Nascida em 1942, a guerrilheira Inês Etienne Romeu, mineira de Pouso Alegre, deixou-nos no último dia 27 de abril, em Niterói, cidade que adotou para viver seus últimos anos de vida. A luta dessa grande mulher contra a ditadura é exemplar na História do país e jamais deve ser esquecida. Sua resistência à opressão do regime militar a levou a ser a única presa política a sobreviver na chamada “Casa da Morte” em Petrópolis, um centro clandestino do Exército, no qual ocorreram inúmeras violações de direitos humanos. Lembrar-se de Inês, portanto, é um dever cívico. No próximo dia 16, às 18h, ela será homenageada post mortem com a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a ser entregue a seus familiares pelo deputado estadual Flavio Serafini (PSOL). Na sessão solene no Plenário, parentes, amigos e admiradores da trajetória dela em defesa da democracia estarão presentes com o intuito de preservar a memória de quem arriscou a vida pelo Brasil e travou uma enorme batalha para que as atrocidades da Casa da Morte viessem à tona.
Caçula de cinco irmãos, Inês iniciou sua trajetória humanista ao cursar Sociologia na Universidade Federal de Minas Gerais nos anos 1960. Atuou no Sindicato dos Bancários de Minas Gerais e, ante a crescente repressão do regime miliar, foi obrigada a ingressar na clandestinidade. Militou na Política Operária (POLOP), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Encarcerada, seu sofrimento na Casa da Morte pode ser sintetizado por um depoimento dela absolutamente chocante. “Meus carrascos afirmaram que me suicidariam na prisão, caso eu revelasse os casos que vi e que me contaram durante os três meses de minha prisão, pois reconheceram que eu sabia demais”. Inês revelou que eles queriam que ela morresse “naturalmente”, a fim de que não fossem responsabilizados. Sua sobrevivência permitiu que a verdade viesse à superfície, para frustração dos carrascos que a submeteram a choques elétricos, espancamentos e toda a sorte de humilhações. A descrição de Inês sobre todo esse sofrimento no dia a dia da Casa da Morte se estendeu às atrocidades sofridas pelos demais presos – todos assassinados – neste centro clandestino de tortura.
Em nome da verdade, Inês iludiu seus algozes e sobreviveu. Condenada à prisão perpétua, foi libertada em 1979, com a Anistia. Uma vez livre, pôde denunciar a existência e a localização da casa da morte e seus torturadores.
Na solenidade na Alerj, sua história será relembrada como uma aula de cidadania e amor pela democracia. Um sentimento cada vez mais fundamental nos dias atuais.