O programa 6 e Meia do NPC e apresentado pela jornalista Claudia Santiago e tem o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Este programa foi ao ar no dia 27 de maio de 2021.
Fake News, ataques à educação pública e o papel da comunicação sindical no 6 e Meia do NPC
Na comunicação sindical está sempre presente a preocupação com a formação e a organização da classe trabalhadora. Comunicação e a formação andam juntas. Assim Leila Moares abriu este programa da série 6 e Meia no NPC.
[Fabiana Batista] No dia 27 de maio Leila Moraes, diretora de comunicação Sintese (Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Sergipe), Mauro Borges (coordenador da Secretaria de Comunicação do Sintepp-PA; e Renata Maffezoli, Jornalista que trabalha na comunicação do Andes 10 anos e diretora do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal foram entrevistados por Claudia Santiago e Kátia Marko, jornalistas do NPC.
Durante a entrevista, Mauro e Leila apresentaram alguns dos materiais produzidos por seus sindicatos. O SINTEPP tem uma revista Espaço Educacional e, recentemente, lançou um livro “Revivências”, que conta a experiência jurídica do sindicato no gênero ficção. Leila lembrou ainda de dois filmes produzidos pelo Sindicato: “Carregadoras de Sonhos”, um documentário que conta a história do cotidiano, dificuldades e trabalho de quatro professores. E “Abraço”, um filme divulgado no aniversário de 40 anos do SINTESE que conta, em gênero ficção baseado em histórias reais, a luta dos professores do estado de Sergipe. “Um filme em que os protagonistas não são os atores e atrizes e sim quem fez a figuração, professores que viveram a histórica luta de 2008”. Ambos dirigidos por Deivison Fiúza.
Este é o último episódio desta temporada do programa. A conversa , além de comunicação sindical, abrangeu os ataques que a Educação vem sofrendo do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que, desde o início de sua gestão vem atacando a categoria não apenas com mentiras, como as já conhecidas ideologia de gênero e kit gay, mas também com as Reformas, que buscam diminuir recursos para o setor e, com isso, precarizá-lo cada vez mais.
Comunicar frente aos ataques que a educação sofre no governo Bolsonaro
“O corte nos orçamentos das entidades, do ensino superior ou básica, é uma forma, já histórica, de cada vez mais estimular a mercantilização da educação”.
Para Renata, a disputa de narrativas é fundamental também fora do meio virtual. “No dia da luta pela educação, 19 de maio, fizemos uma ação no Museu Nacional. Foram projeções que ganharam alcance na mídia local e depois divulgadas nas redes de forma espontânea”. Além disso, o ANDES tem utilizado outdoors e pendurado faixas em diferentes regiões do país para se comunicar com os trabalhadores.
Assim como a jornalista do ANDES, Mauro vê as reformas como grande inimigo do setor de ensino público. E vai além, “vivemos hoje um governo que elegeu a educação pública como seu pior inimigo. Basta ver como ele trata a ciência e a pesquisa científica desde o início da pandemia”. Para o professor, a disputa de narrativa precisa ser feita cada vez mais por sua categoria como um alerta do que eles vivenciam em sua profissão e quais são os riscos, inclusive para os alunos, das reformas implementadas e seus cortes.
Leila, enfatiza que é falsa a compreensão de que Jair Bolsonaro foi eleito sem projeto de governo. Para ela, o projeto de governo é embasado na privatização das instituições públicas. “Vemos aqui em Sergipe um processo contínuo de mercantilização e privatização voltado para a educação básica. Querem transformar nossas escolas em centros empresariais”.
Para ela, é preciso ficar alerta com os subsídios tecnológicos nas escolas que cada vez mais tiram o papel de ensinar do professor. “Está claro que o objetivo é nos colocar no lugar de reprodutores destes materiais”. Com o intuito de que as notícias sejam cada vez mais difundidas, a comunicação do SINTESE tem sete programas de rádio semanais e um espaço em um canal da TV aberta local.
E as fake news?
O tema Fake News é, talvez, um dos principais desafios da comunicação sindical. Isso porque muitas vezes a categoria atingida passa a acreditar ela mesma na mentira. Este é o caso do kit gay do qual os professores foram alvos nas eleições de 2018. Leila relembra que na época, e ainda hoje, seus colegas acreditavam que kit gays eram entregues. “A questão aqui é que eles estavam na escola e nunca receberam nenhum desses materiais”, diz.
A professora explica que em Sergipe as “fakes news” são denominada por muitos de “lei oral”. “Infelizmente a oralidade se constrói até que ela ganhe fôlego e uma mentira se torna verdade com facilidade”.
Algumas vezes o próprio sindicato é alvo de fake news. Este foi o caso do SINTEPP, que precisou responder sobre acusações ao MP do Pará quando houve denúncias embasadas em um dossiê que acusava a direção de corrupção. Mauro explica que a situação causou efeito em parte da categoria “que acreditava nas inverdades”.
A jornalista do ANDES elucida que desconstruir as fake news é um trabalho cotidiano e por isso não basta apenas que a comunicação do sindicato produza conteúdos verdadeiros, mas que a categoria se comprometa a interagir e buscá-lo cada vez mais. “A comunicação sindical do setor da educação tem uma responsabilidade maior porque sua categoria é formada por formadores de opinião e vão levar a sala de aula uma percepção da realidade que o aluno poderá absorver enquanto verdade”.
Ela ainda explica, e Mauro e Leila concordam, que a culpa da desinformação não é apenas da comunicação sindical. “Não podemos esquecer que a internet é um território pago e conduzido por algoritmos. O consumo de informação será traduzido em conteúdo recebido. Se não interagimos, não conseguiremos sair da bolha virtual. Assim como o panfleto não chega ao trabalhador se não formos até ele, a postagem do Facebook precisa ser entregue, seja a partir de curtidas, comentários, marcações ou compartilhamentos”.
E a comunicação em redes, funciona?
Em um questionamento sobre a ampliação dos conteúdos produzidos pelos sindicatos para toda a sociedade, Katia pergunta sobre a utilização da comunicação em redes. Ou seja, a comunicação dos sindicatos — neste caso da educação — trabalharem em conjunto, sobretudo, quando em campanhas nacionais de uma mesma pauta. “Isso pressupõe, é claro, ultrapassarmos algumas disputas políticas”, pontua ela.
Todos os três convidados concordam que há a necessidade de superar as disputas para que os sindicatos possam atuar em conjunto. Entretanto, explicam que há momentos, sobretudo com relação a demandas específicas, em que essa ação não é possível. “Quando a pauta é voltada a questão salarial, por exemplo, não conseguimos trabalhar em redes”, diz Leila.
Isso não quer dizer que não haja disposição. Em pautas nacionais, Mauro e Leila dizem que seus sindicatos são filiados à CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e que há um espaço onde as comunicações fazem a difusão conjunta. Este foi o caso do FUNDEB que mobilizou não apenas os sindicatos da educação, mas todo setor da esquerda em torno da pauta.
No Pará, o SINTEPP participa de um fórum de sindicatos que se organizam no âmbito municipal e estadual.
Renata destaca que os jornalistas sindicais também teriam a oportunidade de produzir um conteúdo “mais robusto caso houvesse produções coletivas sobre um mesmo tema”. E propõe a unificação dos eventos online: “Existem diferentes lives sobre um mesmo tema que pulveriza o público. Já uma ação conjunta pode aglutinar e gerar debates importantes de forma massificada ajudaria muito”. E relembra os twitaços que não apenas sindicatos, mas também movimentos sociais, Frentes, Partidos e tantos outros setores da sociedade já aderiram e tiveram resultado.
Fabiana Batista* é jornalista e faz parte da Rede de Comunicadores do NPC
Edição de Texto e revisão: Moisés Ramalho, jornalista e antropólogo.