Por Raquel Junia

“Que eles saibam que o dia 1º de abril não é o dia da mentira, mas o da verdade. O dia em que o Brasil foi tomado pela fúria do obscurantismo e terminou por enlutar as famílias brasileiras. Que nunca nos esqueçamos disso”. O trecho é parte do discurso da médica Inah Meireles, quando foi homenageada com a Medalha Chico Mendes de Resistência no último dia 1º de abril. Inah escreveu o discurso, mas não foi ela quem o leu, porque estava muito emocionada.

A homenagem é uma condecoração tradicional feita pelo Grupo Tortura Nunca Mais a defensores dos direitos humanos na data de aniversário do Golpe Militar. Na ocasião, Inah falou rapidamente ao BoletimNPC sobre o que a data e o recebimento da medalha significam para ela.

 

Ontem (31 de março) os militares também celebraram da maneira deles o aniversário dos acontecimentos do dia 1º de abril de 1964, chamados por eles de “Revolução”. O que significa essa comemoração de hoje para a senhora?

 

É, eles também fizeram festa. Mas tem toda a diferença da festa de hoje, porque nós somos sobreviventes, mas somos vitoriosos, mesmo que eles pensem que não e continuem sem ser punidos. Reconquistamos em nosso país alguns direitos, nem todos ainda infelizmente. E podemos hoje estar aqui homenageando uma mulher que era uma dona de casa, uma mãe que ganhou uma consciência. Não só ela, mas ela representa um conjunto de pessoas dessa época e nós podemos estar aqui vivos, comemorando, lembrando nossos mortos, mas também passando para nossos filhos e netos a nossa luta. Eu acho que isso aí é a nossa vitória. Um dia quem sabe a gente consegue também a punição dos torturadores. Tortura não é só nunca mais, é um crime inafiançável e que para mim é uma coisa desumana e a gente não pode ser conivente com isso.

A senhora acredita que esta punição está mais próxima de acontecer?

 

Eu acho que ainda continua difícil porque nem um governo progressista sequer conseguiu pra gente a abertura dos arquivos. É uma luta difícil, mas não vamos desistir. E como diz o ditado, a justiça tarda, mas não falha, às vezes tarda demais, ao meu ver, mas a gente espera que ela se faça.

Como a senhora acredita que devemos disputar a memória do período da ditadura militar?

 

Um pouco como vocês fazem através da nossa imprensa, através de uma atividade como essa e através principalmente da luta. Se a gente continuar lutando a memória continua viva.