O professor Rômulo Morais lança hoje (12), a partir das 18h, o livro “O extermínio da juventude negra” na Livraria Ifá, bairro do Marco, em Belém, com uma roda de conversa sobre a temática. A entrada é gratuita. A publicação busca compreender o grande número de mortos em decorrência dos chamados “homicídios”, que entre 1998 e 2017 resultou em mais de 1 milhão de cadáveres. A capa traz imagem da pintura do artista paraense Eder Oliveira, que também aborda em sua produção artística a temática do livro.
De acordo com o autor, a análise procura se esquivar das explicações simples e foca na complexidade de dados estatísticos que revelam que há um número extremamente grande de pessoas da mesma extração social, faixa etária e etnia entre as vítimas.
“A juventude negra, ou quase negra, de tão pobre, tem feito parte de mais da metade desse assombroso número de mortos. A partir desse contexto, busquei problematizar essa questão apontando para uma complexa prática de extermínio contra esse segmento da população. A parte mais visível dessa prática de extermínio pode ser constatada na atuação do sistema penal, principalmente na intensa criminalização da juventude no atual estágio do neoliberalismo”, destaca o professor.
Morais também afirma que não há extermínio sem a construção de discursos que tornem legítima a prática de exterminação de uma parcela da sociedade. Por isso, a pesquisa que deu origem ao livro, em sua dissertação de mestrado na Universidade Federal do Pará (UFPA), analisa ainda as estratégias discursivas em torno da vida da juventude periférica brasileira, com aportes teóricos da criminologia crítica e as abordagens sobre o biopoder.
“Uma de nossas principais hipóteses é que essa grande quantidade de cadáveres não representa apenas o resultado de um somatório de acontecimentos fortuitos e isolados, mas parte de um permanente processo de criminalização e extermínio da juventude negra condicionado por uma ‘linguagem mortífera’ nos processos judiciais”, explica Rômulo Morais.
Outra parte da obra trata a questão do racismo para ir além do caráter classista do sistema penal brasileiro e compreender o recorte de raça ou o recorte étnico/racial como um dispositivo estrutural da sociedade. O autor explica que o racismo sustenta a produção de mortes em massa, como a prática de apagamento físico.
Vera Malaguti Batista, professora de Criminologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) destaca no prefácio que o livro faz um paralelo sobre como os massacres históricos não superados voltam como fantasmas para assombrar o nosso presente. “O Estado do Grão-Pará foi palco de um dos maiores massacres populares na história do Brasil, no século XIX: a repressão à insurreição dos cabanos que buscava, como tantos outros movimentos, o protagonismo do povo brasileiro nas ilusões republicanas”, lembra.