Por Camila Araújo e Ívina Costa
Lançado em 06 de novembro, em Indaiatuba-SP, o filme “O Lucro Acima da Vida” foi exibido para os participantes do 20º Curso Anual do NPC. A obra, dirigida pelo jornalista e cineasta Nic Nilson, resgata a história de trabalhadores contaminados por metais pesados numa fábrica de agrotóxicos das empresas Shell/Basf, na cidade de Paulínia, São Paulo.
A gravação do longa-metragem teve início em 2013, depois que 1.058 trabalhadores e dependentes ganharam na justiça a ação movida contra as multinacionais. Diretor do Sindicato dos Químicos e produtor executivo do filme, Arlei Medeiros conta um pouco da história. “Esse filme é o acúmulo de dois documentários, um de 2002 e outro de 2005, ambos feitos para divulgar a luta. A ideia era criar um instrumento de formação de opinião para convencer os ministros e a população. Só que a ação avançou e a sentença saiu antes do filme. Aí, a gente deu liberdade pro diretor, o sindicato não opinou no roteiro”.
Embora narre a história real, a diferença dessa vez é que se trata de uma obra de ficção, interpretada por atores como Deo Garcez (protagonista), João Vitti, Zezé Motta, Ailton Graça e outros. A gravação aconteceu em Paulínia, onde ocorreu a contaminação ambiental. “O mais legal é que os ex-trabalhadores e sindicalistas também estão no filme, como figurantes. Inclusive eu mesmo apareço numa cena. A gente envolveu, ao todo, uns 200 trabalhadores, muitos deles contaminados”, lembrou.
Filme foi financiado principalmente por entidades sindicais
Orçado em 1 milhão e 300 mil reais, “O Lucro Acima da Vida” teve parte dos recursos pagos pelo Sindicato dos Químicos Unificados, Associação de Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq), movimentos sociais e sindicatos de outras categorias. Para Arlei, o mais difícil foi acreditar que seria possível fazer o filme. “Sem todos os recursos necessários, o jeito foi trabalhar com o que a gente tinha e improvisar. Para se ter uma ideia, os atores trabalharam de forma voluntária e o diretor investiu dinheiro do próprio bolso”.
Outra dificuldade, segundo ele, foi conseguir autorização da Agência Nacional de Cinema (Ancine) para a exibição no circuito cinematográfico. “Queriam que a gente apresentasse uma autorização para uso do nome da Shell. Só que a gente nunca iria conseguir isso. E nem precisava porque o caso é público. Não chegamos a abrir um processo, mas foi necessário contratar um advogado, cumprir todas as medidas administrativas e pressionar”.
Depois que os problemas foram resolvidos, o piloto do filme foi apresentado ao público, em 06 de junho deste ano, no Teatro Municipal de Paulínia. Piloto, para quem não sabe, é o nome dado ao filme quando ele está quase pronto, ou seja, ainda não foi finalizado. “A gente esperava cerca de 400 pessoas; mas, para nossa surpresa, o teatro lotou. Vieram as pessoas envolvidas no filme, os ex-trabalhadores e seus familiares, sindicalistas… E todos os que assistiram puderam sugerir mudanças antes da edição final”, disse.
Ter uma público com mais de mil pessoas na exibição do piloto, na opinião de Arlei, serviu para mostrar o avanço do sindicato na comunicação com a categoria e a sociedade. Para ele, isso se deve não apenas à realização do filme, mas também à vitória na justiça após 12 anos de luta. Desde que a luta contra as empresas começou, 70 trabalhadores contaminados faleceram.
O filme foi lançado. Mas, ainda restam dois desafios: pagar o restante das dívidas e conseguir espaço nas salas de cinema. “É quase impossível exibir em cinemas de shoppings e nas principais salas. Não tem espaço. Então, vamos exibir em horários alternativos, de cinemas alternativos. Por isso começou em Indaiatuba. Vamos imprimir 3 mil DVDs, para vender e pagar parte das dívidas. E a ideia também é levar o filme para cineclubes e onde mais for possível exibir”, conclui.