[Por Claudia Santiago Giannotti] O Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) lançou no dia 24 de julho, no Espaço Gramsci, no Rio de Janeiro, o livro “Da organização pela base à institucionalização – Associações de Trabalhadores: o resgate de uma experiência classista”, da socióloga Giuseppina de Grazia. O livro tem prefácio de Vito Giannotti e apresentação de Ricardo Antunes e Claudia Santiago Giannotti. Além de recuperar momentos importantes da história geral das lutas dos trabalhadores no Brasil, o trabalho de Giuseppina joga luz sobre experiências de organização popular que ocorreram na cidade de São Paulo das décadas de 1970 e 1980.
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BoletimNPC – Por que você escreveu esse livro?
Giuseppina de Grazia – A intenção foi resgatar e registrar um período importante na história das lutas dos trabalhadores no Brasil. No final dos anos 1970, quando todas as aparências indicavam que a ditadura militar havia conseguido exterminar qualquer resquício de lutas sociais e movimentos organizados, a explosão de greves gigantescas e de uma multiplicidade de movimentos populares nos bairros era totalmente impensável. Mas eles aconteceram.
A reconstituição de uma parcela dessa movimentação permite perceber o quadro mais geral de ressurgimento de lutas e conquistas a partir de um processo ativo de auto-organização e engajamento da classe trabalhadora.
O livro trata das oposições sindicais, especificamente da Oposição Metalúrgica de São Paulo, e da criação de Associações de Trabalhadores a partir das greves dos metalúrgicos da capital em 1978 e 1979. A reconstrução das lutas dos trabalhadores foi uma das características que marcaram o final dos anos 1970 e a década seguinte.
BoletimNPC – Por que esse livro tem importância hoje?
Giuseppina de Grazia – Nos dias atuais, frente a uma nova catástrofe vivenciada pela maioria da população cuja sobrevivência depende de seu próprio trabalho, diante das decepções e esperanças frustradas, mais do que nunca é importante voltar à história recente e recuperar o percurso realizado nestas últimas décadas. Não para repetir experiências do passado, mas para extrair as lições, erros e acertos que possam iluminar os rumos do presente.
Examinando aquele período, uma das características que mais chama a atenção é o fato de que, além da conjuntura econômica e política que “empurrou” as classes populares a reagir contra os baixos salários, contra a carestia, a falta de condições e serviços públicos nas periferias, etc, não foi nenhum “milagre” que provocou a reação maciça e sobretudo organizada de uma significativa parcela da população.
O difícil “refazer-se” enquanto classe, assumindo diretamente em suas mãos a luta por melhores condições de vida e trabalho – lembrado por diversos autores como a característica principal daquele período – foi em grande parte construído lenta e pacientemente durante os anos de chumbo através dos inúmeros grupos de discussão e reflexão nas igrejas, nas fábricas, nos bairros, cursos de madureza, etc, por militantes que, a partir de uma visão dialética, acreditavam na transformação da realidade.
A CUT e o PT – construídos nos anos 1980 como corolário daquelas lutas – cumpriram o importante papel na unificação dos diversos movimentos até então muito fragmentados. Porém, das sempre repetidas intenções e promessas de garantir a continuidade da “organização pela base” nos locais de trabalho e moradia, paralelamente às lutas institucionais, a ação política acabou “sugada” quase que exclusivamente, com poucas exceções, pelos modelos tradicionais de fazer política.
Rever os objetivos, métodos e práticas do período anterior, talvez possa nos lembrar que só uma potente e ampla organização popular seria capaz de dar o suporte necessário para que as demais esferas da ação política sejam fortes o suficiente para se contrapor à sanha e artimanhas do capital e seus comparsas.
BoletimNPC – Quem são as pessoas que não podem deixar de ler esse livro?
Giuseppina de Grazia – Em princípio jovens interessados em construir uma sociedade igualitária, e antigos militantes que lutaram por esse sonho, e hoje, apesar das profundas frustrações, continuam a acreditar na dialética histórica e nas futuras gerações.
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SERVIÇO
Da organização pela base à institucionalização
260 páginas
CONTRIBUIÇÃO: R$30,00 + frete
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