No escritório da CSN, em São Paulo, 12 trabalhadores contraíram a doença. Na Vale, em Itabira (MG), pelo menos 188 foram contaminados, e na unidade da mineradora em Parauapebas (PA), 61 morreram

O número de trabalhadores e trabalhadora infectados pelo novo coronavírus  nas empresas de mineração, considerada atividade essencial pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL), tem aumentado cada vez mais em unidades das empresas do setor em todo o país.

No escritório da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Santo Amaro, bairro da Zona Sul da capital paulista, 12 trabalhadores contraíram a Covid-19, doença provocada pelo coronavírus; na Vale, em Itabira (MG), pelo menos 188 foram contaminados, e na unidade da mineradora em Parauapebas (PA), 61 morreram e mais de mil se contaminaram. 

Os casos da CSN foram denunciados por trabalhadores que não quiseram se identificar, com medo de represálias, ao Painel da Folha. Segundo os colunistas, os trabalhadores afirmaram que o aumento dos casos se deve a política da empresa de adota um home office seletivo, ou seja, a empresa estaria avaliando caso a caso quem pode trabalhar em casa e poucos conseguiram esse direito. Procurada pela reportagem do Painel, a empresa informou que afastou trabalhadores de grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, mas não informou se a política se estendeu a todo o quadro da empresa.

No site da CSN há aviso informa que, “diante dos casos crescentes do novo coronavírus (COVID-19) no Brasil, a CSN está tomando todas as medidas necessárias à prevenção da circulação interna do vírus – todas alinhadas com os protocolos da OMS e Ministério da Saúde”.

O comunicado lista das medidas, que são: reforço nos procedimentos de limpeza e desinfecção; disponibilização de álcool 70% em geral para limpeza das mãos; monitoramento dos colaboradores que possam apresentar qualquer sintoma relacionado à Covid-19; médico nas unidades para realizar pré-atendimento e tirar dúvida dos colaboradores; liberação para realizar o exame no convênio médico; e, por último, comunicação massiva sobre o tema por e-mail, nas TVs, reuniões com o time da Operação.

O Observatório da Mineração revela que em Itabira, no interior de Minas Gerais, pelo menos 188 trabalhadores da Vale foram diagnosticados com Covid-19, esse número representava mais da metade dos 361 casos confirmados no município até esta quarta-feira (3).

Ainda de acordo com o site, que desde 2015 investiga o setor mineral, a Superintendência Regional do Trabalho de MG fez uma auditoria e pediu a intervenção das operações da Vale, mas a mineradora conseguir reverter o fechamento na Justiça.

No dia 27 de maio, o Observatório publicou outra reportagem denunciando a situação dos trabalhadores da Vale no Pará. Segundo o site, em Parauapebas foram confirmados 1.603 casos e 61 mortes por Covid-19 até aquela data.

O dia 10 de abril, foi registrada a primeira morte por Covid-19 de um trabalhador da Vale em Parauapebas. A prefeitura da cidade confirmou o óbito de um homem de 42 anos que trabalhava na Usina de Beneficiamento Serra Norte, no Complexo de Carajás, sem histórico de viagem e sem comorbidades. De acordo com o site Observatório da Mineração, o trabalhador começou a se sentir mal em 29 de março, deu entrada no serviço de saúde do hospital Yutaka Takeda no dia 04 de abril e, na quarta (8), quando a saúde piorou, ele foi encaminhado para a UTI Intensicare onde faleceu. 

Em vídeos obtidos pela reportagem, há relatos de diversas fontes acusando a Vale de omitir os resultados dos exames para que não constem no sistema municipal de saúde. A mineradora e a prefeitura negaram, mas a OAB e o Ministério Público Federal e Estadual entraram com ações para checar a situação.

Na unidade da CSN de Congonhas (MG), 6 mil trabalhadores se revezando em turnos ininterruptos de 24 horas para extrair 30 milhões de toneladas de minério por ano, segundo o Observatório da Mineração, como se a mineradora fosse uma zona livre de contaminação.EM

Em matéria publicada no site da RBA de abril, o presidente do Sindicato Metabase Inconfidentes, que representa os trabalhadores da CSN em Congonhas, afirmou que a postura da empresa é “um crime”. Segundo ele, a regra de trabalhar de casa para parte do efetivo valeu somente para alguns trabalhadores do escritório central em Pinheiros, na capital paulista, as as medidas anunciadas no site da empresa, disse o dirigente, na prática, foram ignoradas, e a negociação é inexistente.