Publicado por Ed Wilson Araújo em 6 de junho de 2019

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A cobertura jornalística da grande mídia sobre a reforma da Previdência é, na verdade, uma campanha publicitária do modelo de capitalização imposto pelos bancos internacionais. O noticiário tem garoto propaganda (Paulo Guedes) e bordão de R$1 trilhão. Jogando entre visibilidade e silenciamento, a televisão cobre as manifestações em defesa da Educação e esconde as vozes críticas sobre o desmonte da Seguridade Social

Embora seja uma das maiores autoridades em Seguridade Social no Brasil, o senador Paulo Paim (PT-RS) é uma fonte proibida na grande mídia sobre o tema mais agendado atualmente nos meios de comunicação.

Paim presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que ao final dos trabalhos apresentou um substancioso relatório apontando que o déficit na Previdência é resultado de sonegação, fraudes, proteção das empresas devedoras mediante perdão de dívidas e outros mecanismos clientelistas e fisiológicos.

A CPI realizou 26 audiências públicas para debater o tema. Em seu relatório conclusivo, a comissão aponta que empresas privadas devem R$ 450 bilhões à Previdência. O texto de 253 páginas indica várias providências visando o equilíbrio do sistema previdenciário brasileiro, propõe emendas à Constituição Federal e projetos de lei com o objetivo de combater as fraudes e estabelecer mais rigor na cobrança dos grandes devedores.

Os caloteiros estão entre os principais responsáveis pelo rombo na Previdência. Essa tese é sustentada inclusive pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e corroborada por auditores fiscais reconhecidos, professores universitários e organizações como a Auditoria Cidadã da Dívida.

Todo esse conjunto de fatos e provas foi completamente ignorado pelo noticiário nacional das grandes redes de televisão no Brasil.

A censura explícita dos meios de comunicação à CPI da Previdência e aos seus resultados é uma das faces da ditadura da mídia no Brasil, que impõe a agenda ultraliberal como pensamento único manifestado nas manchetes e em todo o conteúdo das reportagens.

Todo o noticiário massifica o mantra da “Nova Previdência” como solução mágica para um suposto colapso no sistema previdenciário. O tratamento dos fatos enquadra o ministro da Economia Paulo Guedes como arauto da única, imprescindível e urgente reforma para salvar o país da crise econômica.

Agente do capital internacional, Guedes chantageia diariamente a população brasileira com a proposta da reforma. Para ele, a “Nova Previdência” é condição sine qua non para salvar o Brasil.

Esse mantra repetido meses a fio em todos os noticiários televisivos força e impõe uma corrente majoritária de opinião que transforma todos em reféns de um discurso único, homologado pelos meios de comunicação e assimilado na maioria da população.

Isso não é jornalismo, é campanha publicitária explícita, patrocinada pelos anunciantes do capital internacional que financiam a grande mídia para impor uma versão sem contradições.

Nos diversos programas do canal exclusivo da GloboNews a campanha publicitária pela reforma da Previdência é acintosa. Especialistas do mercado financeiro, consultores internacionais, empresários, parlamentares e lobistas dos banqueiros são permanentemente acionados para conceder entrevistas e repetir o mantra de Paulo Guedes.

Todos os dias o enredo é o mesmo: a reforma da Previdência tem de ser feita sob pena de o Brasil entrar em colapso.

O contraditório nunca entra no circuito da produção da notícia. Nenhuma voz dissonante é ouvida, as críticas são impedidas de se manifestar, os dados refutando Paulo Guedes jamais serão apresentados na tela da TV.

E assim a mídia segue de maneira ditatorial, sonegando informações essenciais para a audiência analisar e julgar o tema posto em evidência no noticiário.

A campanha pela reforma da Previdência precisa ser entendida como algo estratégico no campo da comunicação. Envolve um exército de “especialistas”, uma gigantesca rede de dispositivos de enunciação, uma tropa de elite do mercado financeiro e um séquitos de ventríloquos para repetir o mantra de Paulo Guedes – sem a reforma, o Brasil quebra!

Tudo isso posto sem uma notícia, mínima que seja, sobre os resultados da CPI da Previdência. Nunca, em momento algum, o senador Paulo Paim concedeu qualquer entrevista nos telejornais da Globo para refutar os argumentos do regime de capitalização.

Por outro lado, discretamente, a Globo cobra do governo federal a fatura dos banqueiros: a reforma é uma imposição, obrigatoriedade, urgência urgentíssima.

Se Bolsonaro não acelera e paga a fatura, se ele não passa o trator para atender urgente os interesses do capital rentista, é acionado pela cobertura dos protestos em defesa da Educação.

Detalhe: nesses protestos as centrais sindicais, professores, estudantes e movimentos sociais se posicionam contrários à reforma da Previdência.

O que faz a Globo?

Recorta, seleciona e agenda somente o que interessa – os protestos contra os cortes na Educação. De tabela, pressiona Bolsonaro e manda recado: o governo tem de aprovar a reforma.

É uma velha tática com novas cenas e outros atores, mas sempre estrelando o interesse do capital.

Algo muito grave pode ocorrer no Brasil com o apoio da burguesia radiodifusora – o desmonte da Seguridade Social e a sua exclusão da Constituição Federal. Tem um recheio criminoso nesse pacote. Vai matar as esperanças dos jovens e deixar míngua os idosos, na maioria pobres.