Gabriel Priolli

[Gabriel Priolli – Nocaute – 29.05.2017]    A imprensa senhorial brasileira sempre decepciona quem espera que ela atue de acordo com os seus próprios projetos editoriais e manuais de redação. Ela é especialista em redigir essas peças de ficção e vendê-las a incautos como algo real. Mas nem por isso a imprensa dos sinhôs e das iáiás deixa de ser confiável. Ao contrário.

Podemos confiar sempre que ela mentirá, ocultará e torcerá as coisas, quando os fatos colidirem com os seus interesses de classe e de mercado. Por exemplo, ela dirá que um evento com mais de 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, pedindo Diretas Já, demandou apenas Fora Temer e fim das reformas.

Na hipótese cada vez mais improvável do Usurpador deixar a Presidência, mesmo pilhado em flagrante de crime de responsabilidade, a imprensa da Casa Grande tenta convencer a Senzala de que o bom e o legítimo é escolher o substituto por via indireta, no Congresso Nacional. O mesmo Congresso onde hoje há uma ampla maioria de investigados, denunciados e suspeitos de corrupção. Eleição Direta, para o golpismo, nem pensar. Ele corre o risco de perdê-la e é esse o limite de sua convicção democrática. Democracia, só se for para ganhar.

A imprensa senhorial, cabeça pensante e organizadora de manada do sistema golpista que assaltou o Estado há um ano, não tem o menor pudor de defender a legitimidade das Indiretas, com base no mesmo constitucionalismo de conveniência que usou para derrubar Dilma Rousseff. Faz jogo de cena entre apoiar a preservação de Temer ou substituí-lo, mas está fechada e uníssona quanto à sua verdadeira prioridade: a aprovação das reformas antipopulares, de interesse da banca usurária e do empresariado escravista, que ela procura apresentar como medidas modernizantes da economia.

Como consequência, além dos idiotas que pedem “intervenção militar constitucional”, agora temos também os tolos que acreditam em “Indiretas Já constitucionais e democráticas”. Que contestam a soberania popular e os 85% de aprovação às Diretas, nas pesquisas de opinião. É muito bom que a imprensa senhorial se desnude dessa forma. Que mostre a cada vez mais gente a sua natureza e a sua prática editorial, integralmente elitista e antidemocrática.

Quando esse país superar esses anos de trevas, será inevitável uma ampla reforma da mídia. E será muito mais difícil para a Casa Grande obstruí-la.