Como a sra. vê o campo da comunicação, considerando as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação ?
Acredito que o campo da comunicação passa por uma significativa ampliação de pesquisadores e centros de pesquisa. Também temos hoje um volume significativo de investimento na área pelas agências de fomento, abaixo, evidentemente das áreas tradicionais, mais ainda um volume maior de verbas. Existe uma quantidade considerável de participações em eventos da área; há certamente um número de títulos disponíveis infinitamente maior que 30 anos atrás. Entretanto, eu não tenho certeza se temos conseguido gerar conhecimento. Eu não tenho certeza se temos minimamente interferido nas instâncias decisórias no que tange à comunicação. Eu não tenho certeza se temos conseguido resolver as questões que estavam colocadas para nós há 30 anos. Eu não tenho certeza se temos sido inventivos. Tenho um palpite que não estamos produzindo conhecimento e não resolvemos as questões de 30 anos e, menos ainda, trouxemos questões novas em função do baixo índice dialógico da área, pelo autismo com que nos comportamos com relação às pesquisas realizadas no nosso coletivo. Cada um de nós surge sempre, num espaço médio de três anos, com uma nova pesquisa, bastante criativa, de ponta e que não faz sequer menção aos trabalhos dos colegas que empreenderam algum estudo, para não dizer dos especialistas na temática. Ficamos, por esta razão, é o meu palpite, andando em círculos, numa preocupação apenas vernacular – já que a investigação fica centrada na escolha de novos nomes, para evitar exatamente a suposição de continuidade.
Como a questão da comunicação comunitária pode ser entendida, a partir desse novo contexto?
Identicamente igual a de todo o restante da área como falei acima. Temos hoje um número considerável de pesquisadores trabalhando com a temática diretamente e um número imensamente maior que optam por nomear de maneira diferente o mesmo objeto, as mesmas estratégias, os mesmos objetivos e propósitos. Hoje, é praticamente impossível que um pesquisador da área não se preocupe com a questão que é gritante em nosso país: a da exclusão social/racial/emocional/política etc. Mas o imperativo de colocar uma nova roupagem é maior que a preocupação em produzir um pensamento forte, inventivo, criativo e capaz de intervenção no contexto atual. Enfim, vamos todos adiante, cada qual com o seu mundinho.
De que modo a sra. analisa o ensino dos cursos de jornalismo no Brasil?
O jornalismo chegou a um momento de profundo questionamento no país e no mundo todo. Em função do aspecto que foi assumindo (espetacularizado, distante dos seus propósitos ideais de informar para conscientizar) também os cursos foram afetados. A campanha e a decisão pelo final do diploma foi o próprio “chutar cachorro morto”. Os cursos já passavam por um momento de crise identitária. Agora, estamos todos numa encruzilhada. Um momento de crise é produtivo porque se trata de um momento decisório. Estamos diante de duas alternativas. Eles vão se recuperar e vão ficar mais fortes, sólidos e criativos ou vão fenecer definitivamente. Aposto na primeira opção. Torço por ela e trabalharei por ela se for preciso. Acredito na importância vital do jornalismo para a sociedade e acho que para tal especificidade da tarefa é fundamental termos cursos fortes e proativos.
Quais as contribuições que o 19º Encontro, na PUC-Rio, pode trazer para a sua área de atuação?
Acho que a contribuição maior é o fato de ser na cidade maravilhosa, terrivelmente maravilhosa, imensamente expressiva de todos os problemas do país. Além de geradora das mais expressivas produções midiáticas. Acho que haver eventos de comunicação no Rio é necessário, principalmente quando se pode dialogar com as instâncias produtivas. E o fato de ser a PUC-Rio a sediar o evento é mesmo um motivo de júbilo. Além de possuir instalações adequadas, tem um corpo de professores competentes e ativos, inclusive no mercado de trabalho, e um curso de pós-graduação jovem, apesar da graduação já ter alcançado a maturidade. Por este conjunto de constelações, acredito que o evento será um sucesso. Imperdível mesmo! Para a área especificamente, acredito que como é um momento de reclivagem e também de certa madurez da entidade as novas temáticas e os pesquisadores que se agruparam em torno delas serão tocados por este ambiente paradoxal que é o Rio de Janeiro: tão naturalmente belo e tão intensamente cruel. Oxalá as novas propostas de GTs sejam resvaladas pelas emergências da nossa sociedade brasileira, em sintonia com as realidades regionais e territoriais e super ventiladas pelas pesquisas que estão rondando o planeta. E a PUC-Rio tem o ambiente para esta semente germinar.
Entrevista publica no site do 19° Encontro Anual Compós
http://compos.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm