Outdoors, carros de som e redes sociais: 

Em luta contra a Reforma Administrativa sindicatos usam de todos os meios para se comunicar 

[Por Fabiana Batista*] 

A Reforma Administrativa é um dos temas centrais, hoje, para os sindicatos de servidores públicos. 

Para combater e desmentir as argumentações favoráveis à Reforma, sindicatos têm utilizado as redes sociais e outros meios de comunicação. No programa 6 e Meia no NPC, apresentado pela jornalista Claudia Santiago e com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, que foi ao ar no dia 20 de maio conversamos com Diva Flores, pedagoga e presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do RS; Ana Palmira, diretora de Comunicação do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho e presidenta da Delegacia Sindical do Sinait de SP e Neuza Castro – secretária de Mov. Sociais da Condsef, secretária de Imprensa Sindicato dos Servidores Públicos Federais Civis no Estado do Amapá e secretária de Comunicação da CUT AMAPÁ. 

Desta vez, Claudia contou com a participação especial, também como entrevistadores, de Kátia Marco, jornalista do NPC e Valdecir Bittencourt, que desde 2014 exerce a função de assessor de Comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos Federais Civis no Estado do Amapá. 

Para esquentar a conversa, Claudia leu trecho de uma nota técnica do Senado, publicada no site do Sinait.

“Apesar de ser apresentada pelo Executivo como uma medida de redução de gastos públicos, a PEC 32/2020 apresenta diversos efeitos com impactos fiscais adversos, tais como aumento da corrupção, facilitação da captura do Estado por agentes privados e redução da eficiência do setor público em virtude da desestruturação das organizações. Por sua vez, os efeitos previstos de redução de despesas são limitados, especialmente no caso da União. Assim, estimamos que a PEC 32/2020, de forma agregada, deverá piorar a situação fiscal da União, seja por aumento das despesas ou por redução das receitas”

As comunicações sindicais e a luta contra a Reforma Administrativa

A Reforma Administrativa, explica a dirigente do Sinait, é apenas mais uma das medidas de precarização do trabalho do Governo Federal. “O primeiro ato foi acabar com o Ministério do Trabalho, que passou batido porque este já estava debilitado e envelhecido”. Para informar sobre este e outros assuntos, a equipe do Sindicato tem utilizado não apenas as redes sociais e o site, mas também um podcast, o “Podcast Sinait”, ferramenta tão atual e que é cada vez mais aderida pelos sindicatos.

A disputa de narrativas sempre foi difícil, segundo Kátia, que além de jornalista do NPC também é assessora do SindSepe-RS, isso se dá “porque a grande imprensa, desde a década de 90 — quando projetos de leis parecidos com os que enfrentamos hoje já eram discutidos — defendem o Estado mínimo e convencem até mesmo os servidores públicos que são prejudicados”.

Ainda assim, os sindicatos têm cada vez mais fortalecido suas equipes de comunicação. No sul do país, em dezembro de 2019, o SindSepe-RS esteve em greve pois antes da discussão ganhar força nacionalmente, no Rio Grande do Sul o governador já aplicava a PEC 32 no Estado.

No Norte, em Amapá, é através dos outdoors que o SindSepe-AP busca levar mais informações à população com relação à Reforma. A campanha “Cancela a Reforma Já” estampa o rosto de parlamentares favoráveis à medida e, com isso, denuncia políticos que são contra os direitos dos trabalhadores.

Neuza nos explica: “cabe a nós da comunicação esclarecer à nossa base quais são os interesses por trás desta medida. Até porque, ela veio para acabar com os sindicatos que estão fechando as portas, e por falta do imposto sindical estão cada vez mais precarizados”. Além disso, a rádio “Direto da Redação” e cards, substitutos dos panfletos em períodos de pandemia, disparados em grupos de WhatsApp, amplificam o tema para cada vez mais pessoas.

Direção, comunicadores e base: o tripé da comunicação sindical

A comunicação sindical é feita por um tripé: A direção do sindicato; a equipe de comunicação; e a base, ensina Claudia. Além disso, a comunicação sindical informa, forma e organiza a classe. 

Além disso, conta com parcerias de rádios e tevês comunitárias. Como é o caso do Sinait, que junto à rádio Noroeste FM, de Campinas tem “a oportunidade de divulgar nossas atividades para toda a população”. 

Para Diva a comunicação contribui para a formação de consciência quanto à importância da unidade da classe trabalhadora. “Muitas das vezes somos nós quem trazemos um viés político diferente para a categoria”. E por isso, Neuza nos relembra que a linguagem utilizada para comunicar deve ser diferente e acessível. “Ela é direcionada à classe trabalhadora, e por isso é fundamental uma linguagem própria”.

É ela que propões assuntos que interessam à classe trabalhadora, como direitos sociais e trabalhistas, o que não é feito por veículos de comunicação hegemônicos. O sindicato dos auditores fiscais, por exemplo, se preocupa em tocar em assuntos como “legislação trabalhista do trabalhador urbano, no campo e do combate ao trabalho escravo” de forma técnica. 

De que maneira os meios virtuais impactaram os sindicatos?

Como vimos em outros programas do 6 e Meia no NCP, os podcasts, canais de Youtube, listas de e-mail e redes sociais já eram ocupados pelos sindicatos Brasil afora. Porém, com a pandemia mesmo aqueles que resistiam ao meio virtual e investiam pouco nesse meio precisaram se adaptar rapidamente.

“As nossas redes sociais, principalmente o Instagram, cresceram bastante durante a pandemia e criamos diferentes listas de transmissão no WhatsApp para ter acesso mais fácil com a categoria”. Além do SindSepe-RS, como expôs Diva, Ana nos explica que o canal do Youtube do Sinait, onde as lives com a diretoria e convidados também está bombando. 

Os panfletos foram substituídos pelos cards e as rodas de conversa presenciais pelas lives. Todavia, os meios de comunicação “off-line” não estão enfraquecidos. “Antes da pandemia nós fazíamos visitas nas casas dos trabalhadores com psicólogos e outros profissionais da saúde e entregávamos revistas e panfletos. Com a necessidade do isolamento social começamos a usar, além das redes sociais, os carros de som que rodam as regiões nas quais sabemos que a categoria está”, dizem Valdecir e Neusa.

Podemos dizer ainda, que independentemente da forma e do instrumento com a qual os sindicatos se comunicam com sua base e sociedade em geral as ações conjuntas estão se fortalecendo. A comunicação sindical, apesar da Reforma Administrativa e de outros ataques contra os sindicatos, está mais viva do que nunca. 

Fabiana Batista* é jornalista e faz parte da Rede de Comunicadores do NPC Edição de Texto e revisão: Moisés Ramalho, jornalista e antropólogo.