Por Sérgio Domingues
A revista CartaCapital (nº 71, dezembro de 2005) trouxe uma excelente reportagem chamada “De Bonner para Homer”. Ela dá pistas sobre os mecanismos que o mais assistido telejornal do país utiliza. Entre eles, explicar para esconder e transformar o negativo em positivo. A matéria foi escrita pelo sociólogo, jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Laurindo Lalo Leal Filho. Relata a visita de um grupo de professores da USP a uma reunião de pauta do Jornal Nacional, em 23 de novembro [ver remissões abaixo]. A reunião foi coordenada por William Bonner, que além de ser o apresentador do programa, também é seu editor-chefe.

Durante a reunião, Bonner diz que uma pesquisa realizada pela Globo identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Seria um sujeito preguiçoso, burro e que adora ficar no sofá, assistindo TV, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. Ou seja, alguém parecido com Homer, o famoso personagem da série Os Simpsons.

Até aí, sem mistério. Um telespectador com um perfil como este não é exclusividade do Brasil. É uma característica da era da televisão. Luis Fernando Verissimo disse, certa vez, que a fogueira deve ter sido a TV do homem das cavernas. O sujeito devia ficar ali, olhando hipnotizado para o fogo, como fazemos hoje em nossas salas de estar, quando assistimos à TV. A diferença é que, talvez, naquela época, o espectador do fogo, podia até pensar em algo. Até filosofar, quem sabe. Algo muito difícil, quase impossível, pode ocorrer com o ser humano moderno e sua colorida televisão.

Identificar um fenômeno assim não tem nada demais. O problema é o que fazer com isso. No caso do JN, seus realizadores sabem muito bem o que fazer. Querem continuar a ter o lerdo e desmiolado Homer Simpson como seu telespectador médio.