Por Sheila Jacob
Em 2013 completam-se 20 anos da Chacina da Candelária, quando mais de 70 crianças e adolescentes que dormiam perto da Igreja da Candelária foram vítimas de uma ação de extermínio da polícia carioca. Na ocasião, oito morreram e dezenas ficaram feridas. Nesta sexta-feira, 19 de julho, familiares de vítimas da violência e militantes em defesa dos direitos humanos organizaram um ato público em memória da data e para exigir que outras chacinas não continuem ocorrendo. De manhã foi realizada uma missa e um ato ecumênico e, depois, os manifestantes saíram em marcha até a Cinelândia, onde além das palavras de ordem houve apresentações culturais em frente à Câmara dos Vereadores.
“O ato Candelária nunca mais é para não deixar cair no esquecimento o que ocorreu e mostrar que essa violência acontece todos os dias contra pobres, negros e favelados. De lá para cá, não avançamos muito, mas não vamos deixar de lutar” disse Sônia Araújo, irmã de Wagner dos Santos, um dos sobreviventes da chacina de 1993. Para exemplificar a atualidade dessa luta, ela lembrou o dia 24 de junho deste ano quando, em uma ação policial na Nova Holanda, conjunto de favelas da Maré, nove pessoas foram assassinadas e outras ficaram feridas.
O cientista social Alexandre Magalhães, da Rede Contra a Violência, reforçou que o principal objetivo do ato é, para além de lembrar, mostrar a continuidade da violência do Estado principalmente em favelas e periferias, o que na opinião dele tem aumentado nos últimos anos. “Estamos vivendo um momento de consolidação e legitimação desse tipo de repressão, e a chamada grande mídia colaborou bastante para justificar essas ações”. Para ele, essa situação mudou um pouco por causa das redes sociais, porque hoje é muito mais difícil silenciar mortes e desaparecimentos. “Surgiram muitas reportagens isoladas, mas no geral as matérias continuam a criminalizar a pobreza e os movimentos sociais, o que a longo prazo ajuda a justificar esse tipo de ação” observa o militante.
Desmilitarização da polícia já!
- Mães de Maio defendem desmilitarização da polícia
Para Magalhães, uma das principais bandeiras a ser defendidas, hoje, é a desmilitarização da polícia, e o momento atual pode ajudar nesse tipo de questionamento porque a violência que antes estava concentrada nas favelas e periferias está chegando a outros lugares. Para Débora Silva, uma das Mães de Maio de São Paulo presente na passeata, exigir a desmilitarização é importante porque a polícia não pode agir contra a população como se estivesse em guerra. Ela criticou ainda a falta de apoio da Prefeitura do Rio no fornecimento de lanches e ônibus para os jovens que participaram da caminhada. “A política de segurança pública do Sérgio Cabral é de opressão e extermínio. O Estado matou e continua violentando, pois enfraquece a luta de quem quer lembrar”.
Além das chacinas, Deize Carvalho, moradora do Cantagalo, vem denunciando a violência cometida por policiais da UPP nas favelas do Rio de Janeiro. Ela perdeu o filho Andreu, de 19 anos, que foi torturado e morto nas dependências do Degase em 2008. De lá para cá, não parou de lutar. “Nas favelas não temos mais direito à cultura, à diversão, até nosso direito de ir e vir está comprometido. Além disso, há as ameaças e a truculência contra os defensores de direitos humanos e até os assassinatos que estão aparecendo”, denuncia. O caso mais recente é o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, de 47 anos, após ter sido levado por policiais para a UPP da Rocinha.