Publicado no site do SINTIFRJ 

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[Por Gizele Martins] Claudia Santiago, de 55 anos, é referência na luta pela democratização da comunicação em todo o país. Claudia, jornalista e professora de história, é também fundadora e coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que foi criado em 1994. O NPC é conhecido no Brasil pelos seus cursos, palestras, oficinas e produção gráfica sobre o tema da comunicação sindical, uma luta contra-hegemônica. Alguns anos depois o núcleo passou a atuar também na formação de comunicadores populares. Não, por acaso, nasceu nos últimos anos inúmeros jornais, rádios, TV’s, blogs e meios comunitários nas redes sociais produzidos pelo público periférico e favelado em todo o Rio de Janeiro. Nesta entrevista exclusiva para o Sintifrj, Claudia fala mais sobre a importância de uma comunicação sindical e como ela deve ser feita. Confira!

A comunicação é uma ferramenta que pode melhorar o diálogo com a categoria?

Anos atrás, um jornal japonês na sua primeira edição afirmou o seguinte: “Um partido sem jornal é um exército sem armas”. Ou seja, um sindicato sem jornal é um exército sem armas. Passamos pela era do rádio, da TV e agora chegamos na era digital, da internet e das redes sociais, configurando uma nova forma como as pessoas se comunicam. É extremamente necessário que um sindicato invista em uma comunicação, seja ela imediata ou de longo prazo, mas que seja uma comunicação eficaz. Se um sindicato quer se comunicar e lutar pelos interesses da categoria, ele deve se dedicar a uma comunicação que funcione.

Como um sindicato deve atuar na comunicação contra-hegemônica?

O sindicato deve trabalhar a sua comunicação estrategicamente, focando nos interesses imediatos e de longo prazo. O imediato é tratar sobre temas de interesse principal da categoria: a carteira assinada;  a estabilidade do servidor público; além de outros direitos trabalhistas. É através da comunicação que se consegue conversar com a categoria, mostrando os fatos que estão ocorrendo no Brasil, no mundo, e que afetam o dia a dia da sua categoria. Fato é que, além da formação, a comunicação é uma grande ferramenta. Essa comunicação precisa ser bem feita, ter o assessoramento de pessoas que saibam fazer comunicação. A comunicação sindical precisa ser feita com quem entende de comunicação. Se formos olhar para o outro lado, vamos ver que eles investem em comunicação, em pesquisas, no entanto, precisamos também investir na nossa. Por isso, alguma ferramenta de comunicação precisa existir e ter compromisso com os fatos. Temos que propor uma comunicação diferenciada da que já existe. Um jornal, por exemplo, organiza as ideias, e ele pode ser um instrumento que incentiva as pessoas a participarem das lutas. Além da produção, é necessário pensar na periodicidade. O sindicato também quer passar algo para a sua categoria e a disputa com os meios hegemônicos é muito difícil, por isso, a comunicação deve ser bem feita e ter uma periodicidade regular.

A distribuição é outro fator importante. É preciso que a diretoria, os representantes sindicais e os profissionais de comunicação estejam envolvidos com a distribuição do jornal. É na distribuição que você vai ter um contato direto com a categoria, saber o que ela vai achar do jornal, se a comunicação na internet, na rede social ou no impresso está funcionando.

É possível trabalhar temas diferentes dos que são comuns da categoria? Quais os tipos de mídias se deve trabalhar, investir, melhorar?

A sociedade no geral é conservadora e a comunicação é o ponto principal para essa troca. Pautar a contra-hegemonia é tocar em temas diversificados e que envolvam a sociedade. Exemplo é quando os sindicatos começaram anos atrás a falar sobre o MST. Os sindicatos resistiram quando eram criminalizados por pautarem o MST e, hoje, a maioria dos sindicatos falam com mais tranquilidade sobre um movimento tão importante. Normalmente, a categoria quer saber apenas de temas que estejam ligados ao seu trabalho: hora de trabalho, carteira assinada, férias. Mas, devemos tratar sobre outros assuntos ligados à realidade. Por exemplo, essa categoria vai ao médico, por que não falar dos planos de saúde? A categoria tem carro? Então, é preciso tratar sobre o aumento do combustível. A categoria tem filho? É preciso tratar também sobre a educação pública e particular. Afinal, a categoria vive em determinado espaço em que a vida dela é atravessada por todos os outros direitos ou falta de direitos. É necessário falar sobre violência, sobre sistema socioeducativo, sobre sociedade, sobre a realidade… Isso é uma comunicação contra-hegemônica.