[Por Reginaldo Moraes] No livro A Doutrina do Choque, a escritora canadense Naomi Klein chama a atenção para uma tática de dominação dos golpistas mundo afora, a tática do choque: aproveitar os momentos de trauma coletivo para aplicar sua política. Mais do que isso: eles querem criar o trauma coletivo, não esperam simplesmente que ele ocorra.
Naomi Klein compara as técnicas de dominação política de massas – aquelas que estamos vivendo hoje – com a técnica dos interrogatórios promovidas pelos torturadores. A vantagem do policial, e sua principal arma, é destruir mentalmente o preso. Para isso, isolá-lo de tal maneira que não saiba o que ocorre lá fora – com seu movimento, seus companheiros, suas crenças. Depois de algum tempo, desmoralizado, desmotivado, descrente, ele cede. Desiste de resistir.
Essa é a técnica do ataque-choque que estamos vivendo há vários anos, desde 2013, pelo menos. A grande mídia é a caixa de eco dessa campanha, que envolve políticos, policiais, promotores e juízes. Nacionais e internacionais. Desde aquela época, os círculos dominantes que se sentiam incomodados com a evolução do país resolveram que era hora e era possível começar a virar o jogo. Nós tínhamos nossos pontos fracos, nos estávamos insuficientemente organizados, confusos e divididos. Era o momento.
Nossa chance é reverter essa situação de cerco. A primeira regra é quebrar a vantagem dos torturadores: jamais permitir que nos peguem isolados. Que nos joguem uns contra os outros. Que desmanchem nossa confiança e nossas crenças.
Nunca ficar isolado. Isso quer dizer, antes de mais nada, que temos que tomar cuidado com a informação que nos dirigem como indivíduos. Os lideres de movimentos e partidos são em geral pessoas que procuram ficar informados. Isso é necessário mas tem um perigo: você também está mais exposto à conversa deles. Se não tomar cuidado, vai achar que os únicos temas importantes são aqueles que eles martelam na mídia deles. Que os únicos pontos de vista são os que expressam os ‘especialistas” deles. Há um cuidado imediato que temos que tomar: sempre que ouvirmos algo que eles dizem, pensemos assim “onde é que eles querem chegar com essa “informação””? Quem eles querem enganar? O que eles querem que eu pense? Porque é disso que se trata.
Segundo cuidado: vamos manter redes permanentes de contato e troca de informação. Radio peão, “de cela em cela”. Temos que nos comunicar com toda a nossa tropa, claro, todo o nosso povo. Mas antes de tudo temos que ter redes de informação que liguem os ativistas da linha de frente, que coordenem suas percepções e suas reações. Isso não se resolve apenas com internet e WhatsApp. Tem que ter rádios e, se possível, tv’s paralelas. E o velho panfleto.
Terceiro cuidado: sair da defesa para o ataque. Eles tem que ser divididos, acuados, confundidos. Temos que achar seus pontos fracos, suas diferenças, suas indecisões. Dividir e desmoralizar o inimigo. Reduzir sua confiança, sua zona de conforto. Paz entre nós, guerra aos senhores. Sem trégua. E mirar nos cabeças. Não vamos nos preocupar com os pequenos paneleiros. Esses vão vacilar, mudar, recuar. Pegar no pé dos chefes. Desmoralizar a bandeira.