Em um momento em que trabalhadores são duramente reprimidos pelas forças do Estado nas ruas ao reivindicar seus direitos, nada mais oportuno do que procurar discutir a democracia nos nossos meios de comunicação. Para estimular a abordagem do tema, reproduzo aqui um trecho de uma fala do escritor português José Saramago que é veiculada no documentário “Encontro com Milton Santos”, de Sílvio Tendler. A partir dela é possível pensar em como encaixar esse tema tão amplo e tão transversal e discutir, também, que tipo de sociedade queremos construir. Com a palavra, Saramago: “Tudo se discute nesse mundo. Menos uma coisa: a democracia. A democracia está aí como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como uma referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada porque o poder do cidadão, o poder de cada um de nós limita-se, na esfera política, a tirar um governo que se não gosta e colocar outro que se talvez venha a gostar. Nada mais. As grandes decisões são tomadas numa outra esfera e todos sabemos qual é: as grande organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organizações Mundias do Comércio, os Banco Mundias, a OCDE, tudo isso. Nenhum desses mecanismos é democrático. Portanto, como é que podemos continuar a falar de democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Os respectivos povos? Não. Onde está, então, a democracia?”.