Como o Jornal Nacional diz que sua caravana está em busca dos “desejos dos brasileiros em ano eleitoral”, acompanhemos essa caminhada tão prestativa. A empreitada jornalística da Globo chama a atenção em dois tipos de eventos. Primeiro, vêm as aparições de Bial, Bonner e Fátima Bernardes ao vivo, à frente de pequenas multidões em algumas cidades por que passam. São verdadeiros comícios servindo de pano de fundo para os jornalistas. O detalhe é que não se trata de comício de partido político. Pelo menos, não de um partido convencional. Trata-se de do comitê central do pequeno e poderoso partido da grande mídia. As pessoas se deliciam ao ver os astros do jornalismo nacional visitando sua pequena cidade. Esquecem de que participar da política não se resume a votar. Acabam preferindo delegar sua participação ao jornalismo da Globo, com seus profissionais muito competentes no manejo da palavra falada. Bial à frente.
O segundo tipo de evento tem a ver com o primeiro. Em matéria sobre a calamitosa situação da BR-316, no Maranhão, Bial está revoltado com as crateras do lugar. “São cinco horas de viagem para avançar pouco mais de 60 quilômetros”, diz ele. Revoltante, mesmo. Mas, logo se acalma. É que os caminhoneiros e outros motoristas que passam pelo ônibus do JN gritam: “Mostra. Mostra essa vergonha na Globo”. Taí o papel da Caravana. Em tempos de justa descrença na política institucional, nada melhor do que ter alguém para falar pelo povo. De preferência, alguém que enquanto tagarela, mantém o povo quieto. E o poder, sossegado.
Por Sérgio Domingues