[Por Bruna Della Torre | Blog da Boitempo] No dia 9 de junho, a Alemanha elegeu 96 das 720 cadeiras para o Parlamento Europeu. 46,6% dos votos foram para a direita, sendo 30% para a União Democrata-Cristã (coligação entre CDU e CSU) e 15,9% para a Alternativa para a Alemanha (AfD). Este tornou-se, assim, o segundo partido mais importante da Alemanha no âmbito europeu. […] A grande vitória nas eleições de domingo, segundo a interpretação que circula na grande mídia, explica-se, principalmente, pela rejeição ao governo da Coalizão Semáforo. E, de fato, o governo da Coalizão tem sido uma decepção da esquerda à direita. Mas a mera rejeição de um lado não explica a migração dos votos para a extrema-direita. Parece-me que, para explicar essa guinada, é preciso combinar a análise de conjuntura com uma análise da propaganda da AfD, que tem sido muito eficaz em mobilizar a insatisfação e o desejo de mudança que orienta atualmente a política nacional. Afinal, um partido de pouco mais de dez anos não obtém sucesso tamanho num país de regime parlamentarista a não ser que domine essa linguagem, o que significa dizer que a forma como esse movimento se organiza é fundamental para compreender como ele ganha cada vez mais espaço. Conforme tenho defendido aqui, a indústria cultural digital contemporânea (leia-se, o sistema das plataformas) tem servido como a principal forma de organização da extrema-direita, substituindo a forma tradicional do partido e fazendo surgir um novo  partido digital de massas, com capilaridade inédita na história da política mundial. Isso certamente vale para a AfD. O Brasil e outros países periféricos serviram de laboratório para uma forma de organização que se torna cada vez mais difundida na Europa.  Além disso, vale ressaltar que a análise dessa propaganda de extrema-direita, que parte da esquerda preteriu como forma puramente ideológica em nome de uma “agência dos agentes”, permite observar quais os pontos de pressão intensificados por ela, dado que seu sucesso aponta para uma homologia entre emissor e receptor. | Leia o artigo completo