O lançamento do jornal Brasil de Fato, na noite do dia 18 último, em São Paulo, reuniu mais de 700 pessoas no Teatro Oficina. O economista Plínio de Arruda Sampaio Jr., do Conselho Editorial do jornal e o primeiro a falar, apresentou o desafio do jornal: “mostrar as contradições da sociedade brasileira e não ocultá-las”. Brasil de Fato, como destacou o economista, nasce com o compromisso umbilical com a transformação do Brasil numa sociedade justa, livre e democrática.  

         Plínio apontou a luta contra o imperialismo no Brasil, na América Latina e no mundo como uma das trincheiras do jornal.  Brasil de Fato não seguirá a agenda da burguesia brasileira. Seguirá a agenda do povo brasileiro que tem necessidade de “teto, terra e trabalho”. E. criticou o totalitarismo da imprensa brasileira. “Brasil de Fato não se alimentará do cinismo, da futrica nem do poder econômico dos endinheirados”.

         O integrante do Conselho Editorial disse que o jornal, cujo o número 1 será distribuído a partir do dia 10 de março, se pautará pela idéia de José Marti: Não cumpre com o seu dever quem cala, mas quem cumpre”. 

Salve o prazer

O “anfitrião” da noite, o diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Correa, iniciou sua fala de forma animada e inusitada: levantou os braços  e fez um “pot-pourri” de canções brasileiras e terminou com o refrão da música “Festa Imodesta”, de Caetano Veloso: “Salve o prazer! Salve o prazer!”

Foi assim que ele saldou a chegada do jornal BF, para quem deve “sambar esse Brasil”. O diretor de “Rei da Vela” e “Roda Viva” arrancou aplausos do público ao dizer que a nova esquerda brasileira tem de ser inventora e que o jornal BF não é um projeto, mas um movimento.

Além do eixo Rio-SP-Br

      O editor-chefe do BF, José Arbex Jr., disse que o jornal não pode ser encarado como uma atividade de um grupo de jornalistas, “nem sequer a expressão da vontade de um conselho político e editorial, nem sequer a expressão dos movimentos sociais que o sustenta”.

O jornal, para José Arbex, é muito mais. É a expressão da unidade. Unidade que foi alcançada, como lembra o editor-chefe do BF, no plebiscito da Alca, em setembro do ano passado.

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O dinamismo da publicação será garantido com a formação e atuação dos comitês de apoios que devem ser instalados em todo o Brasil. “Os comitês serão fundamentais para a vida do jornal. Nós não queremos fazer um jornal focado no eixo Rio-SP-Br. Isso seria a morte do jornal. Isso seria repetir o modelo de jornal que já existe”.

Brasil de Fato levará às manchetes o que os outros jornais ocultam. Arbex citou o caso da ameaça “deserto verde”: monocultura de eucalipto que ameaça o ecossistema de várias regiões do País, como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Patativa do Assaré

O lançamento paulista contou com a presença do jornalista e escritor Fernando Morais; de frei Carlos Josafá, que participou do jornal “Brasil Urgente”; de Dom Tomás Balduíno; da atriz Letícia Sabatela.

A Companhia do Latão apresentou a peça “Frida, a foca”, divertindo o público e levantando algumas questões da profissão do jornalista: o mito da imparcialidade, os manuais de redação e a vida real.

Na parte musical, o lançamento do jornal esteve “recheado” de coisas boas: Celso Viáfora, o percussionista Dinho Nascimento, Zé Geraldo e Chico César. O cantor paraibano fechou a noite em alto estilo. Chico César cantou “Triste Partida”, de autoria de Patativa do Assaré e imortalizada na voz de Luiz Gonzaga. Meio de improviso, pediu desculpas ao público, e pegou a letra da música manuscrita, também de improviso, em mais de sete papéis sulfites. Mas mesmo assim a apresentação foi emocionante até  com alguns dos presentes se arriscando no acompanhamento.

A estrofe final ecoou no Teatro Oficina junto com os aplausos do público:

Distante da terra tão seca mais boa,
Exposto à garoa
A lama e ao paú
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Vivê como escravo
Nas terras do Sú .
  

(Rosângela Gil – Santos)

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