Por Gustavo Gindre, publicado na edição 761 do Observatório da Imprensa
Há tempos venho insistindo num argumento. O processo de convergência acentuou a penetração dos grandes conglomerados de mídia e trouxe com eles novos players como as empresas de telecomunicações, os fabricantes das smartTVs, Google, Amazon, Apple, Netflix e outros. Diante disso, aquela conversa de que a comunicação no Brasil é controlada pelas tais nove famílias simplesmente não é mais verdade. O tempo agora é outro. O mercado brasileiro de comunicações está cada vez mais dividido entre os grandes grupos estrangeiros e a Globo. O resto não vale uma nota de três reais.
E se antes era ruim, agora pode ser ainda pior, porque o desafio de regular esses gigantes transnacionais pode ser ainda maior do aquele de regular os coronéis da velha mídia. Senão, vejamos.
1. A OI, “super tele” que o governo Lula ajudou a criar quando alterou a regulamentação e permitiu que a Telemar comprasse a Brasil Telecom, tem um endividamento oneroso cerca de 50% maior do que a soma dos endividamentos de todas as suas principais concorrentes (Telefonica, Embratel, TIM, Claro, NET, GVT e Algar). É difícil imaginar como essa empresa conseguirá lidar com uma dívida tão grande, com as enormes demandas de investimentos do mercado de telecomunicações e com a sanha por dividendos demonstrada por seus controladores (e que levou à demissão de seu ex-presidente, Francisco Valim).
2. A receita líquida da Globo (mesmo sem incluir os jornais e as rádios do grupo) é mais de seis vezes superior à receita líquida da Abril S.A., o segundo maior grupo de mídia do Brasil. Se forem acrescentadas a receita líquida do SBT, do grupo OESP e da RBS, mesmo assim a soma não alcança um terço da receita líquida da Globo.
3. O mesmo fenômeno se repete no lucro líquido da Globo. Se somarmos Abril, SBT, OESP e RBS, o lucro líquido da Globo é cerca de 11 vezes maior.
4. Só os jornais da família Marinho (Infoglobo) já são hoje o terceiro maior grupo de mídia do país, atrás apenas da própria Globo e da Abril.
Nichos de mercado
5. O endividamento oneroso da Globo é menor do que seu lucro líquido obtido apenas em 2012.
6. Já o endividamento oneroso da Abril S.A. é mais de dez vezes superior ao patrimônio líquido da empresa. Isso ajuda a explicar o tamanho da crise da Abril e porque os Civita começam a apostar mais em educação do que em mídia.
7. Embora seja o homem mais rico do mundo, Carlos Slim ainda sofre para conseguir lucros expressivos de suas empresas brasileiras (Embratel, Claro e NET). Principalmente a Claro segue sendo seu calcanhar de aquiles e mais uma vez a empresa fechou o ano com lucro líquido negativo.
8. Os grandes conglomerados mundiais de comunicação (Warner, Disney, Viacom, etc) não constam dessa relação porque suas empresas no Brasil (distribuidoras de cinema e programadoras de TV paga, por exemplo) são meros escritórios que repassam o lucro obtido no país para suas matrizes no estrangeiro.
9. Para quem tinha alguma dúvida, os balanços de 2012 são definitivos. A Globo é o único grupo de comunicação de capital brasileiro capaz de sobreviver no médio prazo. Todos os demais são minúsculos frente aos concorrentes estrangeiros e serão tragados ou terão que se contentar em ocupar nichos bem específicos. A ausência de políticas públicas gerou uma situação gravíssima para o futuro de nossa democracia.