Frente Rio Contra a Reforma da Previdência reúne entidades em defesa dos direitos dos trabalhadores brasileiros

Por Sheila Jacob – para o Brasil de Fato

Foto-SindiJustiça

Sessenta entidades de todo o Estado do Rio de Janeiro estão reunidas na chamada Frente Rio Contra a Reforma da Previdência. São sindicatos, associações, centrais e movimentos estudantis e sociais que se articularam para, em conjunto, resistir à proposta apresentada pelo Governo Federal de alteração nas regras da aposentadoria. Para explicar sobre o funcionamento dessa rede, o Brasil de Fato conversou com Aurélio Lorenz, diretor geral do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (SindJustiça- RJ), uma das entidades que compõem a Frente.

Segundo Lorenz, uma das principais lutas, nesse momento, deve ser a defesa do direito de os trabalhadores brasileiros se aposentarem com dignidade. Outro objetivo é combater as mentiras que vêm sendo ditas pelo Governo e divulgadas pelos principais meios de comunicação. “Essa Reforma da Previdência irá prejudicar quem trabalha, seja no setor público ou no privado. Na prática, a Reforma pretende acabar com os direitos que foram conquistados com muita luta pelos trabalhadores e pelas entidades que os representam e não com os privilégios”, afirmou Aurélio Lorenz, da direção-geral do SindJustiça-RJ.

Em entrevista, Lorenz explica sobre o funcionamento da Frente, suas principais ações e sua importância nesse momento de ameaças aos direitos dos trabalhadores brasileiros.

Brasil de Fato – Como foi criada e como funciona a Frente Rio contra a Reforma da Previdência?

Aurélio Lorenz – Quando nós, da nova direção, assumimos o SindJustiça-RJ, em janeiro de 2018, fizemos a avaliação de que, neste momento, o importante é partir para a luta nacional. O golpe foi dado e as pessoas viram que não mudou nada na vida de ninguém. Não houve melhorias para os trabalhadores, muito pelo contrário, e a corrupção não foi combatida de fato. Então, entendemos que deveríamos começar essa nova gestão nos engajando na luta contra a Reforma da Previdência.

Para marcar a nossa posse, resolvemos fazer uma reunião agregando todas as forças que já vinham lutando conta a Reforma da Previdência no Estado do Rio. Muitas mobilizações já ocorriam, mas era necessário unificar essa luta, mostrando a força dos movimentos de trabalhadores em repúdio a mais esse ataque a nossos direitos. Esse é o objetivo da Frente Rio Contra a Reforma da Previdência, que hoje já reúne mais de 60 entidades.

O que foi feito de mobilizações até agora?

Nesse pouco tempo, já fizemos ações em aeroportos para sensibilizar os parlamentares a votarem contra a Reforma. Também espalhamos propagandas em outdoors por todo o Estado do Rio com nossa campanha. Tivemos ainda, no SindJustiça-RJ, uma palestra sobre os impactos da Reforma na vida dos trabalhadores, com a presença da socióloga, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina e técnica do Dieese, Carla Ferreira. Durante o carnaval, divulgamos uma marchinha sobre esse tema e estivemos no bloco Fazendários do Amor, que saiu na sexta-feira no Centro do Rio. Também exibimos faixas em aviões pelas orlas da Zona Sul do Rio e de Niterói. Na quarta-feira de cinzas, marcamos nossa presença na Sapucaí durante a apuração das escolas de samba. Foi muito interessante conseguir manter o fogo da resistência aceso durante o carnaval, pois o Governo apostou na desmobilização e quis exatamente aproveitar essa época para aprovar a sua medida impopular. Nossa mobilização e o sucesso da Paraíso da Tuiuti, por exemplo, são demonstrações de que essa estratégia não funcionou.

Em 19 de fevereiro, Dia Nacional de Luta Contra a Previdência, houve também diversas ações no Rio de Janeiro com o slogan “Se votar não volta”. De manhã houve uma manifestação no aeroporto Santos Dumont, à tarde uma panfletagem e depois seguimos em marcha pelo centro do Rio, da Candelária até a Cinelândia, junto com diversos outros movimentos sociais, centrais sindicaise entidades de luta.

E com o adiamento da votação, como fica a campanha?

Pretendemos que essa Frente Rio não acabe. É muito difícil fazer uma mobilização dessas, reunindo tantas entidades em defesa de uma mesma causa. Queremos manter reuniões periódicas, para que, caso surja outra ameaça, já estarmos mobilizados para resistir juntos. Estamos vivendo momentos decisivos de ataques aos direitos da classe trabalhadora. Temos a obrigação de fazer isso, por aqueles que deram suas vidas para conquistar os direitos que hoje estão ameaçados, e também para garantir um legado melhor àqueles que estão por vir.

O que o trabalhador precisa saber sobre a Reforma da Previdência?

Precisa saber o que ela realmente significa. A Reforma não é o que foi dito no programa do Silvio Santos nem no do Ratinho. Eles dizem que o impacto é para os privilegiados, mas na verdade ela vai prejudicar é quem trabalha, seja no setor público ou no privado.

Basta pensar o seguinte: a Reforma Trabalhista já acabou com as oportunidades de emprego seguro e com os vínculos nesse país. Para se aposentar, o trabalhador precisará ter 40 anos de contribuição, mais do que ocorre nos países desenvolvidos. Que trabalhador no Brasil consegue se manter empregado até essa idade, nessas novas condições?

Precisamos lembrar, ainda, que a idade mínima para se aposentar foi aumentada em todo o país, mas a expectativa de vida do brasileiro é totalmente diferente, dependendo da região onde ele mora e o tipo de trabalho.

Ou seja, a Reforma da Previdência está tornando inviável a aposentadoria para o brasileiro. O trabalhador vai contribuir durante toda a sua vida, enquanto tiver emprego, e ainda assim não vai conseguir se aposentar. O que estão querendo não é cortar privilégios. Pretendem acabar com os direitos que foram conquistados com muita luta pelos trabalhadores e pelos sindicatos que os representam.

Quem se beneficia com a Reforma?

Está acontecendo, hoje, mais ou menos o que fizeram com a saúde nesse país. Acabaram com a saúde pública, e hoje todo mundo tem que pagar por planos privados. Então quem vai se beneficiar, com essa Reforma, são aqueles que têm interesses econômicos em vender planos de previdência privada para o trabalhador. Tanto é assim que o Governo Federal não chamou qualquer entidade representativa de classe para conversar sobre a Reforma. Os trabalhadores não foram consultados. Só se ouviu o empresariado, especialmente os representantes da área da previdência privada.

A principal justificativa para a Reforma é a de que o Brasil não teria dinheiro…

O Governo fala isso, mas não apresenta argumentos sólidos e confiáveis. Por outro lado, temos pesquisadores sérios, como a [auditora aposentada da Receita Federal e coordenadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida”] Maria Lúcia Fattorelli, e a economista Denise Gentil, que mostra em sua tese de doutorado que não falta dinheiro para a Previdência Social. Isso está provado. Para aumentar a arrecadação, seria necessário, sim, rever o pagamento de juros a grandes instituições financeiras e acabar com a isenção fiscal de grandes empresas. Se fosse verdade que falta dinheiro, o Governo viria para um debate aberto. Mas não, o golpe foi dado para conseguir aprovar propostas que, como essa, não seriam aprovadas por um governo legítimo.

Edição: Brasil de Fato RJ