[Por Sheila Jacob/NPC] Na tarde de terça-feira, 18 de outubro, recebemos, na Livraria Antonio Gramsci, a visita de um cliente especial. Carlos Alberto Gomes da Silva é webmaster – trabalha com a criação de sites – e é um dos principais divulgadores do esperanto no Brasil. Ele chegou até nós através do último livro lançado por Vito Giannotti, Comunicação dos trabalhadores e hegemonia. “No início do ano, quando o golpe se anunciava, comecei a me preocupar com a situação política e quis atuar mais. Todos que eram contra o impeachment chamavam para irmos às redes sociais, então eu fiz isso. Fiz uma conta no Twitter, uma no Facebook, mas vi que não adiantou nada. Passei a buscar explicações e procurar soluções. Fui para a página da Fundação Perseu Abramo e encontrei tudo isso no livro do Vito”, contou.
Refletindo a partir do que leu, ele chegou à conclusão de que os sindicatos e outras entidades de luta estão muito acomodados nos meios digitais, e acabam se esquecendo do valor estratégico do meio impresso. “Não acho que as mídias digitais não têm o seu valor, mas é necessário integrá-las à impressa”. Ele cita, como exemplo, um evento organizado somente pelo Facebook, que dispensa divulgações por cartazes e panfletos – o que, na opinião dele, é um absurdo, já que o Facebook funciona como “uma grande gaiola”.
Ele explica: “O Facebook e o Twitter são ferramentas importantes, mas não podemos confiar só neles, pois não dialogamos nem ganhamos ninguém para nossas ideias. Funcionam como um conjunto de gaiolas: existem as gaiolas dos pássaros vermelhos e as gaiolas dos pássaros verde-amarelos, por exemplo. Depois de um tempo, esses dois grupos não se comunicam mais. Ficam cantando a mesma música, cada vez mais alto, e um não dialoga com o outro. Não há troca de ideias, só repetição do mesmo”. Como ele explica, isso ocorre porque a internet trabalha com algoritmos que identificam pessoas com perfil semelhante, e com o tempo as acaba aproximando, o que gera o chamado “efeito bolha”. “Ou seja, acabamos falando sempre para nós mesmos”.
Não dá para divulgar evento só pelo Facebook
Outro problema que ele aponta é a organização de atos, reuniões e atividades se dar basicamente – e quase exclusivamente – no Facebook. “É claro que esta é uma ferramenta importante, mas não pode ser a única, até porque o que está lá não é identificado pela rede de buscas do Google, por exemplo. Também requer que todos que queremos atingir tenham smartphone e acesso à banda larga, o que não é a realidade daqueles que queremos conquistar para as lutas. É necessário mandar torpedos, e-mails, espalhar cartazes, distribuir folder, fazer o trabalho corpo a corpo”, sugere.
Ele também não se diz muito confiante nos “twittaços”, muito usados em época de eleições, por exemplo. “Até porque temos que ter em vista que o golpe também é norte-americano. Todas as redes sociais que usamos, sendo norte-americanas, são integradas às agências de inteligência dos EUA e trabalham a favor delas. Eles limitam o alcance daquilo que não é interessante para eles”.
A dica que ele dá aos meios alternativos de mídia é fazer panfletos, cartazes e folders para divulgar essas mesmas mídias e suas atividades. “É o que o Vito escreveu no livro. Para entrarmos na batalha de hegemonia e fazermos a disputa de ideias, temos que lançar mão de todos os meios: a rádio, a TV, a internet e o impresso. Tenho a impressão de que os sindicatos e os movimentos populares deixaram o papel de lado”.
Mas, como ele aprendeu com Vito, só o papel também não adianta, pois ainda há a barreira da linguagem, em um país com tantos analfabetos funcionais. É necessário, portanto, lançar mão de todas as ferramentas disponíveis, mas sempre com a preocupação de comunicar com a classe trabalhadora. Assim será possível verdadeiramente conquistar corações e mentes para a transformação que tanto queremos.