[Por Mark Weisbrot/ Folha de S.Paulo] Telegramas dos EUA divulgados pelo WikiLeaks deixam claro que as tropas estrangeiras que ocupam o Haiti há mais de sete anos não tem razão legítima para estar no país. Também mostram que esta é uma ocupação americana, assim como as do Iraque e Afeganistão, e faz parte de uma estratégia adotada pelos EUA há décadas para negar aos haitianos o direito à democracia e autodeterminação.

Um documento americano informa como os EUA tentaram forçar o Haiti a rejeitar US$ 100 milhões anuais em ajuda porque vinham da Venezuela. Como o presidente René Préval se recusou a fazê-lo, o governo americano se voltou contra ele. Consequentemente, Washington reverteu os resultados do primeiro turno da eleição presidencial de novembro de 2010, para eliminar o candidato apoiado por Préval. Isso foi feito por meio da manipulação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de ameaças abertas de cortar o auxílio pós-terremoto concedido ao país se ele não aceitasse a mudança.

Tudo isso está amplamente documentado. As tropas da ONU ocuparam o Haiti depois de os EUA organizarem a deposição do presidente haitiano democraticamente eleito Jean-Bertrand Aristide, em 2004. Cerca de 4 mil haitianos foram perseguidos e mortos no período que se seguiu ao golpe, enquanto as tropas da ONU “mantinham a ordem”. O Brasil não é um império, como os EUA, e não tem razão para ser parceiro júnior de um, especialmente em empreendimento tão brutal e censurável.