D. Demétrio Valentini *)
Mesmo em meio à pausa concedida pela copa mundial, não é possível que passem em branco as afirmações de George Soros sobre a situação do Brasil diante das eleições presidenciais de outubro. Ele declarou, simplesmente, que o sistema financeiro mundial já escolheu o futuro presidente do Brasil. E tem que ser o escolhido deles, se o país quiser evitar o caos. Sem nenhuma cerimônia nem constrangimento, explicou que “no capitalismo global só votam os americanos, os brasileiros não votam”. Justificou sua afirmação dizendo que assim era também no Império Romano, esclarecendo que “na Roma Antiga só votavam os romanos”, as províncias não votavam.
Portanto, segundo este ilustre “megainsvestidor” ou “megaespeculador”, representante típico do novo império dos poderosos que enriqueceram colhendo lucros fabulosos da crise financeira em que se encontram países estrangulados pela dívida, nós não teríamos mais nada a fazer em outubro. As eleições brasileiras não seriam para valer, não mudariam nada, só teriam como justificativa ratificar uma decisão já tomada pelos senhores do império, e cumprir o ritual de vassalagem dos escravos dos tempos de Roma, de que a história registra alguns requintes de crueldade. Sabemos, por exemplo, que os condenados à morte precisavam passar diante de César, e reverentes se prostrar diante dele, em macabra liturgia que continha a famosa expressão: “Ave, Caesar, morituri te salutant”. Faltaria a justiça eleitoral exigir dos eleitores que trouxessem esta frase como senha, em latim mesmo, ou em tradução adaptada às circunstâncias: “Salve, Bush, os que vão morrer te saúdam!”.
As declarações de George Soros nem mereceriam ser citadas, se elas se reduzissem ao que não deixam também de ser: expressão de prepotência e de arrogância de quem acha que o dinheiro compra tudo, até a dignidade dos povos e a soberania das nações.
Mas acontece que Soros não está sozinho. Ele é expressão de um sistema que aparenta neutralidade, e que se justifica como fruto de uma realidade econômica irreversível, advogando para si próprio uma lógica determinista que estaria acima da liberdade humana. Mas que, na verdade, é resultante de tramas muito bem urdidas, que aplainaram os caminhos para o capital financeiro gozar de toda proteção para agir segura e livremente, removendo todos os itens do arcabouço jurídico penosamente construído pelas democracias modernas, de proteção ao trabalho e de defesa dos direitos humanos. Os especuladores acham que o que vale é só o dinheiro, e advogam para ele cancha livre lucrar à vontade, mesmo que para isto se sacrifique a soberania nacional, como propõe Soros para o Brasil.
Ora, o assunto é sério demais. Ele exige um posicionamento dos candidatos. Pois a dignidade nacional urge que votemos em candidatos que são nossos, não dos americanos ou de outros especuladores. Um candidato eleito pelo voto dos especuladores internacionais não teria nenhuma legitimidade para governar o Brasil.
O assunto exige também um posicionamento do atual governo. Pois a soberania nacional não pode estar comprometida por nenhuma dependência financeira. Assim como não se vende a alma ao diabo para fazer qualquer negócio, não se aliena a soberania de um país por motivos financeiros.
As eleições vão acontecer, e queremos que sejam para valer. O alerta é imprescindível. Mais que nunca, será oportuno o Grito dos Excluídos, programado para a Semana da Pátria, com o lema providencial já escolhido acertadamente: SOBERANIA NÃO SE NEGOCIA. Nenhum “Soros” especulador, nem outros “soros caseiros” têm o direito de nos impor qualquer candidato, seja ele quem for.
* Bispo de Jales – SP – Voltar ao Topo