Boletim NPC – Para quais categorias profissionais você já trabalhou?

Tânia Trento – Eletricitários, metalúrgicos (estou retornando), radialistas, portuários, papeleiros, Senalba, Asseio Conservação e Limpeza Pública, Engenheiros-ES e Federação nacional dos Engenheiros – Fisenge (8 anos)… 

Boletim NPC – Como foi feita a opção de trabalhar para sindicatos?

Tânia Trento Na época que me formei, em 86, fui jornalista de rádios e jornal na área de polícia. Depois fui para a TV Vitória, em 1988. Fizemos uma greve na TV e os jornalistas foram todos demitidos, em 89. A TV parou, mas na negociação tivemos dois meses de estabilidade. Daí, fiquei desempregada e com o rótulo de grevista. Quando se tem fama, tem mesmo é que aproveitar. Nessa greve, eu conheci e me apaixonei pelo presidente do Sindiradialistas que conduzia a greve. Ficamos casados 16 anos e devo a ele a indicação para a CUT-ES, onde trabalhei com Baiôco, indo depois para os eletricitários, portuários, papeleiros, e venho assim desde então. 

Boletim NPC – Quais sindicatos você atende hoje?

Tânia Trento- Metalúrgicos e Sindilimpe 

Boletim NPC – Qual o perfil desses trabalhadores?

Tânia Trento-  metalúrgicos – 35 a 40 mil no Estado, nos setores de siderurgia, metalurgia, material elétrico e eletrônico e reparação de veículos. Na siderurgia (CST e Belgo/Arcelor , CVRD e Samarco) estão os trabalhadores mais capacitados, com escolaridade de 2º grau e acima. Faixa de salário acima de R$ 1,2 mil, com auxílio-alimentação, plano de saúde e outros benefícios. A maioria mora em bairros com infra-estrutura e casa própria; e também tem automóvel. Os Terceirizados dessas empresas têm grau de escolaridade inferior e são a maioria da categoria. Recebem salários bem menores e não gozam dos benefícios dos trabalhadores das contratantes. Moram nos bairros mais periféricos, em casa alugadas. Não há mais empresas estatais nesse setor. Portanto, principalmente nas terceirizadas, há grande rotatividade de mão-de-obra. As convenções desses trabalhadores estão no site dos metalúrgicos: www.sindimetal-es.org.br. A presença de mulheres é rara nas siderurgias, oficinas e metalúrgicas. Estão mais presentes nos escritórios e nos setores de limpeza (aí entra o asseio e conservação). A categoria está concentrada em alguns pontos, o que facilita a distribuição dos quatro jornais tablóides, com quatro páginas, colorido, que fazemos mensalmente. 

Sindilimpe-ES – a categoria está dividida
entre Asseio e conservação e os trabalhadores da Limpeza Pública. Todos são terceirizados e com baixo nível de escolaridade (1º grau incompleto). Recebem pisos (pouco acima do salário mínimo). Moram na periferia das cidades e em regiões sem infra-estrutura. Há dez anos recebiam mais de 2 salários mínimos. O sindicato é atuante e neste ano, em maio/06 na campanha salarial, fizeram greve de 3 dias. Principalmente os garis têm consciência da sua importância – como primeiro agente de saúde da cidade – e sempre estão dispostos a parar – Neste setor, os homens predominam. Mas são minoria, diante das empregadas das centenas (muitas delas picaretas) de empresas em asseio e conservação. São extremamente explorados nos dois setores. Os garis só recebem parte da insalubridade a que têm direito. É uma categoria muito pulverizada, pois estão em todos os pontos das cidades, bancos, escolas, prédios públicos, instituições. É difícil distribuir os jornais, por exemplo. 
 

Boletim NPC – Quando você senta para fazer um jornal para uma determinada categoria, quais características desses trabalhadores são mais importantes para você?

Tânia Trento-  a escolaridade, o gênero, o local onde estão esses trabalhadores. Depois penso na importância das matérias, no formato, na produção em si dos materiais.  

Boletim NPC – Quais os instrumentos de comunicação, além do jornal você propõe aos sindicatos que assessora? Quais os critérios que usa?

Tânia Trento-  Cartilhas, folderes, out-door, assessoria de imprensa, cursos, sites, clippings, mural, fotografia e um monte de coisas. 

Boletim NPC – Como é a relação da sua equipe com a direção dos sindicatos que assessora?

Tânia Trento–   Poderia ser melhor. Os metalúrgicos pensam que sabem tudo. Não dão valor ao trabalho da comunicação. Com os metalúrgicos tenho que provar o que falo. Os da limpeza são muito melhores no trato, pois a humildade está presente. Com o Sindilimpe-ES é fácil de entenderem o propósito e os objetivos das campanhas, peças e outros instrumentos propostos.  

Boletim NPC – Como esses sindicatos utilizam a ferramenta internet na comunicação?

Tânia Trento- Tanto no metalúrgico como no Sindilimpe-ES, os sites não são modernos, navegáveis e interessantes. Tem informações desatualizadas e eu só atualizo a parte dos jornais. Usam e-mail e eu envio o clipping em forma digital para a diretoria. 

Boletim NPC – Qual o papel da Comunicação Sindical hoje?

Tânia Trento–  é o papel mais importante no sindicato depois da negociação coletiva. Pode até
ter uma boa negociação, mas se a gente não informar isso para a categoria, não vai ter alcançado o objetivo de que “todos devem saber o que aconteceu, na visão da classe trabalhadora”. Vai vingar o que a empresa disser.
 

Boletim NPC – Na sua opinião, quais os acertos e o que precisa ser mudado na comunicação sindical?

Tânia Trento–  Tratá-la com profissionalismo e respeito. Dar as condições de trabalho e de salário dignos. As direções precisam se capacitar para o novo, ou melhor, como disse o seu marido (Vito Gianotti): “ A comunicação sindical deve refletir as idéias do sindicato. Ou seja, este é um problema de definição política do Sindicato.

O papel da comunicação neste momento continua a ser o de disputar a hegemonia na sociedade com os inimigos dos trabalhadores: industriais, banqueiros, latifundiários, com os patrões, enfim. E naturalmente com os donos do capital mundial: FMI e as multinacionais. É uma disputa com essas forças e com todas as estruturas que os sustentam: organizações patronais, culturais, a estrutura escolar, e com toda a mídia que  tradicionalmente sempre esteve a serviço de manter esta chamada ordem. Ordem, que,na verdade é uma desordem.´E a continuação da Casa Grande e da Senzala da época da escravidão.

(Por Claudia Santiago)