Por Marina Schneider
Em sua sétima edição, em 2013, o curso vem estimulando os participantes a multiplicar o conhecimento e formar novos colaboradores de veículos comunitários
Mais de 50 estudantes, trabalhadores e militantes de diversos movimentos participaram do Curso de Comunicação Popular do Núcleo Piratininga de Comunicação, realizado de maio a setembro deste ano. Em sua 7ª edição, o curso se tornou uma inspiração para vários ex-alunos que se engajaram em projetos de comunicação popular e têm realizado diversas atividades de formação em comunicação em várias áreas de cidade. Para a coordenadora do NPC, Claudia Santiago, essa multiplicação é muito positiva, já que o Núcleo trabalha para ajudar a enriquecer e fortalecer a comunicação dos trabalhadores. Só assim será possível criar um mundo diferente desse onde estamos. “Nós queremos que todo mundo comunique sua visão de mundo, sua perspectiva e sua proposta de sociedade. Para nós, quanto mais gente estiver falando, melhor. Então, quanto mais cursos crescerem, melhor”, avalia.
O primeiro fruto: O Curso no Morro Santa Marta
No dia 25 de maio, foi encerrado o primeiro curso de comunicação do Visão da Favela Brasil, coletivo do morro Santa Marta, na zona sul do Rio. Repper Fiell, um dos organizadores, fez o curso de comunicação popular do NPC em 2010 e resolveu replicar a experiência, adaptando às necessidades da sua comunidade. Para ele, o Santa Marta precisa de mais veículos feitos por moradores. O objetivo do curso na favela foi produzir e lançar a primeira edição da revista do Visão da Favela Brasil e também oferecer uma formação política sobre o funcionamento dos meios de comunicação empresariais. Monitores que já participaram do curso do NPC como alunos e como professores também deram aulas de redação neste novo curso, sobre reportagem, linguagem, uso de mídias sociais, entre outros temas. “O curso do NPC me inspirou muito e irá inspirar outros como eu que lutam pela melhoria das favelas e da qualidade de vida dos trabalhadores no Brasil”, disse.
Foi também enquanto era aluno do Curso de Comunicação Popular do NPC, em 2010, que Fiell ajudou a concretizar um sonho antigo de alguns moradores do Santa Marta: colocar no ar uma rádio comunitária. O lançamento do site e a transmissão experimental da emissora foram realizados durante uma aula do curso do NPC, em setembro daquele ano com o auxílio do jornalista Arthur William. Ele emprestou todo o seu conhecimento técnico e político para fazer a rádio funcionar e, ao mesmo tempo, sensibilizar quem participava do projeto sobre o papel de uma rádio comunitária. Além de se envolverem e se emocionarem com a participação neste projeto, os cerca de 50 alunos tomaram consciência de como uma rádio pode desempenhar uma função social na comunidade. Apesar de prestar um importante serviço à comunidade, a Rádio Santa Marta, nascida deste final de curso do NPC, não conseguiu escapar da repressão do governo federal a esse tipo de iniciativa. Em 3 de maio do ano seguinte, justamente no dia Internacional da Liberdade de Imprensa, a rádio foi fechada pela Agência Nacional de Telecomunicações. Hoje Fiell e outros moradores interessados em reativar a rádio estão reunindo a documentação necessária para pleitear a outorga.
Em 2011, Repper Fiell lançou seu livro Da favela para as favelas, também influenciado pelo que vinha aprendendo nos encontros realizados pelo NPC e nas diversas palestras e cursos que passou a frequentar. “Não me canso de buscar informação nos cursos de formação política sobre comunicação, segurança, moradia e direitos humanos, para eu continuar na luta a partir de onde moro que é o morro Santa Marta”, explica. No livro ele conta como começou a perceber a exploração sofrida pelos trabalhadores e o caminho que percorreu até perceber a importância de lutar por uma sociedade justa. Ele critica o consumismo e trata de temas como favela, comunicação, hip-hop, segurança e cidadania. Mais de 1.400 exemplares já foram vendidos.
Debates e cursos nas favelas da Maré
A jornalista Gizele Martins participou da segunda turma do Curso de Comunicação do NPC, em 2006, quando ainda frequentava o Curso Pré-Vestibular da Maré, conjunto de favelas onde mora. Ela lembra que foi neste curso que começou a perder a timidez e falar sobre suas insatisfações com o mundo, suas alegrias e revoltas. “Éramos e somos todos iguais, em uma só voz, em uma grande sintonia, como uma família de militantes e grandes sonhadores em busca de outro mundo”, recorda. Hoje Gizele vê a comunicação comunitária e popular como meio de mobilização social e de defesa deum mundo igualitário de justo. “A nossa comunicação tem e deve ter o povo como protagonista, ela deve ter o papel de mobilizar, de alertar, de trocar, de ouvir. Deve ter a sensibilidade de sentir o que o outro está sentindo e tentar reproduzir isto da maneira mais profissional possível, respeitando o povo”, aponta. Ela trabalha como assessora de comunicação do Conselho Regional de Psicologia e continua a participar do jornal comunitário O Cidadão, da Maré, com o qual colabora há quase 10 anos.
A publicação ficou três anos sem circular por dificuldades financeiras, o que estimulou a realização de uma série de debates para discutir temas de interesse dos moradores. Este ano a equipe do jornal já realizou dois debates: o primeiro sobre crack, internação compulsória e criminalização da pobreza e o segundo sobre Unidades de Polícia Pacificadora. Segundo Gizele, essa é uma forma de O Cidadão voltar a estar presente na Maré, mesmo que a forma de comunicação não seja o jornal impresso. “A ideia é que a gente faça estes debates pelas 16 favelas da Maré. Pelas associações de moradores, praças, escolas, instituições e igrejas”, explica. Os encontros têm sido bimestrais e entre as possibilidades de temas das próximas edições estão a lei das empregadas domésticas, cultura e poder, remoções, saneamento básico e homofobia.
Além dos debates, no início de 2012, naquele momento com apenas três pessoas, decidiu realizar o primeiro curso de comunicação comunitária do jornal. “Foi a partir da ideia dos cursos de comunicação popular do NPC que pensamos em fazer o nosso. Éramos apenas três pessoas lutando pela volta do jornal que estava parado por três anos”, explica. O objetivo era fazer com que a turma se apaixonasse pela comunicação comunitária e que os participantes pudessem colaborar com o jornal ou continuar fazendo comunicação comunitária em seus locais de atuação. “Das 25 pessoas que participaram do nosso curso, dez ficaram com a gente e formamos uma nova equipe”, ressalta. O curso teve aulas técnicas sobre jornalismo, mas também debateu direitos humanos, movimentos sociais, comunicação comunitária, o surgimento da favela, cultura popular, entre outros temas. O curso foi financiado por um dos membros da equipe e por um dos diretores do Ceasm, organização responsável pelo jornal. Uma segunda edição do curso começou em agosto e vai até outubro. “O jornal produzido pela nova equipe acabou de sair, ou seja, avançamos a partir desta experiência do primeiro curso do O Cidadão, experiência espelhada na luta do NPC, que há anos é uma referência de comunicação popular e sindical para todos nós comunicadores comunitários e profissionais de comunicação que já passamos por ele”, aponta.
Curso na Cidade de Deus fortalece jornal A Notícia Por Quem Vive
Espelhado no trabalho de formação do NPC, nasceu um curso na Cidade de Deus. Em 2009, a então estudante de jornalismo Marília Gonçalves estava começando um estágio no Portal Comunitário da Cidade de Deus, quando achou que precisava entender melhor o que é comunicação comunitária e decidiu fazer o Curso de Comunicação Popular do NPC. Um ano depois, ela e a equipe do Núcleo de Solidariedade Técnica da UFRJ (Soltec), que colaborou na criação e manutenção do portal, resolveram fazer um curso de extensão nos mesmos moldes do curso do NPC na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio. “Minha ótima experiência no curso do NPC me inspirou a reproduzir o modelo na Cidade de Deus – e, aliás, tivemos o apoio do NPC na época para fazê-lo”, recorda. O curso Análise crítica dos meios de comunicação durou quatro meses e, da mesma forma como ocorre no curso do NPC, produziu um jornal como exercício de conclusão. Assim nasceu a primeira edição do jornal A notícia por quem vive.
Parte do grupo que participou dessa experiência transformou o jornal em um projeto próprio. “Eles continuaram se reunindo, até que no segundo semestre de 2011 o Soltec voltou a atuar com o grupo através de um projeto chamado Comunicação Comunitária”, explica Marília. Ela coordena este projeto e trabalha com mais quatro estudantes bolsistas de extensão que apoiam a produção do jornal revisando as matérias, fazendo a diagramação e pensando junto com a equipe formas de viabilizar financeiramente o jornal. “Estamos lá para ajudar tecnicamente como pudermos, com o que o grupo precisar. Além disso, levamos em paralelo uma pesquisa acadêmica sobre comunicação comunitária”, conta.
Para Valéria Barbosa, que fez o curso na Cidade de Deus e integra a equipe de A notícia por quem vive, o jornal é uma forma de dar voz à comunidade, falar das questões vivenciadas no dia a dia, trocar experiências e informações. “É uma forma cidadã de levar o desenvolvimento coletivo ao local. A educação fica fortalecida, as relações políticas ficam observadas e cobradas e o contexto se sente merecedor de ser lembrado, valorizado, ser visto de forma digna e real”, resume. Ela ressalta que a equipe do jornal procura sempre valorizar o contexto dos fatos nas matérias que publica no jornal. Além disso, todos se ajudam durante a produção de A notícia por quem vive. “É uma troca constante, todos querem ver o jornal crescer, ter mais pessoas envolvidas, mas pra isto sabemos que há um caminho a percorrer”, avalia.
Valéria também publica seus textos no site World Pulse desde 2011, onde tem uma espécie de jornal que batizou de Boca no Mundo. “Quando posso posto matérias que falam da CDD e/ou de pessoas da comunicação comunitária”, explica.
Apesar da mobilização de moradores e colaboradores na produção do jornal A notícia por quem vive, encontrou dificuldades de obter recursos para imprimir a publicação. Sem o apoio do Ministério da Cultura, com o qual contavam anteriormente, a equipe resolver fazer uma campanha na internet para financiar suas futuras edições. Finalmente, após meses de tensão saiu o financiamento esperado.
Boletim eletrônico do MST-RJ
Mais de 40 números já foram produzidos desde que o engenheiro e comunicador Alan Tygel começou a editar o Boletim Eletrônico do MST-RJ, iniciado pelo jornalista Gustavo Barreto, do NPC. Alan assumiu esse trabalho, que faz voluntariamente, depois de participar do curso de comunicação comunitária do NPC, em 2010. “O curso fez parte de uma grande transformação na minha vida, quando percebi que não fazia sentido viver sem atuar incisivamente por uma mudança radical da sociedade. Entrei de cabeça na militância, e através do curso conheci a cidade que eu sempre morei, mas jamais havia conhecido de verdade”, relata. Naquele ano a turma visitou as comunidades Vila Autódromo, Maré, Arroio Pavuna e Santa Marta e também fez uma viagem de encerramento a São Paulo,julgada necessária pelo coordenador do NPC que definia a cidade como “a capital do capital”.
Para Tygel, tornar camponeses sujeitos da sua própria comunicação e fazer com que atividades cotidianas, como um mutirão ou um curso de agroecologia, se tornem notícias é muito transformador. “Passamos desde momentos lindos, como a cobertura da ocupação da Cambahyba, até momentos terríveis, como foi no começo deste ano, quando eu estava na Bahia, num lugar sem acesso à internet, e tive que transcrever e ditar por telefone a última entrevista que fizemos com o Cícero [Guedes dos Santos, liderança do MST assassinada covardemente em janeiro deste ano no município de Campos dos Goytacazes]. Foi muito difícil. As palavras eram fortes e ele mesmo chorava na entrevista ao falar sobre os corpos queimados no forno da Cambahyba”, conta.
Segundo Alan, não é a comunicação popular que se encaixa na sua vida de engenheiro. “Acho que a minha vida é que se encaixa, ou se guia, se constrói dentro da comunicação popular”, explica. Hoje ele é cooperado da EITA, uma cooperativa que desenvolve tecnologia para movimentos sociais. Essas tecnologias, segundo ele, são basicamente estratégias de comunicação. “Por exemplo, no caso do site proprietariosdobrasil.org.br, a gente pega dados em formato cru, bruto, e apresenta de forma que qualquer pessoa entende a teia de relação entre as principais empresas do capitalismo brasileiro. Isso não é comunicação popular?”.
Para uma boa comunicação popular, a pesquisa técnica também é necessária no campo da internet e por isso Alan está fazendo doutorado em informática, mas claramente com a finalidade de apoiar e embasar as lutas populares. “Pra mim esse é o papel do engenheiro popular: colocar a tecnologia a serviço dos movimentos sociais. Fico muito contente quando o Repper Fiell diz que eu sou o engenheiro mais favelado que ele conhece. Se a engenharia não servir para isso, não serve para nada”, conclui. Alan participa, ainda, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, onde integra um coletivo que reúne comunicadores do norte a sul do Brasil para centralizar as informações sobre atividades da campanha na internet.
Jornalismo e educação com todos os jovens: o caso LOCUS
“O curso de comunicação popular foi muito além de apresentar os instrumentos para se comunicar. Foi um curso de formação política, no sentido de fomentar discussões acerca do papel da comunicação na produção e manutenção de uma ideologia dominante, que promove e alimenta a exclusão de uma classe: a classe pobre”, avalia Douglas Heliodoro, aluno da turma de 2012. Ele é coordenador pedagógico do Instituto Locus que atua na formação e educação de aprendizes, promovendo a capacitação de jovens em fase de conclusão do Ensino Médio para o mercado de trabalho. Percebendo a potencialidade da comunicação popular para promover discussões e envolver os jovens, Douglas e a equipe resolveram incluir no currículo, além de disciplinas que estimulam o pensamento crítico, aulas de redação, linguagem jornalística e diagramação. “Vejo a educação com papel imprescindível na construção de uma base crítica e na divulgação de ideias progressistas. Nesse sentido, aprender a se comunicar é importante tanto para os alunos, como para os professores que pretendem atuar nessa luta”, avalia.
A jornalista do NPC, Sheila Jacob, ministrou a disciplina Português e Linguagem Jornalística. Já Claudia Santiago, jornalista e coordenadora do NPC, deu palestra sobre comunicação popular e aulas de diagramação. Também coordenador do NPC, Vito Giannotti deu uma aula de história das lutas dos trabalhadores para os jovens durante a manifestação do 1º de Maio na Tijuca, Zona Norte do Rio. O curso contou também com palestras de outros dois comunicadores que fizeram o curso do NPC em outras edições: Repper Fiell falou sobre ativismo social e Natalia Urbina sobre história da América Latina. Entre as outras disciplinas do curso estão Noções de Direito; CLT e Direitos do Aprendiz; História do Trabalho; Políticas Públicas de Juventude; Sindicalismo; Relações de Gênero; Diversidade Sexual; Trabalho Escravo Contemporâneo; Educação ambiental; História das favelas; Indústria Cultural, Sociedade e Consumo; Ideologia.
Segundo Douglas, o Instituto Locus tem o intuito de promover qualificação profissional, mas a equipe que está à frente da sistematização pedagógica vê a possibilidade de usar o período do curso para discutir com os jovens como se dá o processo de exploração das empresas. “Através destas disciplinas tentamos contextualizar e problematizar situações que, na maioria das vezes, tornam-se mais visíveis quando se entra, de forma mais direta, nesse ciclo de exploração (estudar, produzir e comprar) que é o mercado formal de trabalho”, explica.
Oficinas de comunicação e dois novos jornais de Niterói
Lançado em abril, Ainda Não Pensei é o jornal comunitário do Morro do Preventório, localizado na Zona Sul de Niterói. Ele foi produzido por um grupo de 16 adolescentes e crianças moradoras da favela. Já o jornal Grotexto, lançado em janeiro, é uma publicação feita por moradores da Grota, outra comunidade da mesma região de Niterói. Os dois são fruto de uma oficina de dois meses realizada pelo Paiol Cultural, instituição coordenada pela jornalista Jéssica Santos. Ela fez o Curso de Comunicação Popular do NPC em 2008 enquanto ainda cursava comunicação social na Universidade Federal Fluminense. De acordo com Jéssica, o curso foi a base para sua formação porque possibilitou abrir os leques de discussão sobre comunicação comunitária. “O curso é muito rico por ter pessoas de diversas realidades e contextos de luta, todos inseridos no processo de comunicação popular. Lembro que na época isso me emocionou muito e foi quando tive a certeza de que a comunicação comunitária seria algo que eu viveria para o resto da minha vida”, recorda.
As oficinas de comunicação estão dentro do eixo Educação do Paiol Cultural e são pensadas sob a mesma lógica do curso do NPC: a luta por uma comunicação contra-hegemônica. No Preventório as jovens se encontram semanalmente para discutir o andamento da publicação e, principalmente, as possibilidades de auto-organização. Na Grota, o grupo é formado por meninos e meninas entre 14 e 20 anos, que estão se organizando para que os encontros sejam realizados de 15 em 15 dias. “São jovens muito motivados e interessados em fazer e discutir essa outra comunicação possível e necessária. Acredito que um dos fatores que gerou maior interesse é a possibilidade de falar de si, de sua identidade, do local onde mora, da própria vida”, relata Jéssica.
Segundo ela, estes jovens não se identificam com o que é produzido pela mídia comercial e, quando a oficina chegou ao fim, surgiu a ideia de criar os jornais não apenas como resultado da oficina, mas como meios de comunicação comunitária permanentes. “Eles toparam o desafio e o nosso trabalho hoje é pensar com eles a viabilização do projeto, auxiliando na parte técnica da produção dos jornais e na articulação local. Depois de lançado o primeiro exemplar nas duas comunidades, os grupos observaram um interesse da população local na publicação. Isso os incentiva a continuar a pensar a realidade, o contexto no qual estão inseridos e escrever sobre isso”, explica. Jéssica recusa a ideia de que é preciso alguém de fora “dar voz” aos oprimidos. “Temos que nos empenhar para potencializar os comunicadores que estão nesses espaços, que vivem na pele as opressões do sistema e são capazes sim de argumentar contra ele. Nesse sentido, a comunicação popular é fundamental por ser não só meio para veiculação de informações, mas também espaço para elaboração de processos de formação política”, avalia.
Curso de Comunicação Popular vai até a Região dos Lagos
Em 2008, o Núcleo Piratininga de Comunicação foi convidado pelo Projeto Ressurgência, da Coppe, (UFRJ) com o patrocínio da Petrobras, para ministrar um curso de comunicação popular para um grupo de 40 a 50 jovens em Arraial do Cabo, município da Região dos Lagos. Ao todo foram dois anos de trabalho de toda a equipe do NPC. O curso, com aulas teórico-práticas aconteciam nos mesmos moldes das edições do curso no Rio de Janeiro: quinzenalmente, aos sábados. Com o recurso do projeto e muita energia de monitores e alunos foi possível editar seis números do jornal O Cabistão, com matérias e artigos produzidos pelos estudantes com supervisão da equipe do NPC. Uma rádio comunitária também chegou a ser colocada no ar durante o curso. A programação e a locução também eram feitas pelos participantes do curso.
Outro resultado fruto das aulas dadas durante o curso foi uma série de vídeos/documentários feitos pelos alunos, sob orientação do prof. De economia da UFRJ e cineasta fortemente engajado com os movimentos populares. Ele colocou toda sua experiência a disposição dos jovens alunos do curso do NPC/Coppe e este produziram belíssimos ensaios cinematográficos sobre a realidade da cidade de Arraial do Cabo. Hoje, meia dúzia destes ex-alunos estão terminando seu curso de comunicação em várias universidades e mantém contatos com o NPC de várias formas.
Isabelle Felix hoje é radio-operadora e trabalha em um navio de produção de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos. Cinco anos depois do curso ela conta que a formação deste curso do NPC/Coppe marcou sua vida e a influencia até hoje. “Aprendi a enxergar que podemos, sim, fazer a diferença diariamente na sociedade. E a partir de gestos simples, como uma conversa corriqueira, por exemplo”. O curso também influenciou para que a fotografia se tornasse paixão na vida de Isabelle. Ela lembra com muito carinho da época do curso e diz que uma das coisas mais marcantes foi “a energia da Claudia, Vito, Sheila e Raquel e a vontade deles de fazerem um mundo mais justo e melhor pra todos nós”.
O Curso de Comunicação Comunitária do NPC
Conjugando formação política e técnica, o Curso de Comunicação Popular do NPC busca compreender a realidade em que os estudantes estão inseridos e prepará-los para atuar na comunicação de suas comunidades e em jornais destinados aos trabalhadores. “A classe trabalhadora é a classe que interessa nesse curso”, resumiu a coordenadora do NPC, Claudia Santiago, durante a aula inaugural realizada em maio deste ano. Com este foco, o curso pretende ser, também, um movimento de fortalecimento da Imprensa Popular, “uma imprensa que interpreta o mundo a partir dos valores, da cultura e das necessidades históricas e imediatas da classe trabalhadora”, como já ressaltava Claudia no editorial da 5ª edição do Vozes das Comunidades, jornal oficina produzido pelos alunos no final do curso. O caráter contra-hegemônico da publicação fica muito claro na maior parte dos editoriais, sempre críticos à mídia empresarial e preocupados com questões que afetam diretamente a classe trabalhadora, como direito à moradia, trabalho, saúde, educação e segurança públicas, entre outros.
Geralmente cerca de 40 alunos participaram do curso, dentre eles lideranças de comunidades e movimentos populares, estudantes de comunicação, moradores de favelas, estudantes e jornalistas ligados aos movimentos sociais. A divulgação é feita pelo site e mídias sociais do NPC, mas a maior parte dos alunos chega por indicação de ex-alunos ou militantes de movimentos sociais que conhecem o trabalho do NPC. As aulas ocorrem de 15 em 15 dias aos sábados durante quatro meses. A maior parte delas é no centro do Rio, mas também fazem parte da programação diversos encontros em comunidades pobres da capital fluminense. Dentre as aulas mais técnicas estão entrevista, redação, linguagem, rádio, diagramação e uso de mídias sociais. História do Brasil e reflexões sobre problemas urbanos e sociais da cidade do Rio de Janeiro, sobre política e sobre a mídia também são temas fixos do currículo. O curso tem apoio do Instituto Rosa Luxemburgo. Nesta página estão alguns momentos do curso.
