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Por Rosângela Ribeiro Gil – texto publicado originalmente no site do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, deposto pelos militares em 1964, em entrevista coletiva à imprensa, no dia 11 último, em São Paulo, defendeu a realização de duas grandes reformas nacionais: a política e a dos meios de comunicação. “Não é possível que 11 famílias controlem a mídia num país com 200 milhões de pessoas”, criticou e defendeu seguir o exemplo da Argentina, que discutiu durante anos a nova “Ley de Medios”, que estabeleceu regras mais democráticas, menos comerciais e monopolizantes na imprensa local. Da mesma forma, ele imagina termos um parlamento renovado e mais representativo das forças populares da sociedade brasileira, “não é possível mantermos regras que beneficiam o poder econômico e empresarial no processo eleitoral”.

Para ele, muitos dos meios de comunicação brasileiros continuam com as mesmas posturas e posições que adotaram ante o golpe, na década de 1960. Por isso, desacredita das retratações que alguns jornais, como o Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, fizeram, em março último, quando vários atos lembraram os 50 anos do golpe militar e civil. “Precisamos saber se eles assumem uma revisão histórica do que fizeram”, observa, acrescentando que pedido de desculpa apenas não basta.

Ele lembra que esses órgãos de imprensa ajudaram a construir uma história que escondeu a realidade brasileira da época, “principalmente sobre a figura do presidente Jango que, durante muito tempo, foi vilipendiada e seu governo apresentado como fraco, titubeante e que os militares intervieram por aclamação da sociedade civil”. E prossegue: “Quando sabemos, 50 anos depois, por liberação de documentos e pesquisas, que não era bem isso. Não se derruba um governo faltando tão pouco tempo para as eleições.”

Vicente observa que derrubaram o governo do seu pai – que tinha, como colaboradores, nomes de projeção nacional e internacional, como Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Evandro Lins e Silva e Paulo Freire – porque ele tinha um projeto de Nação. “E isso, consequentemente, subtraía privilégios das elites brasileiras daquela época.”

Dinheiro da CIA
Na recuperação da história daqueles dias, Vicente diz que o Instituto Presidente João Goulart tem, em seu poder, documentos sobre uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), que foi presidida pelos então deputados Rubens Paiva (assassinado pela ditadura militar) e Ulysses Guimarães, onde mostram que 142 parlamentares foram eleitos, naquela época, financiados pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) – organização anticomunista fundada em maio de 1959, por Ivan Hasslocher. O próprio embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, em novembro de 2002, afirma Vicente, confirmou que o governo estadunidense gastou cinco bilhões de dólares de verbas secretas da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) “para comprar redações, jornalistas, generais e militares para derrubar o governo de Jango”. Uma trama, acrescenta, que vinha sendo articulada desde o governo do presidente John Kennedy, assassinado em novembro de 1963. “Gordon é mantido na administração de Lyndon Johnson para levar a articulação do golpe adiante.”

A internet
Vicente observa que é a mídia alternativa que vai furar o bloqueio da imprensa empresarial. “Os meios de comunicação tradicionais estão sendo extintos pela internet”, acredita. Para ele, agora a sociedade conta com uma multiplicidade de informação, notícias que colocam em jogo o que é produzido pelos meios que, enquanto pedem desculpas pelo que fizeram em 1964, continuam pagando pessoas para “nos chamarem de “gigolôs” da história, para distorcerem os fatos. Eles mantêm essas “viúvas” da ditadura nas redações”. “A sociedade evolui e a nossa grande conquista, com a internet, é exatamente desmoralizar essas pessoas.”