6 e Meia do NPC: trocando ideias sobre a Comunicação Sindical

O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 08 de abril de 2021

Uma luta em defesa da vida

[Por Fabiana Batista*] A categoria dos bancários foi considerada essencial desde o início da pandemia e, sobretudo, aqueles que trabalham na Caixa Econômica Federal, que estão na linha de frente. Diante disso, para permanecer em contato com as bases neste período, seus sindicatos Brasil afora têm trabalhado bastante a comunicação, inovando na linguagem e no formato.

Para saber como está essa comunicação, convidamos três responsáveis pelo setor em diferentes sindicatos da categoria para o nosso programa Seis e Meia no NPC, que acontece às quintas, no horário das 18h30, no Facebook e Youtube:

Gerlane Pimenta é bancária, militante do Movimento Mulheres em Luta e diretora de Comunicação e Imprensa do Sindicato dos Bancários do Maranhão; Ludmila Pecine dos Santos, jornalista e coordenadora da Secretaria de Imprensa do Sindicato dos Bancários do Espírito Santo; Renata Ortega, jornalista atuando há 12 anos na comunicação do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região. 

Os meios de comunicação e o sindicalismo

“Em uma das passagens da vida de Marx, ele celebra o surgimento do telégrafo, pois entendeu que naquele instante os trabalhadores tinham um meio de se comunicar entre si, que tornaria mais fácil sua organização. Hoje, nós temos uma diversidade ainda maior. Imagina o que podemos fazer”. É com essa fala da Gerlane que damos início ao debate sobre a importância da comunicação nos meios sindicais. Ela nos lembra que a comunicação é um dos pilares fundamentais da luta e organização do povo.

Sobre o papel da comunicação sindical, Renata explica: “Temos visto que a comunicação é uma ferramenta fundamental de ação sindical, e através dela podemos nos relacionar, formar e organizar os bancários e bancárias da base”.

Concordando com as colegas, Ludmila relembra que a pandemia deixou claro a importância da comunicação nos sindicatos. “Ela se estabeleceu como a única ferramenta para manter a base organizada, principalmente nessa conjuntura, quando, além dos ataques diretos à classe trabalhadora, os bancários estão entre os profissionais na linha de frente”.

Como está a comunicação na pandemia?

Todas as convidadas fizeram, antes ou durante a quarentena, cursos do NPC. E Ludmila relembra Vito Giannotti: “Há uma contínua necessidade de formação, não apenas para nos adequarmos às ferramentas digitais mas também a sua linguagem. Vito falava, e eu concordo, que precisamos falar a língua do povo, e hoje o povo também está nas redes. O SindiBancários-ES, por exemplo, decidiu mudar o formato do jornal impresso Correio Bancário para o meio digital”. O uso do Whatsapp também se fortaleceu, a ferramenta é utilizada para avisar sobre as assembleias que serão realizadas de última hora.

Ao perceber a dificuldade da categoria de ela própria se acostumar com as redes sociais, Gerlane não perdeu tempo e buscou ir além das postagens nos meios digitais do SindiBancários do Maranhão. “Conseguimos um bom retorno com os vídeos curtos e as lives no Facebook e Youtube. Já o twitter, nossa mais nova ferramenta, é usado para nos comunicarmos de forma rápida e eficiente. Durante algumas disputas judiciais com reviravoltas rápidas, ele foi importante para informar a base em tempo real”.

As lives foram as formas que o sindicato de Gerlane encontrou para interagir com mais facilidade com quem assiste. Além disso, buscaram ampliar a equipe de comunicação. “Se antes tínhamos apenas um jornalista, durante a pandemia, conseguimos segmentar o trabalho, e foram contratados um social media, designer e videomaker”.

Assim como as colegas, Renata buscou os dirigentes do sindicato em Curitiba e com eles adaptou o novo meio de se comunicar com os bancários: “Nossa comunicação física  — jornal, cartilhas, faixas —, foram substituídas por vídeos curtos, por exemplo, e produzimos conteúdos em que a relação do sindicato com a base fosse mais próxima”.

Os outdoors também foram um dos recursos que elas utilizaram. Foi com eles, por exemplo, que o sindicato de Curitiba divulgou, de forma mais ampla, campanhas como a de desaconselhar as pessoas de ir às agências bancárias durante a quarentena.

Meio digital e seus desafios: O impresso acabou?

Gerlane e Renata concordam que um dos principais desafios do meio digital é saber como utilizá-lo. Gerlane lembra que, um pouco antes de 2018, a esquerda e as forças democráticas viram a direita se apropriarem das ferramentas de forma agressiva para atacá-las: “Conseguir responder a isso é um desafio enorme”, acrescenta.

Renata nos alerta quanto às legislações que têm sido criadas: “Durante muito tempo o ambiente virtual foi visto sem muitas regras e legislações, e, por isso, as pessoas faziam o que queriam. Hoje em dia não é mais assim, apesar de virtual, a internet faz parte da vida real e não deve ser permitido qualquer tipo de ataques”.

As colegas garantem que a comunicação off-line, ou seja, jornais, cartilhas, faixas etc., não vai acabar após a pandemia. Ao contrário, as novas ferramentas vieram para agregar ainda mais às diferentes formas dos sindicatos se organizarem e se comunicarem com a base.

Para Ludmila, o jornal impresso “é uma forma que o dirigente do sindicato tem para se aproximar e conversar com a categoria na porta dos bancos”. Já Renata afirma que “a comunicação é um mosaico”, e completa: “por isso, temos que conectar todas as ferramentas para que ela seja de fato efetiva”.

Campanhas de solidariedade são adotadas pelos sindicatos

Com o aumento do desemprego e dos preços dos produtos nos mercados, a fome voltou a ser pauta no país e os sindicatos se organizaram, desde o início do isolamento social, em campanhas solidárias que se tornaram elo entre trabalhadores e seus dirigentes. Renata, Gerlane e Ludmila contam que em seus sindicatos não foi diferente.

No entanto, neste papo que tivemos, relembramos que não há como falar sobre o combate à fome e à pandemia sem fortalecer a necessária pauta do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). “O auxílio emergencial, que era a saída contra a fome, foi desmontado este ano. Se R$ 600,00 era pouco, R$ 150,00 não dá para nada!”, denuncia Gerlane.

Ao relembrar campanhas pelo lockdown total, Ludmila também considera necessário o fechamento de estabelecimentos comerciais e agências bancárias para combater a pandemia: “Aqui no Espírito Santo a maioria das cidades estão em estado de bandeira roxa (risco muito alto) e ainda assim o governador não decreta o lockdown. Deste modo, o Sindicato dos Bancários teve a iniciativa de organizar uma campanha em defesa da vida e investimos em comunicação para pressionar o governador”, relata.

Ao final da live, Renata, Gerlane e Ludmila enfatizam a importância da organização entre os sindicatos dos bancários nos diferentes Estados. E que é cada vez mais fundamental que a categoria participe dos espaços de comunicação e campanhas de seus sindicatos para fortalecer ainda mais a luta pela defesa da vida.

  • Fabiana Batista é jornalista
  • Edição de texto: Moisés Ramalho, jornalista e doutor em Antropologia