Por Sheila Jacob e Thais Tibiriçá
Publicado originalmente no site do projeto Afasta de Mim Este Calese.

Baseado no livro homônimo escrito por Frei Betto, o filme Batismo de Sangue, dirigido por Helvécio Ratton, traz às telas a participação de jovens religiosos na oposição ao regime militar e também as seqüelas psicológicas da tortura sofrida nos porões da ditadura. O longa retrata a vida dos frades dominicanos Ivo, Fernando, Oswaldo, Tito e do próprio Frei Betto. Os religiosos acreditavam que viver o Evangelho significava não apenas a pregação, mas a atuação concreta na defesa da justiça e da liberdade. Mesmo sem pegar em armas, eles tiveram um papel relevante na resistência à ditadura militar.

O filme relata algumas ações dos frades, como a ajuda na viabilização de uma reunião nacional promovida pela UNE e o transporte de pessoas perseguidas pelo DOPS para locais seguros. Mostra também o apoio à Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo que tinha como principal figura o ex-deputado federal Carlos Marighella, na época um dos maiores opositores do governo. Frei Betto, ao ser transferido para o Rio Grande do Sul, ajuda os resistentes a fugir do país pela fronteira. 

Com cenas que causam arrepios ao espectador, o filme dá destaque às seqüelas físicas e psicológicas advindas da tortura. Presos, os frades são levados para o DOPS e depois vão para o Presídio de Tiradentes. Lá, Tito chegou a ser retirado da cela e permaneceu desaparecido durante semanas. Quando retornou, não se agüentava em pé, e seus pensamentos já estavam atormentados. Após a volta do amigo Betto, na prisão, escreve uma carta de denúncia às torturas sofridas, sendo assinada pelo próprio Tito. A carta chega à imprensa estrangeira, e o frei dominicano passa a ser conhecido como um grande resistente à ditadura.  Em dezembro de 1970, ele é incluído na lista de presos políticos trocados pelo embaixador suíço seqüestrado.

A partir de então Tito nunca mais seria o mesmo, diariamente perseguido por recordações amargas de espancamento na prisão. Os tratamentos psiquiátricos não o curaram, e seus pensamentos conturbados agravaram-se com o passar dos anos. Era atormentado principalmente pelas lembranças do delegado Fleury, seu principal algoz e o nome mais famoso entre os integrantes do DOPS de São Paulo. Fleury também foi o responsável pela tortura dos freis Fernando e Ivo, com o objetivo de conseguir informações sobre o paradeiro de Carlos Marighella.