Que a cobertura de guerras – com isenção e imparcialidade – sempre foi uma utopia para a imprensa ninguém duvida. Phillip Knightley, em seu livro A Primeira Vítima, um “clássico” no assunto, não nos deixa mentir: ali, ele atesta que a primeira vítima numa guerra é a informação — leia-se a liberdade de expressão.
O que é duvidoso quando não absurdo, chocante e beirando o non sense, é a maneira tosca como a notícia jornalística foi manipulada, desencontrada e ridicularmente divulgada pelos meios de comunicação, nos últimos conflitos (fortemente) armados que presenciamos no final do século 20 e no início do 21: as guerras do Golfo e Afeganistão, tendo como protagonistas os Estados Unidos e como coadjuvantes Iraque, Osama Bin Laden e o Talebã.
De olho nesse carnaval de censura descarada e de press releases da Casa Branca — rarissimamente a imprensa ocidental se deu ao trabalho de ir ver o estrago que acontecia in loco, debaixo dos bombardeios cerrados que aparentam assépticos videogames –, o jornalista brasileiro Carlos Dorneles também mandou bala: compilou os maiores disparates publicados na mídia impressa internacional e brasileira, que foram classificados de “cobertura”, nos conflitos pós-11 de setembro.
Está tudo lá, no livro Deus é Inocente (Editora Globo, 276 páginas, R$ 32,00).
Se os fatos são assustadores, mais ainda é o modo como a hegemonia política norte-americana conseguiu se impor — sem a mínima resistência da imprensa.
Quase que cronologicamente, Dorneles reproduz manchetes e trechos de matérias, cujo tom ufanista pró-EUA chega a ser vergonhoso.
Trata-se de uma prática tão comum adotar o tom norte-americano como o lado “civilizado” que sempre tem razão — e que, efetivamente, manda –, que o leitor ficará corado quando não irado.
E, talvez, mais esperto agora que há a possibilidade de acontecer uma nova guerra entre EUA e Iraque.
Será mais um show de parcialidade e aceitação.
Posto isso, não é de se espantar que as justificativas do governo Bush na “guerra contra o terror” sejam reproduzidas na imprensa ocidental em geral sem cortes — e muito menos análise.
Mais uma vez, grandes conglomerados de mídia vão ficar um só house organ globalizado e institucionalizado de serventia a Washington?
Muito provavelmente.
Mais um motivo para ler Deus é Inocente. Com a facilidade de ser em nossa língua — esse tipo de bibliografia ainda é rara no Brasil –, o livro revela a realidade sobre a Guerra do Afeganistão não mostrada pela mídia.
E mostra como ela pode vender ideologias, publicar fatos não comprovados, transformar religiões e povos em ameaças para toda a civilização.