O que é a mídia no Brasil?
Ao longo da exposição, os convidados foram unânimes em afirmar que a mídia hoje no Brasil precisa de regulamentação, em especial no que tange à concentração dos veículos de comunicação nas mãos de menos de uma dezena de famílias, que detém concessões de TV, rádio e comandam os principais órgãos de imprensa do País. Além disso, ressaltaram a arbitrariedade gerada pelo fato de que muitos parlamentares brasileiros também são donos de grandes meios de comunicação e que, portanto, têm o poder de legislar em causa própria.
Segundo Renato Rovai, o que está em debate é como construir a comunicação de forma compartilhada e horizontal. Para ele, é possível afirmar que o desafio da democratização da mídia é hoje mais importante do que o da reforma agrária. Uma vez que sem um amplo espaço nos meios de comunicação será difícil alcançar as transformações sociais pretendidas.
De acordo com Plínio Teodoro, a internet acabou com os atravessadores da informação e hoje é possível que o leitor cheque as notícias diretamente em suas fontes. Afirmou ainda que o advento das mídias não convencionais tem gerado crise nas redações e destacou que as grandes empresas de comunicação estão migrando seu poder de fogo para a internet.
Para o professor Venício de Lima, a mídia é um agente de socialização fundamental, que também define o que as pessoas vão ser. “A ideia que a gente faz da beleza, das relações de gênero etc. vem da mídia. Portanto, mídia é poder e é capaz de definir o que é público e privado. O seu poder é desigual, porque é muito maior do que os demais”. O professor criticou a inexistência de uma legislação que regulamente a comunicação no Brasil. Ele destacou ainda que o crescimento do processo de inclusão digital, que já conta hoje com 65 milhões de usuários de internet no País, ameaça a credibilidade dos grandes veículos de comunicação. “Essa mídia que está aí não vão ser democratizada. É preciso utilizar novos caminhos, como o do movimento dos midialivristas, da mídia sindical, criando uma alternativa”.
A liberdade na internet: força motriz das grandes revoluções tecnológicas
Em seguida, um instigante e desafiador tema foi apresentado aos participantes do Seminário na mesa: “A internet como instrumento de mídia livre”, que contou com a generosa contribuição do pesquisador e professor da pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, Sergio Amadeu da Silveira, e do jornalista e autor do Blog “Vi o Mundo”, Luiz Carlos Azenha. Uma imensa quantidade e informações, dados e reflexões inovadoras foram apresentadas pelos convidados, deixando a certeza de que as novas tecnologias precisam ser incorporadas e melhor utilizadas no movimento sindical – a fim de fortalecer a luta dos trabalhadores, integrar a base à sua representação e fazê-la interagir de maneira mais autônoma, participativa e direta.
Entre os destaques da mesa, a importância da mobilização geral da sociedade brasileira contra iniciativas que visam cercear a liberdade da rede no País, como o projeto do Deputado Eduardo Azeredo, que propõe a criação de mecanismos de controle e monitoramento da internet no Brasil – que vem sendo chamado de “AI-5 digital” (saiba mais).
Para Sergio Amadeu existe uma revolução informacional em curso. “As tecnologias da inteligência aumentam a nossa condição de transformar tecnologia em conhecimento. A metalinguagem digital libertou a tecnologia dos seus suportes. Libertou o som do vinil, a imagem da película etc.”. Neste sentido, Luiz Carlos Azenha acredita que por meio das novas tecnologias as informações sofrem interferência, são transformadas pela interatividade. Além disso, “o custo das novas tecnologias aproximou as pessoas comuns dos antigos produtores de conteúdo”, afirmou.
O que os olhos não veem
Após uma pausa para um café, os participantes do Seminário foram convidados a assistir ao documentário “A revolução não será televisionada”, de Kim Bartley e Donnacha O’Briain, que narra em detalhes o processo de golpe-midiático contra o Governo Hugo Chávez, na Venezuela, em 2002. Os autores do filme são dois irlandeses que, coincidentemente, estavam gravando um documentário no interior do Palácio do Governo venezuelano exatamente no momento em que aconteceu o golpe e, assim, acompanharam todos os episódios – desde as informações falsas veiculadas na imprensa local, o sequestro do presidente Hugo Chávez, a invasão dos oposicionistas ao Palácio, até a retomada do Poder.
A sociedade brasileira na luta contra-hegemônica
À noite um painel especial tratou dos desafios para a construção, mobilização e participação da sociedade civil organizada na Conferência Nacional de Comunicação, convocada pelo Governo Federal para os dias 1º, 2 e 3 de dezembro de 2009. Os palestrantes convidados para essa discussão foram: o gerente executivo de jornalismo da TV Brasil – Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Forestan Fernandes Jr.; o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), José Carlos Torves; e o coordenador do Coletivo Intervozes, João Brant.
Florestan falou sobre o papel da TV pública no processo de democratização dos meio de comunicação, ressaltando que a mídia brasileira não fica muito distante do que acontece na Venezuela, e em outros países da América latina, em função do controle das telecomunicações e da radiodifusão que se deu de maneira a garantir o poder de grupos que têm interesses muito fortes. Para ele, “se não fosse a internet, a gente não teria avançado tanto politicamente”.
“As concessões públicas foram feitas, principalmente, durante o regime militar, e hoje temos um mapa que coloca na mão de políticos as principais emissoras de TV do País. É importantíssimo que vocês saibam que a pressão que vocês podem exercer é muito importante para a luta da TV pública e para a luta da democratização dos meios de comunicação no Brasil”, destacou Florestan.
José Carlos Torves destacou que o desafio da Conferência Nacional de Comunicação será grande. “Temos que chegar no final do ano como uma grande mobilização da sociedade para levar propostas para mudar o quadro nacional da comunicação. Nós temos uma grande expectativa de que vamos abrir essa caixa preta e começar a debater um assunto que a vida inteira foi debatido entre quatro paredes, entre os políticos e os donos dos veículos de comunicação”, afirmou.
Para ele, a mídia é um ator relevante na sociedade democrática e, portanto, é passível de controle, especialmente em relação à concessão pública. “Controle social não é censura. Isso é o tipo da política que tem que sair bem definida da Conferência”, acredita.
João Brant ressaltou que o sistema de comunicação brasileira é concentrado, pouco diverso e pouco plural. Segundo ele, “a liberdade de expressão no Brasil está na verdade na mão de meia dúzia de famílias. Os outros 180 milhões têm apenas a liberdade de mudar de canal. É contra essa lógica em que estamos batendo”. E reforçou o convite para que a CONTEE e outras entidades se envolvam diretamente no processo de construção da Conferência. Brant informou que já há Comitês preparatórios em 23 estados do Brasil e as etapas estaduais devem acontecer até outubro de 2009. “Seria importante contar com o envolvimento efetivo de vocês”, convocou.
Comunicação em notas musicais
Encerrando as atividades do primeiro dia do Seminário, os participantes foram convidados a um coquetel com música ao vivo, apresentado pela cantora Anna Lú e o instrumentista Paulo Canhoto. Na confraternização foram expostos alguns dos principais materiais de comunicação produzidos pelas entidades filiadas à CONTEE de todo o País. Entre o material, destacaram-se cartazes, jornais, revistas, informativos e materiais de campanhas salariais e institucionais dos sindicatos da Confederação. Foram exibidos ainda vídeos institucionais, campanhas publicitárias e programas de TV. Também mereceram destaque na exposição as páginas principais dos sites de todas as entidades filiadas. (Veja aqui)
Comunicação Sindical: desafios e conquistas
O segundo dia de atividades do Seminário de Comunicação da CONTEE ficou reservado para as discussões específicas relacionadas ao movimento sindical e seu papel na luta pela democratização da mídia, bem como a importância da comunicação na ação sindical. Para tratar do assunto prestigiaram a atividade o jornalista e Secretário de Comunicação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Altamiro Borges; o coordenador do departamento de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul, Clomar Porto; e o coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação, Vito Gianotti. Além da Secretária de Comunicação Social da CONTEE, Maria Clotilde Lemos Petta.
Os especialistas traçaram um perfil da realidade da imprensa sindical, enfatizando a necessidade de investimento do setor, valorização da comunicação nas entidades e apresentando a compreensão de que é preciso renovar linguagens, iniciativas e profissionalizar o trabalho, que deve estar sempre integrado e fortemente vinculado ao projeto político e aos objetivos das entidades.
Altamiro Borges destacou a importância da participação e mobilização dos movimentos sociais e sindicais no processo de disputa da Conferência Nacional de Comunicação. Para ele, entre os grandes desafios da imprensa sindical está saber enfrentar o debate da crise financeira mundial, não permitindo que os trabalhadores paguem por ela. Outra batalha, segundo Miro, é a discussão do papel da própria mídia. “Pela primeira vez na história o Brasil vai fazer um Conferência Nacional de Comunicação. É claro que há problemas. Seria um pecado nos iludirmos, mas um crime nos omitirmos. Por isso, temos que colocar mais gente para debater a comunicação, que deve ser entendida como um direito humano. Não vai haver uma democracia participativa se não democratizar os meios de comunicação”, afirmou.
O jornalista Clomar Porto apresentou uma análise muito interessante do processo de planejamento de comunicação de uma entidade sindical, trazendo detalhes da experiência muito bem sucedida do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul. Para Clomar, é preciso que o movimento sindical seja mais contemporâneo na sua concepção, ao combinar os interesses imediatos dos trabalhadores com as lutas históricas da categoria. “Uma maneira de aferir o nível de ação sindical e a combatividade de uma entidade é visitar o setor de comunicação. É preciso disputar a subjetividade da classe”, disse Clomar.
Já Vito Giannotti foi contundente ao afirmar a necessidade de mobilização e valorização da comunicação na luta maior pelas transformações da sociedade que tanto desejam os movimentos populares. Ele ainda elogiou muito a iniciativa da CONTEE e disse que é preciso multiplicar ações como a deste Seminário, promovendo outras edições muitas e muitas vezes. Para Vito, “é preciso perder qualquer ilusão em relação à mídia burguesa e, para isso, é óbvio que é preciso investir na comunicação das entidades”.
Nossas experiências compartilhadas
Após o debate, algumas entidades convidadas apresentaram um relado muito interessante sobre as mais diferentes iniciativas e ações de comunicação desenvolvidas nos sindicatos. As apresentações mostraram o acúmulo do trabalho e as boas experiências foram compartilhadas.
Para a Secretária de Comunicação Social da CONTEE, Maria Clotilde Lemos Petta, responsável pela coordenação da atividade: o Seminário foi um sucesso. “Ficamos muito satisfeitos com a realização do Seminário de Comunicação da CONTEE. Durante a atividade, pudemos aprofundar debates de fundamental importância para a integração dos movimentos sindicais nas lutas mais amplas pela democratização da mídia. Além disso, creio que tenhamos alcançado nosso objetivo, que, desde o princípio, foi aproximar a CONTEE e nossas entidades de base à esse debate, a fim de fortalecê-lo, compreendê-lo melhor e incorporá-lo entre as nossas bandeiras de luta!”.
A iniciativa da CONTEE foi destacada e elogiada pelos palestrantes convidados e também pelos participantes da atividade, que puderam trocar ideias e informações com os principais agentes e lideranças envolvidas na luta pela democratização da mídia. Confira em breve no Portal da CONTEE alguns vídeos com trechos de destaque do Seminário de Comunicação da entidade.