Entrevista com Carlos Dorneles. Por Rosângela Gil, de Santos-2003
O repórter Carlos Dorneles, em seu livro “Deus é inocente, a imprensa, não”, mostra a subserviência da Imprensa mundial aos interesses do império dos Estados Unidos. O jornalista analisa com riqueza de detalhes a cobertura da mídia sobre a queda das torres gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001, e o ataque ao Afeganistão. É impressionante como fomos “desinformados”. Como a imprensa se curvou ao poderio político e econômico da grande potência do Tio Sam. Fatos foram “arrancados” de contextos culturais e históricos, outros “eliminados” e tantos outros manipulados.
A leitura de “Deus é inocente” é obrigatória. Num primeiro momento nos deixa sufocados, com vontade de fechar os jornais e nunca mais abri-los. Mas é uma sensação que logo passa para ser subtituída por uma atitude: a de ler, ouvir e ver com mais cuidado, com o senso crítico aguçado e dialogar, sempre, com as notícias. Precisamos, também, fazermos as nossas perguntas: quem, quando, onde e, principalmente, como e porque.
Carlos Dorneles, que participou do 9º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação, no final do ano passado, no Rio de Janeiro, deu essa rápida entrevista ao Boletim NPC e diz que onde existe o interesse econômico não existe jornalismo.
Boletim NPC – Por que a imprensa não é inocente?
Carlos Dorneles – Olha, eu acho que não é inocente, bem resumidamente e indo direto ao ponto, porque ela não cumpre aquela função que é básica, primordial, que você aprende na faculdade, que é ser independente, que é você dar voz para todos os lados, ouvir todos os envolvidos. E não acreditar na versão de um lado só, não se submeter ao lado mais forte. Tudo isso é básico. Qualquer aluno de jornalismo aprende isso na faculdade. Você precisa dar visão de uma sociedade sob todos os ângulos, com todas as suas facetas.
A imprensa está extremamente determinada a mostrar só um lado da questão, que é o lado do poder. É a visão de quem tem poder sob o resto da sociedade. Ela (a imprensa) faz isso, às vezes, de uma maneira inocente; mas geralmente sem inocência e com cumplicidade.
Boletim NPC – Um exemplo recente dessa falta de inocência da imprensa.
Carlos Dorneles – Eu acho que todos os episódios da guerra do Iraque e do Afeganistão são exemplos da falta de inocência da Imprensa. Quem tinha poder usou a imprensa para mostrar um conflito que envolvia aqueles que defendiam uma pretensa civilização superior contra uma civilização bárbara, com uma religião esquisita de pessoas que não têm amor à vida. Essa foi a visão difundida pela imprensa que é absolutamente errada, equivocada e preconceituosa. E que “cola”. As pessoas começam a aceitar isso de alguma maneira. É a visão do vencedor apenas. Eu não acho que a imprensa foi criada para isso.
Boletim NPC – Há jornalismo onde há interesse econômico?
Carlos Dorneles – É muito difícil, muito difícil, muito difícil. Quando há interesse, e não apenas econômico, mas político e comercial, não existe jornalismo. Você tem de fazer jornalismo desvinculado de tudo isso.