Por Katarine Flor e Jéssica Santos
Marcio Pochmann é professor da Unicamp (SP) e presidente do (IPEA). Em evento, em abril, na UFRJ, ele falou sobre a crise mundial e a possibilidade de romper com o modelo em que vivemos até hoje. “Essa é uma crise estrutural, que abala o sistema capitalista e representa o fracasso da política neoliberal. Dificilmente será superada se não houver um novo padrão”, afirmou. Ele disse ainda que não podemos continuar com um modelo de consumo degradante ao meio ambiente. E que é preciso desvincular a idéia de que um bom padrão de vida está vinculado ao consumo.
Marcio Pochmann fala sobre a crise mundial em palestra na UFRJ
Em entrevista ao BoletimNPC, o economista discutiu a pauta dos jornais sindicais, e falou como fortalecer e esclarecer os trabalhadores em momento de crise. “Quanto maior a pressão dos trabalhadores através dos seus sindicados, maiores serão as possibilidades de os efeitos negativos não serem somente transferidos aos trabalhadores”, diz. Confira a entrevista.
Boletim NPC – Sabemos que a crise é real, mas também que as empresas estão usando a crise para demitir e retirar direitos dos trabalhadores. Que informações econômicas a imprensa sindical deve trabalhar para fortalecer os trabalhadores neste momento?
Marcio Pochmann: Necessariamente a defesa do trabalho só pode ser feita por políticas macroeconômicas que defendam a produção e o emprego. Na medida em que o nível de emprego caia, em conseqüência da produção, as condições de negociação e emprego dos trabalhadores tendem a piorar, porque passa haver mais trabalhadores com menos posto de trabalho.
Eu acredito que o papel da imprensa sindical nesse momento seja, em primeiro lugar, apresentar com maior clareza possível a natureza dessa crise. E, ao mesmo tempo, chamar para uma mobilização de enfrentamento. Esta é uma crise de ampla dimensão, e não conjuntural ou cíclica, que será resolvida rapidamente. Quanto maior a pressão dos trabalhadores por meio de seus sindicados, maiores serão as possibilidades dos efeitos negativos não serem tão somente transferidos aos trabalhadores.
Boletim NPC – Como o jornalista sindical deve se preparar para escrever sobre temas econômicos?
Pochmann – Certamente não deve ficar prisioneiro apenas da grande imprensa, já que ela não dá uma visão ampla necessária. O jornalista deve acompanhar notícias da crise em outros informativos alternativos, importantes para a imprensa sindical melhor informar seus trabalhadores.
Boletim NPC – O senhor disse em uma palestra na UFRJ que há um descolamento das lideranças sindicais com a classe trabalhadora. Por que o senhor acredita que isso acontece, e
como isso interfere na luta
dessa classe contra a crise?
Pochmann – O fato concreto é que uma parte importante das pessoas que temos hoje nos sindicatos foi formada quando a base da classe trabalhadora estava no setor urbano industrial. Hoje cresce, sobretudo, a importância dos trabalhadores vinculados às atividades materiais e serviços sociais. Então, em certo sentido, é natural que este deslocamento ocorra em um período de transição como este que estamos vivendo.
Boletim NPC – A imprensa sindical pode ajudar a combater o individualismo e a injustiça social, ou deve se ater aos temas específicos de cada categoria?
Pochmann – Eu acho que os sindicatos hoje devem ter uma visão do todo. É evidente que, sempre que possível, procurem levantar as especificidades e particularidades que existem para a categoria em casos isolados. Mas o ponto de partida é ter uma visão mais ampla possível.
Boletim NPC – Como a imprensa sindical pode ajudar os trabalhadores, tanto do setor público como do privado, a compreender e se preparar para as transformações no mundo do trabalho?
Pochmann – Esse acompanhamento é necessário porque nós temos dificuldades de conseguir melhores informações e dados sobre essa transformação da realidade. No entanto, para mudar a realidade, é preciso conhecê-la. E a maior proximidade da imprensa em relação à realidade dos trabalhadores ajuda não apenas a compreender a visão de um todo, como também a oferecer medidas de enfrentamento.