Publicado em 09.06.11

Os 3.100 metalúrgicos da Volkswagen, em São José dos Pinhais (PR), decidiram durante assembleia, em porta de fábrica na última quarta-feira (08.06), manter a greve pela Participação nos Lucros e Resultados 2011 (PLR 2011). A decisão foi definida logo após o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba passar aos trabalhadores o resultado das reuniões com a montadora: a empresa não apresentou nenhum avanço nas negociações e pediu um prazo até amanhã para apresentar uma proposta.

A nova assembléia, inicialmente marcada para esta quinta-feira (09.06) teve que ser adiada devido à forte chuva e foi transferida para 10.06, às 14h. Desse modo, a greve chega ao 36º dia.  Neste período, 22.150 veículos deixaram de ser produzidos. Segundo a própria montadora, o prejuízo já chega a R$ 1,1 bilhão. A greve já afeta 23 mil trabalhadores entre diretos, terceirizados, fornecedores e distribuidores. A greve na VW do Paraná já é a mais longa da história do estado.

[Com informações do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba]

Entenda porque os Trabalhadores na VW em São José dos Pinhais estão em greve
Por Valdir Freire Dias, Chalita (*)

A greve dos Trabalhadores na VW iniciou-se no dia 05 de maio de 2011.

Aqui o histórico do movimento:

Dia 18 de fevereiro:
Reunião entre Empresa e Sindicato onde a pauta apresentada pela Empresa era flexibilidade: banco de horas e dias adicionais de produção. A reivindicação dos Trabalhadores era: pagamento da 1ª parcela do 13º salário e discussão da tabela salarial.

É assinado um protocolo de entendimentos, onde a Empresa se compromete pagar a parcela do 13º no Carnaval e após as férias coletivas que aconteceu no mês de março, haveria a retomada das discussões sobre flexibilidade. No protocolo não constou nada sobre a tabela salarial, pois os representantes da Empresa disseram que precisariam discutir este assunto junto a Diretoria e por isso solicitaram que não fosse incluído no protocolo. Mas ficou o compromisso verbal de discutir o assunto sem compromisso de fechar acordo. Após as férias coletivas, não foi realizada a reunião para o debater os assuntos pendentes. Ou seja, os assuntos não foram priorizados pelas partes.

Dia 11 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Renault para aprovar encaminhamento de discussão de PLR/2011.

Dia 12 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volks para aprovar encaminhamento de discussão de PLR/2011.

Dia 13 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volvo para aprovar encaminhamento de discussão de PLR/2011.

Dia 25 de abril:
O Sindicato realiza nova assembléia na porta da fábrica onde foi aprovada a reivindicação de 12 mil Reais de PLR/2011. A Volvo apresenta proposta de 5,5 mil Reais de 1ª parcela de PLR/2011.

Dia 26 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volvo e trabalhadores rejeitam a proposta de 5,5 mil Reais de 1ª parcela de PLR/2011 e reivindicam 8 mil reais de 1ª parcela de PLR/2011. Na mesma assembléia aprovam aviso de greve com vencimento no dia 02 de maio.

Dia 28 de abril:
Primeira reunião entre Sindicato e Empresa para discutir o assunto. A Empresa solicitou o prazo até o dia 04 de maio para apresentar proposta. O Sindicato concordou e informou que realizaria uma assembléia no dia seguinte, dia 26 de abril para informar os trabalhadores sobre o andamento e apresentar o aviso de greve para o dia 05 de maio, em caso de não haver acordo sobre o valor. É marcada nova reunião para o dia 04 de maio.

Dia 29 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na fábrica da Volks e é decidido fazer um protesto de 2 horas por turno, em virtude da demora na apresentação de proposta. Decidiram também que no dia 27 de abril, sábado, não haveria trabalho para o 1º turno e no domingo a noite não haveria trabalho para o 3º turno. Reunião entre Sindicato e Empresa Volvo, a empresa insiste na proposta de 5,5 mil Reais de 1ª parcela de PLR/2011.

Dia 29 de abril:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volvo e trabalhadores rejeitam a proposta de 5,5 mil Reais de 1ª parcela de PLR/2011 e reafirma a reivindicação 8 mil reais de 1ª parcela de PLR/2011.

Dia 1º de maio:
A Empresa Renault apresenta a proposta de 12 mil Reais de PLR/2011, sendo 6 mil em maio e 6 mil em janeiro do próximo ano.

Dia 02 de maio:
As 14h, a proposta da Renault é aprovada em assembléia dos trabalhadores. No mesmo horário, na Volks é aprovado em assembléia, o aviso de greve (carta de 48 horas), com vencimento no dia 04 de maio no mesmo horário.
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volvo e trabalhadores rejeitam a proposta de 5,5 mil reais e aprovam a greve por prazo indeterminado.
Em assembléias realizadas pelos respectivos sindicatos, é aprovada a proposta 5,2 mil reais de 1ª parcela de PLR/2011 nas fábricas da Volks no ABC, Taubaté e São Carlos.

Dia 04 de maio:
Audiência de Conciliação no TRT entre Volvo e Sindicato. Fecham acordo de 15 mil reais de PLR/2011, com a 1ª parcela de 7 mil a ser paga no mês de maio e a 2ª parcela em janeiro do próximo ano.
Reunião entre Sindicato e Volks, e a Empresa apresenta a proposta de 4,6 mil reais de 1ª parcela de PLR/2011.

Dia 05 de maio:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volks e trabalhadores rejeitam a proposta de 4,6 mil reais de 1ª parcela de PPR/2011 aprovam a greve por prazo indeterminado.
Os trabalhadores administrativos também rejeitam a proposta e aderem a greve.
O Sindicato realiza assembléia na fábrica da Volvo e trabalhadores aprovam a proposta apresentada no TRT de 15 mil reais de PLR/2011.

Dia 06 de maio:
Os trabalhadores administrativos desistem da greve e retornam ao trabalho.

Dia 09 de maio:
O Presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, concede entrevista ao Jornal Estado de São Paulo com o seguinte título: ‘É melhor parar a fábrica do que pagar o que pedem’.
Audiência de Conciliação no TRT entre Empresa Volks e Sindicato. Empresa insiste na proposta de 4,6 mil reais de 1ª parcela. O valor final seria discutido posteriormente. O Sindicato propõe que a greve seja julgada em forma de arbitragem pelo TRT.

12 de maio:
Reunião entre Sindicato e Volks. A proposta discutida para ser apresentada em assembléia é: 5,2 mil reais de 1ª parcela de PLR/20
11 e compromisso dos trabalhadores em contratar 10 dias adicionais de produção, sendo 7 sábados e 3 feriados. Quanto aos dias de greve, parte já seria descontada no adiantamento quinzenal e o restante descontado no final do mês.

13 de maio:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volks e trabalhadores rejeitam a proposta e aprovam a continuidade da greve por prazo indeterminado.
Audiência de conciliação no Ministério Publico do Trabalho, indicado pelo TRT para fazer a arbitragem da greve. Nesta audiência a Volks não aceita proposta de conciliação e quer que a greve seja julgada de forma arbitrária.

Dia 15 de maio:
A Empresa faz o desconto parcial dos dias de greve. Os trabalhadores ficam mais revoltados com a situação.

Dia 26 de maio:
Sindicato anuncia aos trabalhadores a disponibilidade do fundo de greve a título de empréstimos, uma vez que a empresa informou que efetuará o desconto dos dias parados.

Dias 27, 30 e 31 de maio.
Sindicato e Empresa Volks se reúnem para debater sobre a greve. Discute-se a possibilidade de acordo por 2 anos, de PLR, data base, flexibilidade e tabela salarial.
No final da reunião do dia 31,chega-se a seguinte proposta: 5,2 mil de 1ª parcela de PLR/2011 a ser pago no dia 03 de junho. O valor final será discutido e equiparado junto com as outras plantas do país. 17 dias adicionais de produção, sendo 7 dias neste ano e 10 dias no ano de 2012. Reposição dos valores descontados dos dias de greve e os referidos dias seriam descontados, no máximo dois por mês, de maio de 2011 a fevereiro de 2012. O pagamento da 1ª parcela do 13º de 2012 na sexta feira de carnaval de 2012.

Dia 31 de maio:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volks e trabalhadores rejeitam a proposta acima e aprovam a continuidade da greve por prazo indeterminado.

Dia 01 de junho:
O Sindicato realiza assembléia na porta da fábrica da Volks com os trabalhadores administrativos, expondo a situação, inclusive a proposta rejeitada pelos trabalhadores da produção. O encaminhamento da assembléia foi para que os trabalhadores administrativos também participe da greve, o que não foi aceito por aproximadamente 60% dos trabalhadores, que decidiram continuar trabalhando. Em respeito a maioria, o Sindicato sugeriu que todos os trabalhadores administrativos acatassem a decisão da maioria e continue trabalhando.

Análise
A recusa dos trabalhadores está muito ligada ao fato das diferenças salariais entre as plantas da Volks no Brasil. A Volks usa como referência o que lhe é mais conveniente. Quando se trata de salários, a referência é o Paraná, pois os salários são inferiores aos pagos em São Paulo.

Quando a PLR da região é mais elevada, principalmente a 1ª parcela, a Volks quer que a referência seja as plantas, onde a PLR está condicionada a flexibilidade. O desconto dos dias de greve provocou uma pressão inversa ao que a empresa esperava, da mesma forma que a entrevista do Presidente.
Ao nosso ver, a saída para a situação seria a discussão de uma política de médio prazo para a equiparação dos salários, benefícios, flexibilidades e condições de trabalho entre as diversas plantas do país. Afinal, há tempos reivindicamos estas equiparações.

Quanto a greve ser julgada pelo TRT, ainda não tem data definida para o julgamento. O processo está sob análise do MPT para emitir parecer. Pode ser que entre na pauta do TRT na próxima segunda-feira. Se isso não acontecer, fica para a outra semana.

Para que se tenha uma ideia do que está acontecendo, nas plantas de Taubaté, Anchieta e São Carlos o acordo de PLR está fechado nos seguintes termos: 1º parcela de R$ 5.200,00 e o valor total a ser fechado nos próximos meses.

É posssível acompanhar detalhes da greve no site do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba que é www.simec.com.br . A todo momento eles atualizam as informações.

(*) Chalita é membro do CSE dos Trabalhadores na VW Anchieta e Vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores na VW