Da segurança ao pó: voltaremos?
Rio de Janeiro, 08 de março de 2006.

Nós pensamos que a vida está ruim, porém as coisas acabam piorando com os acontecimentos. Assaltaram o exército! E na brincadeira geral as pessoas que pagam por estes atos são os moradores das favelas. Carros blindados, soldados armados, táticas de guerras envolvidas por brincadeiras de criançasparadoxal, não? A pergunta: Quem roubou as armas? Antes de qualquer julgamento cercaram as favelas como se lá fosse o único foco ou lugar em que existem ladrões.

É esquecido que dentro da favela existem pessoas que trabalham, votam, participam da sociedade de alguma forma (quando é incluído). Temos que nos sujeitar ao terror de entrar em nosso local de moradia tarde, amedrontados e intimidados por armas, homens camuflados, sem saber o que nos espera no caminho de nossos lares. Será que isso resolverá o caso do roubo das armas?

Não sabemos.

Não está descartado o fato de o roubo ter sido feito por alguém de dentro da instituição, a ajuda pode ter sido de fora. Tem gente poderosa envolvida neste esquema. Este preconceito nunca acabará, pois sempre o que há de ruim na sociedade é revertido para os favelados. Fazem questão de esquecer que dentro daquele ambiente moram pais de famílias, estudantes, universitários, donas de casa, crianças…

Os traficantes, numa observação precisa, estão vivendo tranqüilamente, tirando o fato que a ocupação diminui a sua receita. Algumas pessoas que moram no “asfalto” estão tranqüilas com comentários: “Ainda bem que teremos mais segurança”. Será que estas pessoas são ignorantes a este ponto? Não percebem que isto não resolverá nada? A nossa sociedade é composta por bestas irracionais?

Temos que saber que segurança é uma educação de qualidade a todos, saúde bem estruturada, qualidade de vida com respeito e seguridade aos idosos, deficientes físicos, etc. Isso seria segurança, ou pelo menos o caminho para uma sociedade descente. Enquanto todos viverem nesta desigualdade gritante não haverá segurança, podem até colocar toda a força nacional na rua que não adiantará. Se esta operação continuar, no mínimo acontecerão resistências de algumas favelas, pois o respeito estará saturado e estaremos a um passo de uma guerra civil.

Como viveremos? Esta com certeza seria a segurança comentada por alguns moradores do “asfalto”? É muito triste saber que não podemos contar com os políticos que elegemos, não temos com quem desabafar as nossas frustrações, não podemos exigir nada! Todavia, somos obrigados de quatro em quatro anos a ir às urnas para escolher alguém que, na hora de maior sufoco, nem olha para trás. Portanto, o medo, a insegurança, a revolta, a tristeza, a falta de sensibilidade, a falta de moral, estão compondo a nova caixa de Pandora do Brasil e só falta alguém para abrí-la. Pelo menos os que têm senso esperam que isso leve muito tempo.

André Luiz, estudante de comunicação e morador de Manguinhos