Publicado por Adital

Mesmo depois da suspensão da liminar que determinava a reintegração de posse e desocupação imediata da comunidade indígena Guarani Ñandeva no tekoha Yvy Katu, da Fazenda Chaparral, na terça-feira (17), indígenas anunciaram, ontem (18), que não vão cumprir as outras decisões judiciais, exigindo do governo a finalização do processo de demarcação de terra.

De acordo com o informe publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a comunidade afirmou que a decisão não mudará a realidade da situação dos guaranis. “Nós não ficamos aliviados com essa decisão da Justiça, porque ela não muda nada. Nós continuamos mobilizados, resistindo contra ações dos latifundiários”.

Foto: CIMI

Foto: CIMI

Em carta aberta à Presidência da República e ao Ministério da Justiça entregue nesta quarta-feira ao Ministério Público Federal (MPF), os índios declararam que a decisão não mudará nada. “Recebemos a notícia da suspensão da reintegração de posse de uma das 14 fazendas em Yvy Katu. Não ficamos nem felizes nem tristes com isso. Isso não muda nada para nós Guarani. Para nós, essas 14 fazendas não existem. Toda essa terra faz parte de um mesmo tekoha, um mesmo território, chamado tekoha Yvy Katu”, apresenta o documento.

Os índios estão aproximadamente 80 dias acampados nas próprias terras e não pretendem sair. Para eles, as terras das fazendas sempre lhes pertenceram e não estão sujeitas à venda. “Nós estamos há mais de 78 dias e 78 noites acampados em nossa própria terra e vamos ficar por mais dois mil anos e depois para sempre. Nós não vamos sair. Terra indígena nunca foi de fazendeiro. Terra indígena sempre foi terra indígena. Se os fazendeiros querem comprar terra, vão comprar em outro lugar. Se querem cobrar pela terra, paguem antes pela floresta que estava aqui e que foi acabada”, defende a carta.

Os guaranis não estão dispostos a fazer acordos. Ainda segundo a carta, nada vai fazer com que eles mudem de posição. “Estamos prontos para morrer. Demarcação agora é guerra. Não existe acordo. Não adianta pressionar. Não vamos ficar apenas com 10% de Yvy Katu. Agora é 100%. Parece que ninguém está acreditando em nossa luta. Será que estamos falando à toa? Já carregamos muito indígena Guarani e Kaiowá ensanguentado no braço. Vocês estão esperando mais uma morte para se importarem com Yvy Katu?”, finaliza o documento dos indígenas, levantando o questões sobre o principal problema da comunidade ao governo.

TRF suspende liminar

O Tribunal Regional Federal suspendeu a liminar que determinava a reintegração de posse e desocupação imediata da comunidade indígena da Fazenda Chaparral, declarada terra indígena pela União em 2005 localizada no município de Japorã, Mato Grosso do Sul.

A decisão permitiu a permanência de 150 indígenas que ocuparam a fazenda em outubro deste ano. O parecer do Tribunal diz que a medida tem a finalidade de evitar um violento conflito armado, além de mortes, já que a comunidade indígena se mostra firme em resistir a qualquer ordem de desocupação.