[Por Henrique Acker*, em 18/06/13] Como jornalista devo sempre me ater aos acontecimentos. É o que pretendo fazer em mais este texto, muito embora se saiba que o ordenamento dos fatos e a narrativa embutem sempre uma interpretação do mundo. Ou seja, o jornalismo vive dos fatos, mas não é neutro, como de resto nada na sociedade.
Preocupado que estava com meu filho mais novo, depois de receber ligações que confirmavam que ele ainda não chegara em casa e notícias de que havia confusão na Assembleia Legislativa, deixei a manifestação que tomava a Cinelândia por volta das 20h e parti para a Assembleia Legislativa, nas imediações da Praça XV, no Centro do Rio. Eu e um grupo de alguns milhares de manifestantes.
Quando me aproximei da ALERJ já havia uma massa de gente que assistia a um grupo de pessoas atirando objetos contra as portas do prédio. Os portões haviam sido fechados e as luzes apagadas. De dentro só o que se via era o uso bombas de gás e extintores de incêndio contra os que conseguiam se aproximar do lado de fora.
Ao contrário do que divulgaram os noticiários das Organizações Globo, ninguém invadiu ou tentou invadir a ALERJ. Os vidros quebrados e depredações do lado de dentro ocorreram justamente porque a PM tentava impedir a ocupação das escadarias, formando barricadas para se proteger no saguão de entrada. Se os manifestantes quisessem invadir a ALERJ, como noticiou a Globo, o teriam feito até com facilidade. Ao contrário, a multidão ficou do lado de fora.
Minutos antes um cordão de policiais bloqueara a calçada em frente à escadaria, provavelmente com a orientação de impedir que os manifestantes tomassem a entrada do prédio, como fizeram na passeata de 13 de junho. Ocorre que o propósito da turma era justamente ocupar a escadaria da ALERJ. Quando perceberam que não se tratava de um grupo pequeno, mas de uma massa de umas dez mil pessoas, os policiais recuaram e foram para dentro do prédio.
Do lado de fora, na Praça XV, se ouvia estampidos de bombas e até de tiros, mas a multidão, concentrada na Rua Primeiro de Março, não arredava pé. Ao lado do prédio da Assembleia um carro oficial dava sopa, quase solitário. Logo uma turma virou o veículo e tocou fogo. Em frente à escadaria outro grupo recolheu e queimou lixo, alimentando uma fogueira e criando uma roda de manifestantes que circulava as chamas pulando e dançando.
Outro grupo de PMs investiu pela Rua São José, atirando bombas. Eram uns vinte, mas a massa não dispersou. O revide de pedras, paus e garrafas de água não demorou e foi inevitável. Acuados, depois de uns dez minutos de confronto, os policiais bateram em retirada. Foi o suficiente para que um grupo grande de manifestantes avançasse sobre a São José. No meio alguns, mais exaltados, partiram para quebrar as vidraças de uma agência bancária, os vidros de um cartório e de um bar.
Por volta das 21 horas chegaram alguns carros de bombeiros. A multidão abriu caminho pacificamente para os veículos. Eles apagaram alguns focos de incêndio, fizeram seu trabalho normalmente e em momento algum foram hostilizados. Isso foi o que eu presenciei entre 20h e 21h nas imediações da ALERJ.
Ninguém “invadiu” a ALERJ, que sempre foi tratada como “a casa do povo”. Os parlamentos e palácios de governantes estão sendo alvos das manifestações em todo o país e não sem razão. Afinal, são os senhores parlamentares, prefeitos e governadores os responsáveis pelo mar de podridão que se instaurou neste país. Ou alguém tem dúvida?
* Henrique Acker é jornalista formado pela UFRJ e Assessor de Imprensa da ASSIBGE-SN e radialista – www.blogdoacker.wordpress.com