio não é jornalista e na comunicação de seu sindicato sempre atuou como diretor da equipe. “Eu demandava o serviço e os assuntos que precisávamos abordar, disponibilizava as informações específicas da categoria e, assim, o jornalista produzia o conteúdo solicitado”.

O Sinpro-DF, além do trabalho local, também atua com produção de conteúdos para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). A organização nacional hospeda em seu site um mapa que aborda as lutas de todos os estados do país e quem o alimenta são os sindicatos locais. O professor acredita que esse material é muito importante para a sua categoria, sobretudo porque é a partir dele que os sindicatos das diferentes regiões se inspiram para as lutas diárias em suas cidades e estados.

Segundo Cláudio, desde 2012, a comunicação do sindicato, que já dispõe de um site e atua nas redes sociais, caminha para se digitalizar: a pandemia obrigou que esses recursos, antes pouco usados, fossem o principal meio de comunicação com a categoria. “Se não tivermos uma comunicação efetiva na cidade, podemos perder o vínculo com a comunidade escolar. Diante disso, produzimos conteúdos que fomentam debates fundamentais entre pais, alunos e professores”.

Uma das ações que o professor julga fundamental, cujo mérito é de sua equipe, foi quando, em março de 2021, o governo do Distrito Federal propôs a volta às aulas presenciais. “Nós chamamos a comunidade para o debate através de materiais on-line e a luta dos professores somada à dos pais e alunos fizeram com que o governo retrocedesse no que planejavam”.

“Queremos mostrar aos professores que eles fazem parte de uma categoria”

“Antes de trabalhar no Sinpro-RS trabalhei nos principais jornais impressos do estado. Comecei no sindicato há 25 anos e fiz parte da equipe que coordeno atualmente”, conta Valéria Ochôa, acrescentando, com orgulho, que nessas duas décadas e meia ajudou a criar ferramentas fundamentais para a comunicação do sindicato. Uma delas é o jornal Extra Classe que desde seu início, também 25 anos atrás, nunca deixou de publicar grandes reportagens, e, diante disso, já ganhou mais de 41 prêmios concorrendo com mídias tradicionais.

O ano de 2020 começou com vitória. Valéria nos conta que o site do jornal premiado chegou a mais de três milhões de acessos: “algo expressivo quando diz respeito a uma ferramenta alimentada por uma equipe pequena que assessora todas as outras áreas da comunicação do sindicato”.

A jornalista justifica que, além do trabalho da equipe, as ações do sindicato são uma das responsáveis pelo sucesso atribuído à comunicação. Segundo ela, o Sinpro-RS é um “fazedor de fatos” e isso contribui para que eles tenham conteúdos a serem explorados nas redes sociais e nos materiais impressos.

Além do jornal, o sindicato explora todas as ferramentas digitais para os diferentes formatos criados. Valéria explica que a comunicação busca dar visibilidade às lutas e ações da categoria. “Mas também queremos mostrar aos professores que eles fazem parte de uma categoria e não estão sozinhos”, acrescenta. Isso porque o Sinpro-RS, assim como a maioria dos outros sinpros espalhados pelo país, atua com professores de escolas privadas, cujos donos dificultam a consolidação do sentimento de pertença a um coletivo por parte dos professores.

Estamos em guerra comunicacional, como disputar?

Fazer frente à disputa de narrativas e conseguir distribuir os conteúdos produzidos pela comunicação sindical e popular é um desafio. Durante o segundo programa sobre comunicação sindical na Educação, Claudia Santiago retomou esse tema e perguntou para os jornalistas como participar dessa “guerra comunicacional”, que parece tão injusta.

A jornalista do Mato Grosso do Sul Valéria Ochôa nos lembrou que talvez, atualmente, o maior obstáculo seja competir com as fake news, como a famosa “mamadeira de piroca”, que são tão convincentes em um país onde se é de direita por nascença. “Elas são imensas e imparáveis, temos uma luta maior do que apenas informar, e por isso pontuo sempre a importância da formação”, salienta Valéria.

Já Cláudio, apesar de concordar com essa afirmação, diz que há uma mudança no olhar da população sobre as notícias falsas. “Há um debate que precisa ser melhor explorado por nós”. E afirma que para ele um ponto chave para que a comunicação sindical decole é o fortalecimento de uma coordenação nacional, e relembra o papel da CNTE no caso dos sindicatos da educação.

“Essa unidade da classe trabalhadora em torno do debate da comunicação é cada vez mais possível em função das tecnologias que temos. Antigamente, o que se sabia era o que era passado na televisão ou no jornal impresso; já hoje, há pessoas produzindo via celular e que conseguem acessar milhares de seguidores. A tecnologia não foi criada para igualar, até porque quem tem mais investimento? Mas ela também nos deu recursos para disputar em outro patamar que há 20 anos”.

Valéria levanta a bola para o tema sobre investimento, assunto que ainda é tabu em muitos sindicatos. Para ela, a comunicação sindical não vai conseguir fazer frente a seus desafios se não for levada a sério e se, além de investimento, não contar com uma ação política coordenada. “Comunicação não faz milagre e, da forma que se faz, disputa entre os ‘grandões’. É realmente injusto nos equipararmos, já que somos tão pequenos perto deles”.

Ela afirma que não vai desistir e compreende que é a comunicação sindical que cria multiplicadores e faz um jornalismo sério e investigativo. Mas deixa claro que isso leva tempo e demanda recursos. Finalmente, Valéria traz ainda um questionamento com que vamos encerrar este texto: “Como fazer este conteúdo chegar até as pessoas e produzir um trabalho competitivo sem investimento?”

*Fabiana Batista é jornalista

Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em antropologia.