Sombra chavista sobre o Fórum Social Mundial” (O Globo), “Fórum Social não consegue explicar como é financiado” (Folha de S.Paulo), “Oposição critica Chávez por gastos do Fórum” (Estado de S.Paulo).

Quando se trata de Chávez, o Globo consegue ultrapassar seus limites em falta de objetividade e tentativa de manipulação. Os outros dois, os jornais paulistas, embora tenham destacado o que pode ser problema na condução do fórum, deixando de lado a riqueza que é sua realização, pelo menos foram objetivos em suas manchetes arrancadas de uma entrevista coletiva. Aquelas para as quais muitos jornalistas saem da redação com o único objetivo de confirmar suas teses. O Globo foi além: “sombra chavista”. Sombra, sombrio, assustador. O objetivo é esse mesmo: assustar. Botar medo. Medo da favela, medo da dengue, medo da tempestade, medo do comunismo e… medo do Chavez.

Sobre a passeata poucas linhas. Sobre os gastos feitos pelo governo da Venezuela com o FSM, todas as linhas. Já imaginaram esta ira toda em serviço da defesa das riquezas espoliadas dos países da América Latina, entre eles o Brasil? Já imaginaram esta ira usada para informar, como fez Eduardo Galeano “que com o gás boliviano estava sendo repetida uma história antiga de tesouros roubados ao longo de mais de quatro séculos, desde meados do século 16: a prata de Potosí deixou uma montanha vazia, o salitre da costa do Pacífico deixou um mapa sem mar, o estanho de Oruro deixou uma multidão de viúvas?”

Já imaginaram esta ira toda sendo usada para denunciar a criminosa e secular estrutura fundiária brasileira que concentra 90% das terras nas mãos de um punhado de proprietários rurais?

Ou para protestar contra a transmutação, como explica o professor Andrelino  Campos, dos quilombos nas favelas cariocas, onde o branco pobre, o migrante e os negros são submetidos à violência do Estado e de bandos de criminosos? (Do Quilombo à Favela Andrelino Campos. Editora: Bertrand Brasil. R$ 24,90)

Mas isso tudo é bobagem, é detalhe para os grandes jornais. Seria auto-denúncia. Ou não são os proprietários de jornais membros da classe que domina e explora há 500 anos o povo trabalhador brasileiro?

(Por Claudia Santiago)