julho negro
[Por Gizele Martins] ‘Se eles internacionalizam a militarização, o racismo e o aparthed, nós internacionalizaremos a luta contra a militarização, o racismo e o apartheid”, foi o tema do ‘3º Julho Negro’ realizado entre os dias 23 a 27 de julho pelas favelas e periferias do Rio de Janeiro. Evento organizado há três anos por mães, familiares e grupos que pertencem ao movimentos de favelas do Rio e que tem o objetivo de dar visibilidade às violações de direitos que ocorrem dentro dos espaços empobrecidos da cidade. Este ano, mais de mil pessoas passaram pelas atividades e também contou com a presença de mais de 50 lideranças dos mais diversos movimentos sociais de diferentes países do sul global, mais a Palestina, todos países que sofrem com a militarização, o racismo e o apartheid.

O primeiro dia foi marcado por uma missa e caminhada em lembrança aos 25 anos da chacina da candelária. Na terça, dia 24, mães, familiares de vítimas e grupos que formam o movimentos de favelas visitaram o Assentamento Terra Prometida do MST, em Nova Iguaçu. O interesse desta atividade foi a de conhecer de perto a realidade dos assentados e trocar experiências entre campo e cidade, a ideia é aproximar as pautas e a luta.

Já no dia 25, rodas de conversas sobre o impacto da saúde do corpo, além de uma roda de conversa sobre o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha também foi realizado no Museu da Maré. Nesta atividade, dedicada às mulheres negras, indígenas e palestinas, depoimentos sobre o impacto da colonização nos corpos das mulheres, em seus países, foram colocados.

Dia 26, houve visita na primeira favela, o Morro da Providência, além de exibição de filmes sobre temas como auto de resistência, chacinas, militarização e racismo foram debatidos junto aos moradores da Favela do Alemão. Um dos exemplos de como a favela do Alemão sofre com a militarização, é que durante a roda de conversas e a exibição de filmes, drones estavam espalhados pela favela, sem contar, que aquela é uma das 38 favelas invadidas pela Unidade de Polícia Pacificadora, as UPPs. Além disso, nos últimos anos, é ali que policiais passaram a expulsar moradores de suas casas para tornar estas casas bases das polícias, algo completamente contra as leis e a democracia.

Dia 27 foi o dia mais impactante com a realização da Audiência Popular. Neste evento realizado na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, no centro do Rio, mais de 20 pessoas de diferentes países da América Latina, assim como Palestinos, Índia e Sul Africanos puderam falar e denunciar as violações racistas e militarizadas em suas vidas. Todas as falas colocaram que é preciso que se lute contra as feiras de armas que há anos, por exemplo, vem sendo realizada no Rio de Janeiro. Além disso, muitos colocaram que as armas treinadas pelo Estado israelense nas vidas palestinas, são as armas mais vendidas no mundo. Sendo o Brasil, um dos grandes compradores de armas e de treinamentos de guerra de Israel. Por isso, é preciso lutar pelo boicote à Israel, apoiando o movimento BDS. Pois para ter uma América Latina e países do Sul global livres, a Palestina precisar ser livre.

Transversalizar e internacionalizar as pautas foram os objetivos deste 3º Julho Negro, pois além de discutir o racismo nos diferentes países e povos, foi debatido ainda as formas de opressões, de colonização e de militarização que os Estados causam às mulheres nos diferentes países que sofreram ou que ainda sofrem com o processo de colonização.

E, para terminar, Shahaf Wesbein, israelense que no reconhecimento dos seus privilégios no seu espaço de moradia, participa de movimentos que lutam pela liberdade de mulheres palestinas e israelenses, afirmou que a situação de Gaza, por exemplo, é muito preocupante e que isto não é diferente de muitos outros países, sendo que lá a intensidade das violações cometidas por Israel é tamanha, ainda mais quando se trata de direito das mulheres, “elas não recebem materiais de higiene, pois o exército israelense não deixa entrar. Elas não têm casa, não tem água. As palestinas e palestinos que vivem em Gaza só tem energia por duas horas por dia. É um verdadeiro apartheid. Eles treinam nas vidas palestinas as suas armas para que elas sejam vendidas no mundo, e o Brasil é um dos grandes compradores. Nós mulheres, movimentos sociais de todo o mundo precisamos olhar por Gaza e por todas as outras mulheres que sofrem isso em qualquer parte do mundo”, finalizou Shahaf com seu depoimento em um dos eventos do Julho Negro. Palestina livre! Favela vive!