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Foto: Agência Brasil

Julgamento, em Belo Horizonte, é marcado pela tímida cobertura da imprensa mineira e quase nenhuma repercussão na mídia nacional

Por Gil Carlos, jornalista do Sitraemg

Em julgamento na Justiça Federal de 1º grau, em Belo Horizonte, que começou na manhã da terça-feira (27/08) e terminou somente na madrugada de sábado (31/08), Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e William Gomes de Miranda, acusados pelo Ministério Público Federal pela execução dos auditores fiscais do Ministério Público do Trabalho Nelson José da Silva, Eratóstenes de Almeida e João Batista, e o motorista Aílton Pereira de Oliveira, em 2004, no município de Unaí (MG), no crime que tornou-se conhecido como Chacina de Unaí, foram condenados, somadas as três sentenças, a 226 anos de prisão.

Erinaldo, único entre os três que admitiu ter participado dos disparos contra os servidores públicos, foi condenado a 76 anos e 20 dias de reclusão e 130 dias de multa, por quatro homicídios triplamente qualificados e por formação de quadrilha.  Rogério Alan pegou 94 anos de prisão, pelos mesmos crimes, e William 56 anos, por homicídio triplamente qualificado.

Depois de vários adiamentos, esses foram os três primeiros julgados, dos nove acusados pelo MPF. O julgamento de outros quatro envolvidos está marcado para o dia 17 de setembro: o produtor rural Norberto Mânica, conhecido como “Rei do Feijão”, como mandante; José Alberto de Carvalho, Humberto dos Santos e Hugo Alves Pimenta, como intermediários. Também apontado pelo MPF como mandante, Antério Mânica, irmão de Norberto, igualmente produtor rural e que, depois da Chacina, foi prefeito de Unaí por dois mandatos, não tem data para ser julgado.  Francisco Elder Pinheiro, que seria o nono entre os acusados pelo MPF, morreu em 7 de janeiro deste ano.

Desinteresse da mídia

Os crimes aconteceram na zona rural do município de Unaí (MG), no dia 27 de janeiro de 2004. Os funcionários do Ministério do Trabalho foram vítimas de uma emboscada enquanto investigavam denúncia de trabalho escravo em fazendas da região.

O fato lamentável do julgamento da semana passada foi a tímida cobertura da imprensa. Apenas veículos do estado acompanharam o dia a dia dos trabalhos no Tribunal do Júri da Justiça Federal. Mesmo assim, apesar da barbaridade dos crimes, sem o aparato dado – sobretudo pela TV Globo – aos julgamentos, por exemplo, do ex-goleiro Bruno Fernandes e demais envolvidos no assassinato de Eliza Samúdio, e do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de terem matado a menina Izabella Nardoni.

Essa é mais uma prova de que a mídia brasileira está muito mais interessada no espetáculo, mas abre mão desse filão de audiência quando se trata de julgamento de crimes cometidos por figurões do agronegócio e contra os trabalhadores.

Isso possibilita ainda mais a morosidade da Justiça em relação a crimes cometidos contra os trabalhadores. No dia 21 de agosto, por exemplo, foi adiado, pela terceira vez, o julgamento do fazendeiro Adriano Chafi, principal acusado do chamado Massacre de Felizburgo, ocorrido em novembro de 2004, quando capangas, a mando do latifundiário, assassinaram, sem qualquer possibilidade de defesa, cinco trabalhadores rurais sem terra no acampamento Terra Prometida, em Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, também no interior de Minas.