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[Por Laurindo Lalo Leal Filho – Revista do Brasil – Março/2017] Faz pouco mais de cem anos. Em 1910, o sociólogo alemão Max Weber propôs ao 1º Congresso da Associação Alemã de Sociologia uma nova pesquisa. Ele queria saber se “o crescente capital fixo da imprensa significaria também um aumento do poder que permite moldar a opinião pública arbitrariamente”.

No início do século 20, nos primórdios do cinema, antes do rádio e da TV e muito distante da internet, apenas os jornais serviam como meio de comunicação de amplo espectro. Ainda assim já eram percebidos por Weber como fortes instrumentos de poder, na medida em que acumulavam capital e dominavam áreas maiores do mercado.

No entanto, na mesma época e pelas décadas seguintes esse poder seguiu camuflado pela ideia de que a imprensa seria um quarto poder, capaz de acompanhar criticamente as ações dos poderes institucionais. Até que, em alguns momentos, ela exerceu esse papel . Mas, a medida em que as empresas de comunicação cresciam, incorporavam novas tecnologias, agregavam sob uma mesma direção novos veículos, o rumo editorial mudava gradualmente de direção.

O acúmulo de capital necessário para constituir e manter uma empresa de comunicação coloca os seus proprietários numa faixa da sociedade cujos interesses são alheios aos da maioria da população. Comandam empresas que, na sua lógica comercial, em nada diferem de qualquer outra corporação similar, seja ela uma rede de supermercados ou uma fábrica de sabonetes.

Mas há uma diferença crucial: o tipo do produto colocado à venda. A cerveja ou o sabonete têm a sua realização, como mercadoria, esgotada no próprio ato da compra. Comprou, consumiu e acabou. No caso da mercadoria oferecida pela mídia isso não ocorre. Ela direciona correntes de pensamento, modos de vida, posições políticas, decisões econômicas.

Os efeitos de uma notícia de jornal ou de uma série de TV permanecem nas mentes e corações dos consumidores durante muito tempo, posterior ao consumo, às vezes pela vida toda. Quem na idade madura não se lembra de desenhos animados ou de programas infantis vistos nos anos iniciais da vida?

São mercadorias que reúnem nelas mesmas dois tipos de poder: o econômico e o político. Propiciam lucro comercial aos seus produtores e dão a eles possibilidade de interferir nas mais diversas questões públicas, tendo acesso as altas esferas do poder só possível graças a característica especial da mercadoria que produzem.

Lembro de um dono de empresa de comunicação que tinha como interesse comercial preponderante a criação de gado. Apenas como fazendeiro seu acesso ao presidente da República, por exemplo, não seria fácil. No entanto ao combinar essa atividade com a jornalística as portas dos palácios tornavam-se bem mais acessíveis.

É assim que funciona a mídia industrial. Como uma máquina de produzir riquezas bem azeitada sustentada por grande poder político. Embora não seja essa a aparência pública da mídia. Ela teima em se apresentar como instrumento a serviço da sociedade diante dos poderes constituídos sem lembrar que é também um poder em si, voltado aos seus próprios interesses.

Com isso consegue criar uma aura de superioridade aparentando pairar acima das divisões e conflitos existentes na sociedade. O pior é que muita gente acredita nisso e se ajoelha diante dela. Até políticos ditos de esquerda, cujos partidos são alvo de constantes ataques dessa mídia, ao serem convidados para entrevistas não titubeiam e correm para aparecer em suas páginas, nas suas telas ou falar por alguns instantes em suas emissoras de rádio.

Contribuem dessa forma para manter uma aura de superioridade desses meios reforçando a falsa ideia da isenção midiática que, obviamente, não existe. O espaço, geralmente mínimo, dado à vozes dissonantes serve apenas para reforçar a aparência que esconde a essência do poder real defendido pela mídia.

Se no início do século 20, Weber já percebia o aumento do poder da imprensa que permitia moldar a opinião pública arbitrariamente, o que dizer desse papel nos dias de hoje.

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